A moratória ambiental - suspensão por dois anos pelos exportadores da compra de soja da safra 2006/07 cultivada em
novas áreas que forem desflorestadas do Bioma Amazônico -, anunciada no último dia 24, desagradou produtores do Mato
Grosso, maior estado produtor do grão. Ontem (3/8), a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso (Famato)
divulgou nota de repúdio à postura dos exportadores, representados pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (Abiove) e pela Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec).
"Não concordamos com a atitude das empresas exportadoras. Não é que pretendemos plantar soja em novas áreas do
Bioma Amazônico, mas queremos manter nosso direito de fazê-lo", defende o presidente da Famato, Normando Corral.
Segundo ele, "abrir mão desse direito é ferir a soberania do País". "Legalmente, o plantio pode ser feito em 20% da área.
Não aceitamos que imposições de Organizações Não Governamentais (ONGs), como o Greenpeace, sejam mais restritivas
que a nossa própria lei", diz.
Em nota, a Famato citou que pressões feitas pelas ONGs ambientais tem como objetivo impedir o desenvolvimento de
países como o Brasil, enquanto privilegiam países desenvolvidos. "Trata-se de barreira comercial travestida de barreira
ambiental. Nenhum outro país tem terras férteis cobertas com vegetação nativa", diz o presidente da Famato.
O presidente da Anec, Sérgio Mendes, considera "natural" a reação dos produtores à restrição anunciada pelos exportadores.
"Os produtores foram informados mais tarde da demanda dos importadores. Quando perceberem o transtorno que isso (o
plantio em áreas do Bioma Amazônico desmatadas de agora em diante) pode causar, se tornaram nossos parceiros", diz.
Segundo Mendes, a área plantada com soja no Bioma Amazônico é de 1,15 milhão de hectares, o equivalente a 0,275% do
total. "Há 30 milhões de hectares de pastagens improdutivas no Bioma Amazônico onde é possivel plantar soja. Não há
porque destruir novas áreas se a expansão pode ser feita de maneira harmônica", diz Mendes.
Segundo o presidente da Anec, o compromisso assumido pela entidade e pela Abiove foi uma "resposta rápida" à demanda
dos importadores. "Os importadores europeus demonstraram descontentamento com o desmatamento da Amazônia e nos
pediram um plano de contenção. Se demorássemos a responder, a exigência poderia ser ainda maior", diz Mendes. Ele
explica que ONGS ambientalistas elegeram a soja e exerceram influência sobre os importadores porque o setor é formado
por multinacionais que "precisam defender sua imagem pública".
"Não acreditamos que a soja seja responsável pelo desmatamento, mas podemos evitar que a atividade se torne agressiva
ao meio ambiente", diz Mendes. Mas admite que a decisão de acatar a "sugestão" dos importadores foi comercial. Segundo
Corral, se as tradings mantiverem a decisão de não comprar soja de áreas desflorestadas, os produtores do Mato Grosso
terão como alternativa a exportação direta para a Europa.
(Por Chiara Quintão,
Gazeta Mercantil, 04/08/2006)