Intenso calor castiga a Espanha
2006-08-07
Até sexta-feira (04/08), chegava a 15 o número e mortos na Espanha em razão do calor que assola o país, bem como boa parte da Europa e da América do Norte. A Catalunha, comunidade autônoma no nordeste da Península Ibérica, foi a região mais afetada, com cinco mortes. As demais vítimas fatais correspondem a diversas províncias espanholas. Muitos dos que sofreram as fatais conseqüências das altas temperaturas eram maiores de 75 anos – que junto com as crianças constituem o grupo populacional mais vulnerável – mas também se contam trabalhadores da construção civil, dos fornos industriais e da agricultura.
O Instituto Nacional de Meteorologia informou que as temperaturas registradas durante julho, tanto na metade norte do país quanto em Castilla-La Mancha, Andaluzia ocidental e Murcia (centro e sul) foram as mais elevadas dos últimos 45 anos. No restante do território o calor também foi acentuado, salvo nas Ilhas Canárias, sudoeste do continente e na parte sobre o oceano Atântico. Há indícios de que em agosto essa tendência vai prosseguir.
A Direção Geral de Proteção Civil e Emergências advertiu as delegações de governos em Andaluzia, Ceuta e Melilla (estes últimos enclaves da Espanha no norte da África) sobre as altas temperaturas previstas para os próximos dias nessas regiões, que podem se aproximar dos 40 graus. Uma das características da atual onda de calor – que agita o fantasma da que teve lugar no verão de 2003 em toda a Europa e que só na França fez 15 mil mortos – é a extrema elevação das temperaturas mínimas.
Em cidades do norte da península, habitualmente mais frescas do que as do sul, como Barcelona, esta marca foi superior em 4,9 graus à média dos últimos 30 anos, chegando aos 23,5 graus, e em Bilbao, com 3,8 graus a mais. Em Pontevedra, na Galícia, os termômetros marcaram 24,2 graus centígrados de mínima, e em Gerona, no nordeste, 22,5 graus.
Também as temperaturas máximas destas cidades foram, em julho, superiores em cerca de quatro graus, em média, em relação aos últimos 30 anos. Pontevedra, por exemplo, alcançou o recorde histórico de 40,8 graus no dia 17 passado, e o porto galego de La Coruña, no Atlântico, também bateu seu recorde nessa mesma data, com 34,4 graus.
A persistência de elevadas temperaturas mínimas faz com que o calor se prolongue durante o dia e a noite, mantendo quentes em particular as zonas urbanas. O calor faz parte de um panorama de seca que há muito tempo afeta a Espanha, bem como outras regiões européias. As reservas de água nas represas da península baixam dramaticamente semana a semana. Atualmente, estas reservas são de 24,9 mil hectômetros cúbicos, sete mil a menos do que a média dos últimos cinco anos. A situação é especialmente grave nas represas dos Rios Tajo-Segura, no centro e sudeste, que fornece água potável e para irrigação a mais de dois milhões de pessoas nas regiões de Murcia e Alicante.
As represas das cabeceiras do Rio Tajo chegam a apenas 265 hectômetros cúbicos de água, somente 10,7% de sua capacidade e quase a metade do que tinham há um ano. Para piorar, uma boa parte não é utilizável porque não é mais do que lama. Se esse nível baixar até 240 hectômetros cúbicos, o que pode acontecer nos próximos dias, já não será possível retirar água do Rio Segura e, portanto, Murcia e Alicante ficariam sem fornecimento. Seria uma situação sem precedentes históricos. Um informe da Agência Européia do Meio Ambiente afirma que o caudal dos rios mediterrâneos da Península Ibérica baixará em 50% nos próximos 70 anos devido à mudança climática.
O aquecimento atmosférico que está provocando uma mudança climática global é atribuido pela maioria dos cientistas à contaminação industrial e de combustíveis fósseis. Consultado pela IPS, o catedrático em análise geográfica regional da Universidade de Alicante, Jorge Olcina, disse que um dos fenômenos gerados pela onda de calor é o acentuado aquecimento das águas do Mar Mediterrâneo. “Nesse aspecto, não duvido em comparar a situação atual com a do catastrófico verão de 2003. O ponto máximo de temperatura das águas do mar costuma ser registrado no final da temporada de verão, quando sofrem o efeito acumulado de vários meses de calor. Mas, este ano, em meados de julho já estavam superadas as marcas do final do verão”, disse Olcina.
O professor acrescentou que neste momento a temperatura do mar é de aproximadamente 28 graus em muitos lugares do litoral mediterrâneo e se aproxima dos 30 graus nas ilhas Baleares. “Para ter uma idéia sobre que isto significa, basta dizer que a temperatura habitual da água do mar em meados de agosto é de 24 a 25 graus, nível que este ano já foi superado um mês antes”, disse à IPS. O aquecimento do mar produz uma série de desequilíbrios em seu ecossistema. Por exemplo, a proliferação de medusas, que este ano estão invadindo numerosas praias da Catalunha.
Outra conseqüência do forte calor é o aumento excepcional do consumo elétrico por causa da multiplicação dos aparelhos de ar-condicionado, o que causou uma série de pequenos colapsos no sistema que se traduziram em apagões. Também estão limitadas as centrais nucleares. A de Santa Maria de Garoña, em Burgos, teve de parar seu reator por causa das elevadíssimas temperaturas do Rio Ebro, de onde retira á água para sua refrigeração, que resulta irreversível quando passa dos 25 graus.
(Por Carlos Alfieri, Envolverde, 04/08/2006)
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