Municípios gaúchos reclamam de dificuldades no licenciamento local
2006-08-08
A experiência gaúcha no processo de descentralização na gestão ambiental é tida como exemplo para o país. Dos 202 municípios que assumiram o licenciamento local,
135 são do Rio Grande.
Mas, para muitas secretarias municipais, trabalhar com o meio ambiente não tem sido tarefa fácil. Passados três anos e meio do boom do processo de municipalização, as reclamações são variadas. Vão da falta de consciência ambiental da população e o orçamento apertado das prefeituras até a má vontade dos colegas das outras pastas em integrar políticas ambientais nas suas áreas de atuação.
“Não adianta um secretário conhecer a legislação e saber por onde agir, se ele não consegue convencer os demais secretariados, e o prefeito, a agir com base nas políticas de meio ambiente”, afirma Ester Fabrin, secretária de Proteção Ambiental em Santa Maria.
Embora a secretaria exista há mais de três anos e conte com um conselho
municipal de Meio Ambiente, Santa Maria ainda tem dificuldade para implementar políticas ambientais. Ester destaca que outro problema é a carência de recursos que os municípios enfrentam. “Não há verba para contratar técnicos. O licenciamento acaba sendo feito, em sua maior parte, por funcionários em cargos de comissão”, admite.
A competência municipal pelo licenciamento ambiental está limitada às atividades e empreendimentos de impacto ambiental local e àquelas delegadas por convênio firmado com os órgãos ambientais. As prefeituras, além de conceder as licenças, são responsáveis por ações nas áreas de educação, gestão dos resíduos sólidos e das reservas florestais, e preservação de recursos hídricos.
Embora a descentralização alcance 75% da população gaúcha, 330 municípios
ainda não estão habilitados a licenciar. Segundo dados da Fundação Estadual
de Proteção Ambiental Henrique Luis Roessler (Fepam), essa porcentagem pode
passar para até 85% nos próximos seis meses, com a incorporação de 60 novas
prefeituras.
A gestão para os municípios pequenos
A queixa de Ester é compartilhada especialmente pelos secretários ambientais de
municípios de até 20 mil habitantes. Como São Francisco de Assis e Sete de
Setembro, cujos representantes estiveram presentes no 10º Encontro de
Dirigentes Municipais de Meio Ambiente, em Porto Alegre.
Para Isabel Cristina Minussi, secretária de Agricultura e Meio Ambiente de
São Francisco de Assis, a dificuldade no repasse de verbas para a pasta e o
tráfico de influência política assustam os dirigentes. “É um custo a mais
para a prefeitura. Eu não vou conseguir gestionar com apenas um técnico e um
carro, preciso de uma equipe”, reclama.
“24% dos municípios estão habilitados. Os outros não estão por que não querem?
Não, todo mundo quer, mas existe a barreira financeira”, afirma.
Embora as taxas cobradas pelo município para a
emissão das licenças tornem, na maioria dos casos, a estrutura montada
auto-sustentável ao longo do tempo, as prefeituras não recebem nenhum tipo
de ajuda financeira para montar a equipe e o arcabouço necessário ao
licenciamento.
O município de São Francisco de Assis, cuja economia é baseada na lavoura de
arroz irrigada, está encaminhando o processo para se habilitar à gestão
descentralizada. “Infelizmente reconheço que me sinto muito mais secretária
de Agricultura, porque trabalhar a pasta num município pequeno não é fácil -
requer uma vontade muito grande de enfrentar a politicagem. Se você nega uma
licença a um empreendimento de algum parceiro político, como fica?”,
desabafa a secretária.
O secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município de Sete de
Setembro, Alceu Costa, concorda que o tráfico de influência política
representa uma barreira “muito grande” para o licenciamento. “Somos vistos
como sujeitos emperradores das obras da prefeitura”, lamenta. O município,
de economia eminentemente agrícola, está aguardando a aprovação do Conselho
Estadual de Meio Ambiente (Consema) para dar início ao gestionamento.
Por Ana Luiza Vieira, 07/08/2006