Fazendeira denuncia grilagem de terras
2006-08-08
Preocupada com as ameaças de morte que vem sofrendo, a fazendeira Maria Adélia Rualdes reuniu a imprensa no último sábado para denunciar a grilagem de terras e exploração irregular de madeira, na fazenda Dom Pedro, de sua propriedade, localizada em Pacajá, na Mesorregião Sudoeste Paraense. Segundo ela, as terras foram tomadas por grileiros, que já devastaram uma área de aproximadamente mil hectares e recentemente foi descoberta a prática de trabalho escravo na fazenda.
Durante a entrevista, Maria Adélia esteve acompanhada de dois de seus advogados. Ela relatou que a fazenda, de 1.188 hectares, foi indevidamente desapropriada pelo cartorário do município, que teria falsificado uma liminar expedida pelo juiz Antônio Cláudio da Cruz, titular da Comarca de Igarapé-Mirim. A liminar que cancelava os títulos de propriedade das fazendas Santa Maria, Rio Doce e Guanabara, localizadas em Igarapé-Mirim, e que estavam no nome de Manuel Francisco da Paz, teria sido grosseiramente fraudada pelo cartorário, em favor de um empresário, que segundo Maria Adélia, exerce grande influência econômica na região.
O advogado Everaldo Reguchi contou que o empresário garante que aquela área foi transformada em uma Reserva de Preservação Ambiental, e que foi inclusive, licenciada pelo Ibama. “É mentira. Nós descobrimos que realmente existe uma proposta de reserva ambiental, ma que não foi aprovada pelo Ibama”, afirma Reguchi. Esta seria uma estratégia para esconder a exploração ilegal de madeira na fazenda.
Maria Adélia relata que a partir das denúncias que fez, começou a ser ameaçada de morte. As ameaças foram registradas em boletim de ocorrência, e mesmo com comprovações do crime, ela informou que o inquérito não foi instaurado.
A fim de retomar a posse da fazenda Dom Pedro, os advogados da fazendeira entraram com ação de reintegração de posse, junto à Vara Agrária de Altamira. Tramita também uma ação de retificação de registro público, na Comarca de Pacajá, e um procedimento extrajudicial contra o cartório daquele município, que tramita na Corregedoria do Interior, no Tribunal de Justiça do Estado (TJE).
Trabalho escravo
A fazendeira denunciou ainda que, durante investida do Batalhão de Polícia Ambiental, em parceria com o Ibama, na primeira quinzena do mês de julho, dois trabalhadores foram resgatados, afirmando estarem sob regime de trabalho escravo na Fazenda Dom Pedro. Um deles, José dos Santos Farias da Silva, presente na coletiva, relatou que ele e mais um amigo foram contratados por um homem chamado Jonas para derrubar árvores. Eles trabalhavam cerca de 10 horas por dia e não eram pagos. “Nós dormíamos em um barracão no meio da mata, e a comida que nos davam era muito ruim e pouca. Às vezes era carne apodrecida”, relatou o trabalhador, que após fazer uma ocorrência em Tucuruí, veio para Belém, temendo retaliações.
(Diário do Pará, 07/08/2006)
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