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2006-08-08
O Núcleo de Educação e Monitoramento Ambiental (Nema), do Rio Grande, o Projeto Albatroz, de Santos (SP) e a Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca (Seap), com apoio do Ibama, estão iniciando a execução de um projeto para conservação de albatrozes e petréis. Denominado "Apoio à Implementação do Plano Nacional de Ação para Conservação de Albatrozes e Petréis" (Planacap), o projeto objetiva a redução da captura incidental destas aves marinhas pela pesca com espinhel, realizada em alto-mar.

Conforme o biólogo Sérgio Estima, do Nema, a maioria das espécies de albatrozes e petréis está ameaçada de extinção e uma das principais causas do declínio de suas populações é a interação com a pesca de espinhel. Ele explicou que estas são espécies de vida longa, podendo chegar aos 60 anos de idade, mas que têm apenas um filhote a cada dois anos. "É uma estratégia de vida bem delicada", avalia Estima. A pesca com espinhel acaba ocasionando a captura acidental destas espécies, as quais tentam tirar as iscas (lulas) dos anzóis do equipamento, acabam fisgadas e morrem afogadas. O Projeto tem quatro linhas de ação: difundir e testar medidas mitigadoras para redução dessa captura; trabalho de educação ambiental junto aos pescadores para que adotem estas medidas; diagnóstico sócio-econômico dos pescadores que atuam na pescaria de espinhel; e legislação sobre a questão. O trabalho para execução do Projeto começou com a assinatura de um termo de cooperação técnica entre o Nema e o Projeto Albatroz, no ano passado. E em junho deste ano, foi aprovado o convênio com a Seap para sua implementação. A Seap está investindo R$ 287 mil no projeto.

Curso
As atividades se iniciam este mês, com a realização de um curso de formação de observadores de bordo, de 29 de agosto a 2 de setembro, em Rio Grande. O mesmo curso acontecerá em Santos, em diferente data. Deverão participar estudantes de Biologia, Oceanografia e Ecologia. Depois, eles irão embarcar na frota comercial para monitorar a captura e a ocorrência de albatrozes e petréis e, principalmente, para testar e divulgar as medidas mitigadoras já definidas. Uma delas é o tingimento da lula (isca) de azul, para que esta fique com a cor do mar, dificultando às aves marinhas sua percepção. Outra é o descongelamento da isca. Sérgio Estima explica que, congelada, a isca demora mais para afundar e fica mais tempo à disposição das aves.

O uso de um espantador de aves (toriline) é mais uma das medidas mitigadoras. O "toriline" consiste em dois cabos colocados na popa do barco, onde ocorre o lançamento do espinhel, com várias fitas coloridas e compridas, que balançam com o vento, não permitindo a aproximação das aves. De acordo com Sérgio Estima, a captura incidental dos albatrozes e petréis, que ao fisgarem as iscas ficam presos aos anzóis e são levados para o fundo do mar, é prejudicial às aves, mas também tem prejuízos econômicos para os pescadores. Em função disso, a categoria também tem ganhos com a redução da captura incidental. O biólogo relata que a estimativa é de que cada ave capturada corresponde a 20 iscas roubadas, o que mostra o prejuízo econômico para os pescadores. Anualmente, em torno de 100 mil albatrozes e petréis, de diferentes espécies, morrem vítimas da pesca com espinhel no mundo.

Embarques
Após os observadores estarem capacitados, terão início os embarques na frota de espinhel, tanto em Rio Grande quanto em Santos. Estão previstos 12 embarques (metade aqui e metade em Santos), mais dois embarques no navio de pesquisa Soloncy Moura, do Centro de Pesquisa (Cepsul) do Ibama de Itajaí (SC). Cada embarque no Soloncy terá duração de 15 dias, período em que serão feitos testes controlados das medidas mitigadoras.

O projeto também dará apoio ao Programa Nacional de Observadores de Bordo da Seap nos portos do Rio Grande e de Santos. E vai divulgar as medidas mitigadoras para todo o setor pesqueiro, principalmente para os armadores, esclarecendo sobre a importância destas para a conservação destes animais e para a questão econômica dos pescadores que, em grande parte, pescam para exportar. “Hoje os mercados americano e europeu podem criar sanções aos países que não adotam medidas de conservação”, relatou o biólogo.

O sul e o sudestre do Brasil são áreas muito importantes de alimentação para estas aves, as quais são das regiões antártica e subantárticas, principalmente no outono e inverno. “Este período também coincide com o principal momento de esforço de pesca nestas regiões”, falou Estima.

Compromisso A coordenadora do Projeto Albatroz, bióloga Tatiana Neves, informou que o Planacap é um compromisso do Governo Federal perante a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). O Brasil já tinha firmado compromisso de promover planos nacionais que reduzam a mortalidade dos albatrozes e petréis em território brasileiro. E foi lançado pelo Ibama dia 5 de junho deste ano, dia mundial do meio ambiente. Segundo ela, a importância do convênio com a Seap está no desenvolvimento de novas tecnologias e na realização de pesquisa sobre o funcionamento das medidas mitigadoras, com trabalho educativo junto aos pescadores. “Sabendo que as medidas funcionam, transforma-se em lei e incentiva-se o pescador”, salientou.
(Por Carmem Ziebell, Jornal Agora, 07/08/2006)
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