Urubus dividem espaço com moradores de edifícios em Novo Hamburgo
2006-08-09
O acúmulo de lixo em rios e terrenos baldios, além da imponente
presença de edifícios em lugares altos, são alguns dos atrativos para
que urubus freqüentem, cada vez mais, as áreas urbanas. A falta de
estudos específicos sobre ecologia urbana não permite que especialistas
precisem os motivos do novo comportamento destes animais, que já não
são mais raros em sacadas e janelas de apartamentos de Novo Hamburgo.
Apesar da má aparência e do mau cheiro, o urubu não ataca seres humanos
e trata-se de uma ave de extrema importância na natureza. O professor
de Biologia da Unisinos Martin Sander explica que, para os urubus, a
estrutura de concreto é considerada uma grande montanha. “Lá de cima,
eles têm uma visão privilegiada dos seus possíveis predadores e de suas
caças”, diz.
Apesar da importância ao meio ambiente, a visita de um deles na janela
de uma residência em plena madrugada não é bem-vinda. É o caso de uma
moradora do quinto andar do prédio localizado na Rua João Antônio da
Silveira, esquina com a Rua Heller, no Centro. Uma consultora de
negócios de 28 anos, que pediu para não ser identificada, revelou
ontem (08/08) que nesta semana acordou às 4 horas da madrugada por
causa do insistente barulho das aves. “Ouvi batidas fortes no vidro da
sacada. Fui até lá e tive que bater também no vidro a fim de
espantá-los”, lembrou a moradora.
Ela acrescentou que nunca pensou em maltratar os urubus, mas a sujeira
deixada por eles já causa preocupação. “As fezes e urina têm cheiro
muito forte. O que nos preocupa é que eles já invadiram alguns
apartamentos. Eu já nem abro mais as portas das sacadas”, frisou a
consultora. O zelador de um dos prédios do bairro, Valmir Pipper, 35
anos, revelou que já viu oito urubus sobrevoando o local. “Acredito
que eles estejam procurando lugares para fazer ninhos.”
SOBREVIVÊNCIA - O professor Martin Sander diz que a presença dos urubus
na cidade não é decorrência de desmatamentos. “Trata-se de uma questão
de sobrevivência. Pelo motivo de não serem caçadores, os urubus são
considerados oportunistas. Nos matos, encontram um boi morto a cada 30
ou 60 dias. Na cidade, encontram locais de fácil acesso aos alimentos.
Em riachos, bueiros e terrenos baldios, devoram restos de alimentos e
bichos mortos em abundância.”
Sander mencionou que eles escolhem as áreas urbanas, pois atendem a
três necessidades básicas da sua sobrevivência: bons lugares para
comer, para pousar e para se reproduzir. O biólogo destacou ainda que
os altos prédios são considerados locais de boa visibilidade. Ele
explicou que a cidade produz ar bem mais quente que o das matas. “O
concreto e o asfalto produzem ondas de calor, preciosas para que os
urubus alcancem grandes alturas para planar, como ocorre com a
asa-delta,” Sander salientou que os urubus não são inimigos do homem
e que a chance de transmissão de doenças aumenta caso as aves também
estejam doentes. Mas, enquanto estiverem passando pelo período de
reprodução (que pode durar até 90 dias), ficarão na cidade, considerado
um lugar seguro.
Animal é protegido por lei
O Instituto Ciência Hoje (ICH), organização social de interesse
público vinculada à Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), recomenda que quem encontrar um urubu em lugar inesperado deve
entrar em contato com a Secretaria de Meio Ambiente do município. O
site do instituto adverte ainda que animais como o urubu, por exemplo,
são protegidos por lei. O texto publicado alerta também que estes
bichos desempenham um importante papel na natureza.
A reportagem do Jornal NH seguiu a orientação do Instituto Ciência Hoje
e entrou em contato com a Secretaria de Meio Ambiente hamburguense. O
biólogo Evandro César Bergel revelou que não serão atendidas
solicitações de retirada dos animais. “Podemos apenas aconselhar as
pessoas sobre certos procedimentos a serem tomados”, frisou Bergel.
Ele observou que se houver ninho, é recomendável deixar os bichos no
local até que seja concluído o processo de reprodução. Caso não haja
ninho, uma das maneiras de espantar os urubus é lavar os locais onde
eles costumam pousar, pois, segundo o biólogo, o cheiro dos produtos
químicos irá espantá-los. “Outra alternativa é a colocação de redes de
proteção em sacadas e janelas a fim de evitar o pouso dos animais”,
orientou Bergel. Conforme a Fundação Parque Ecológico de São Paulo, os
urubus são responsáveis pela eliminação de 95% das carcaças dispostas
em um ecossistema, sendo a maioria delas de mamíferos.
(Jornal NH,
09/08/2006)
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