Adoção de ônibus elétricos híbridos ajudaria a reduzir os níveis de poluição
2006-08-08
A tecnologia dos veículos elétricos no transporte público utilizada em outros países tem demonstrado uma redução significativa nos níveis de poluição, diminuindo o custo dos governos com a saúde pública. Os estudos sobre o impacto da poluição em grandes centros urbanos brasileiros, desenvolvidos pelo Laboratório de Poluição da Universidade de São Paulo (USP) serão apresentados no VE 2006 - 4° Seminário e Exposição de Veículos Elétricos que o INEE - Instituto Nacional de Eficiência Energética realiza nos dias 15 e 16 de agosto, na Escola SENAI Mário Amato – Faculdade SENAI de Tecnologia Ambiental (av. José Odorizzi, 1555), em São Bernardo do Campo (SP).
Segundo o pesquisador e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e chefe do Laboratório de Poluição, Paulo Hilário Nascimento Saldiva - que participará do módulo sobre VE e Meio Ambiente - os governos pagam um custo muito alto na saúde pública com o tratamento de doenças relacionadas à poluição. Ele cita como exemplo os Estados Unidos decidiram ser mais exigentes com a questão do meio ambiente, inclusive adotando ônibus elétricos no transporte público de Nova York, por uma simples matemática financeira. "Para cada dólar gasto com poluição, eles ganham oito dólares em saúde", afirma o pesquisador.
De acordo com os estudos sobre a poluição do ar na capital paulista e o impacto sobre a saúde da população, nos dias de maior poluição, quem mora em São Paulo tem um quadro clínico de inflamação pulmonar (um fechamento pequeno das artérias que podem levar ao aumento da pressão arterial – hipertensão).
A maior parte das pessoas atingidas por este quadro não sente nada, mas durante décadas isso levará a um efeito maior com a redução da expectativa de vida. Na capital paulista, de acordo com o professor, há uma redução em média de um ano e meio na expectativa de vida. Outro dado preocupante é o número de mortes por doenças agravadas pela poluição. Saldiva afirma que em São Paulo morrem nove pessoas por dia, vítimas da poluição, o que representa entre 5% a 10% do número de óbitos da capital paulista.
Os estudos desenvolvidos no Laboratório paulista indicam que os grandes problemas em São Paulo e nos grandes centros urbanos do mundo são o ozônio e o material particulado, sendo que, respectivamente, 80% e 40% dos precursores desses dos dois poluentes derivam da frota de veículos a diesel.
A Organização Mundial de Saúde preconiza como limite para a qualidade do ar 20 microgramas por m3 de material inalável, sendo que São Paulo apresenta o dobro – 40 microgramas por m3. "São Paulo é pior que Los Angeles e até Nova Iorque é mais limpa", compara o professor. Mas, segundo ele, São Paulo não é a capital com a pior qualidade do ar: no Rio de Janeiro o índice é de 60 microgramas por m3.
Nos grandes centros urbanos, o transporte é responsável por 70% da poluição. "São Paulo tem jeito desde que se adote uma política no médio prazo para o favorecimento de transporte público", avalia o professor, lembrando que nos últimos dez anos o crescimento populacional foi de 16%, enquanto a frota de veículos aumentou 67%, ou seja, quatro vezes mais que a população.
"O paulistano está migrando para o transporte individual", lembra. O pesquisador afirma que é preciso a adoção de programas que permitam a melhoria dos transportes públicos ou a adoção de veículos limpos. "Existe uma série de medidas que podem ser implementadas. O problema é que exigem investimento por parte do governo e das montadoras, resultando em maiores gastos para o consumidor", avalia.
Experiência americana
Os resultados positivos com a substituição gradual dos tradicionais ônibus a diesel pelos elétricos híbridos, tanto para o sistema de transporte como para o meio ambiente, serão mostrados no seminário do INEE a partir da experiência no transporte urbano nos Estados Unidos. Segundo o diretor do INEE, Antonio Nunes Júnior, existem atualmente cerca de 750 ônibus elétricos híbridos (motor a diesel acoplado a um gerador que alimenta as baterias do motor elétrico) circulando no trânsito urbano nos Estados Unidos, sendo que Nova Iorque concentra o maior número de veículos com 474 ônibus previstos para dezembro deste ano.
Os primeiros dez veículos começaram a operar na cidade americana em 2003; no ano seguinte a frota atingiu 141 ônibus, saltando para 335 veículos no ano passado. Nesse período foram retirados de circulação 580 ônibus com motores diesel de dois tempos, muito poluentes. O resultado aparece nos estudos sobre a qualidade do ar de Nova Iorque.
A experiência americana, com a entrada dos ônibus elétricos híbridos no sistema de transporte coletivo urbano, mostra que em relação aos ônibus convencionais há uma redução de 75% óxidos de nitrogênio (NOx); de 50% de material particulado (fumaça negra); de 40% a 50% de dióxido de carbono (CO2), além de praticamente zerar a emissão de monóxido de carbono.
Além da redução das emissões de poluentes, as modificações na frota de Nova Iorque também foram motivadas por outros fatores como a operação mais silenciosa, já que o ônibus elétrico híbrido produz menos ruído e ainda a redução dos custos operacionais com o consumo menor de combustível (entre 30% e 40%).
Seminário
O 4° Seminário e Exposição de Veículos Elétricos, a ser realizado pelo INEE - Instituto Nacional de Eficiência Energética, vai abordar todos os aspectos relacionados aos v eículoselétricos, sejam a bateria, híbridos e de célula a combustível, envolvendo os tipos, a eficiência, o mercado, as pesquisas, a divulgação e a matriz energética. Além do seminário haverá também uma exposição de tecnologias, produtos e serviços com as novidades dos mercados que envolvem os veículos elétricos.
O programa conta com palestras, painéis, mesa redonda e workshops dos quais participarão convidados nacionais e internacionais de grande expressão, que informarão e discutirão sobre este novo paradigma que revoluciona os setores automotivo, de transporte, energético e ambiental.
Os temas escolhidos são: Tipos de veículos elétricos e evolução esperada; Os veículos elétricos e a matriz energética brasileira; Ensino e pesquisa em veículos elétricos: preparando a geração de técnicos; A economia do hidrogênio, células a combustível e os veículos elétricos; Perspectivas para os acumuladores de energia nos veículos elétricos; Soluções para transporte de carga e logística; Veículos elétricos e transporte público; Ações para promoção dos veículos elétricos no Brasil e na América Latina; Regulamentação para veículos Elétricos; Veículos elétricos: eficiência e meio ambiente e Empresas de energia elétrica e os veículos elétricos.
O patrocínio é da UTE Norte Fluminense ( UTE), da CPFL Energia, da Fundação Hewlett (Hewlett), da AES Eletropaulo ( AES), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Eletra Industrial ( Eletra) e o apoio das seguintes entidades: Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Associação Nacional de Transportes Públicos ( ANTP), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica ( ABINEE), Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Centro Universitário da FEI (Faculdade de Engenharia), Centro Nacional de Referência em Energia do Hidrogênio (CENEH).
INEE
Desde 2003 o INEE vem realizando workshops, seminários e exposições sobre veículos elétricos. O INEE é uma organização não governamental e sem fins lucrativos, com sede no Rio de Janeiro, e reúne pessoas e instituições interessadas em fomentar a transformação e o uso eficiente de todas as formas de energia, alcançar uma economia mais saudável e preservar o meio ambiente e o bem-estar da sociedade. Seu objetivo é reduzir as imperfeições do mercado, melhorar o grau de informação sobre o tema e apoiar a criação de normas, regulamentos e legislação, através da promoção de programas, projetos e eventos.
(Envolverde, 07/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=20722&edt=34