Mediterrâneo é o mar mais contaminando do mundo, com cerca de 300 milhões de peças de lixo
2006-08-08
O lixo dos centros urbanos, fundamentalmente sacos plásticos e pontas de cigarro, está envenenando os mares da Europa e contribuindo para a proliferação de uma alga tóxica que destróis os corais, os moluscos e os peixes, alertam cientistas franceses. Um estudo realizado pelo Instituto Francês de Pesquisa para a Exploração Marinha (Ifremer), indica que somente o Mar Mediterrâneo contém mais de 300 milhões de peças de lixo, em sua maior parte sacos plásticos e bitucas, além de garrafas de vidro e metal. O Mediterrâneo é o mais contaminando, seguido do Mar do Norte, com cerca de 150 milhões de restos de lixo.
Estima-se que existam 50 milhões de resíduos no Golfo de Gascony, no sudoeste da França. Cerca de 17 mil metros cúbicos de lixo são encontrados no litoral de 300 quilômetros de comprimento desde o porto francês de Bordeaux até a localidade de Saint Jean de Luz, na fronteira com a Espanha, de acordo como o estudo. Isto é conseqüência da falta de uma legislação sobre a eliminação destes resíduos e da falta de cuidado por parte da população, sobretudo durante as férias, afirmam ambientalistas. “O mercado de embalagens plásticas é gigantesco e muito poderoso e bloqueia toda legislação para reduzir e regulamentar a produção”, disse à IPS a diretora do Observatório Francês de Lixo Industrial nos Mares, Isabelle Poitou.
“Devemos fazer com que a humanidade admita que seu comportamento irresponsável está destruindo seu próprio habitat, incluindo os lugares aonde as pessoas vão por lazer”, acrescentou. O lixo afeta os veranistas, já que nadar em muitos mares e lagos é cada vez mais difícil. Noventa por cento dos materiais de embalagem são feitos de plástico, e, portanto, demoram centenas de anos para de degradar, disse o Ifremer. Este tipo de produto representa mais de 95% do lixo encontrado em mares e oceanos. O governo francês lançou uma nova campanha para tentar manter os balneários limpos. “Não jogue seu lixo na praia”, “Se não jogar o lixo, está ajudando a salvar seu meio ambiente”, dizem os cartazes.
A contaminação, a agricultura intensiva e as altas temperaturas favorecem a propagação de uma alga tóxica. No dia 28 de julho, as autoridades italianas foram obrigadas a proibir o acesso a várias praias próximas da cidade de Gênova, depois que foi descoberta uma rara alta concentração da alga tóxica ostreopsis ovata. Esta libera neurotoxinas, que podem provocar problemas respiratórios, digestivos e de pele. Na Alemanha, as autoridades sanitárias e ambientais alertaram que as altas temperaturas também provocam um incomum crescimento da bactéria cianofita em vários lagos e piscinas. Muitos balneários públicos foram fechados.
“A agricultura intensiva provoca uma maciça liberação de fosfato e nitritos nas águas marinhas próximas da costa”, explicou à IPS Chloe Fromange, do grupo não-governamental francês Ambiente em Brittany. “Estes dois elementos são muito nutritivos para a alga que, ajudada pelas altas temperaturas da água e pela fotossíntese durante as últimas semanas da primavera (boreal), cresce rapidamente”, acrescentou. Mas enquanto o calor provoca um extraordinário crescimento da alga e da bactéria, também causa a morte de muitas outras espécies marinhas. Na cidade francesa de Thau, uma lagoa com água do mar famosa por se centro de cultivo de mariscos, as autoridades informaram sobre a crescente morte de moluscos.
“Quando a alga morre e se decompõe, diminui o oxigênio da água, matando os moluscos”, explicou Denis Regler, diretor de um centro de pesquisa sobre cultivo de mariscos perto de Thau. O calor também destruiu as gorgônias e outros corais no Mediterrâneo, no sul da França. “A água no Mediterrâneo alcançou temperaturas de 29 graus em julho, quatro graus a mais do que a média. Nesta água quente os corais e as gorgônias morrem por falta de oxigênio”, explicou à IPS.
(Por Julio Godoy, Envolverde, 07/08/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=20691&edt=1