O repovoamento de uma das mais ameaçadas espécies da Mata Atlântica – o palmiteiro Juçara (Euterpe Edulis) segue conquistando adeptos entre as comunidades quilombolas do Vale do Ribeira. Se no primeiro semestre deste ano dez mutirões quilombolas semearam cinco toneladas de semente desta espécie de palmito numa área de 900 hectares do vale, no final de julho representantes de 12 comunidades quilombolas se reuniram na Caverna do Diabo, no Parque Estadual do Jacupiranga, para traçar planos de ação para replantar, conservar e usar de forma sustentável a espécie.
A juçara é uma das espécies mais exploradas da Mata Atlântica e seu extrativismo indiscriminado a colocou sob risco de extinção. Sua exploração configurou-se numa das principais fontes de trabalho e renda nas comunidades quilombolas do Vale do Ribeira, mas a diminuição drástica da população natural do palmito e a proibição da extração predatória tornaram a atividade cada vez mais impraticável pelos quilombolas, sendo o repovoamento uma das saídas para um futuro plano de manejo sustentável. A produção de juçara só é permitida por meio de planos de manejo sustentável, cujo primeiro passo é exatamente o repovoamento da espécie.
A reunião juntou quilombolas das vilas de André Lopes, Nhunguara, Batatal, Bombas, Pedro Cubas, Pedro Cubas de Cima, Ivaporunduva, Galvão, Mandira, Morro Seco, Porto Velho e Cangume. Durante dois dias de oficina, os participantes deram seqüência ao Projeto de Repovoamento, Conservação e Uso Sustentável do Palmiteiro Juçara nos Quilombos do Vale do Ribeira, avaliaram os dez mutirões promovidos entre março e julho passado e planejaram as ações para o segundo semestre. A oficina contou com a participação da Fundação Florestal do estado de São Paulo e do Instituto Socioambiental (ISA). O Projeto de Repovoamento, Conservação e Uso Sustentável do Palmiteiro Juçara nos Quilombos do Vale do Ribeira é financiado pelo Ministério do Meio Ambiente (PDA-MA) e executado pelo ISA.
Durante a oficina foi constituído um conselho gestor com o objetivo de ampliar a discussão nas comunidades e na região sobre o repovoamento da juçara e seu manejo sustentável. A idéia é conseguir, ao longo do tempo, trabalhar não apenas com o palmito, tradicional produto extraído da palmeira, mas também com sua semente para repovoamento de novas áreas e para a produção de mudas, além da polpa da semente, que tem um grande potencial de mercado, dada sua semelhança à polpa da semente do Açaí, outra espécie de palmeira. O Conselho Gestor do Programa de Repovoamento do Palmiteiro Jiçara nas comunidades de Quilombos iniciará ainda uma série de debates sobre a valoração e remuneração dos serviços ambientais prestados pelas comunidades quilombolas ao manterem conservadas importantes porções da Mata Atlântica e, conseqüentemente, sua biodiversidade e mananciais de água.
Outra decisão tomada durante a oficina foi a de substituir a denominação juçara por jiçara, variação utilizada pelas comunidades tradicionais do Vale do Ribeira para designar essa espécie de palmiteiro.
(Por Marcos Gamberini, do
Instituto Socioambiental
07/08/2006)