"A energia nuclear é cara, suja e perigosa", avalia coordenador do Greenpeace
2006-08-04
Defeito desconhecido que quase causa gravíssimo acidente na usina nuclear de Forsmark, na Suécia, expõe novamente a insegurança desta tecnologia. Governo sueco determina o fechamento dos quatro reatores, cujas falhas ocorreram no sistema reserva de suprimento de energia, o que poderia ter causado sua explosão e uma catástrofe radioativa. "Infelizmente, o problema não se restringe apenas a esses quatro reatores na Suécia. Incidentes similares vêm acontecendo em diferentes tipos de reatores, sendo urgente uma investigação em todos os 443 reatores atômicos em atividade, que estão espalhados por 31 países", disse Jan Vande Putte, coordenador da campanha contra energia nuclear do Greenpeace Internacional.
O incidente na Suécia ocorreu poucos dias antes do aniversário de 61 anos das explosões das bombas nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, que ocorreram respectivamente nos dias 06 e 09 de agosto de 1945. O saldo trágico desse aniversário é dezenas de milhares de vidas humanas perdidas instantaneamente após as detonações, e outras dezenas de milhares, nos meses e anos seguintes. Os fatos impressionam: mais de 300 mil mortos, a destruição total das duas cidades e uma demonstração real do poder de destruição em massa desse tipo de armamento, que deve ser completamente abolido. A ameaça nuclear continua com cerca de 30 mil armas nucleares em nove países (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China, Israel, Índia, Paquistão e Coréia do Norte).
Ainda assim o Programa Nuclear Brasileiro considera a possibilidade de construir Angra 3 e outras seis usinas: duas de grande porte, capazes de gerar 1300 MW, e quatro pequenas, com até 500 MW. O custo seria de mais de R$ 30 bilhões até 2022 e não inclui ainda o plano de construção de um submarino atômico, que está em projeto. Hoje, o Brasil possui 2 usinas nucleares (Angra 1 e Angra 2) e, em 05 de maio deste ano, poucos dias após o aniversário de 20 anos do acidente de Chernobyl, inaugurou uma usina de enriquecimento de urânio. O urânio enriquecido pode ser usado tanto na produção de combustível para usinas nucleares quanto na fabricação de bombas atômicas.
Em março, a Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados aprovou relatório que mostra graves problemas de segurança nuclear no Brasil. Uma das questões apontadas pelo documento oficial é a contraditória duplicidade de funções da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), que deve ao mesmo tempo incentivar e fiscalizar o setor. O relatório também alerta para problemas no plano de emergência das usinas, inexistência de fiscais e de normas de fiscalização e punição para irregularidades, tratamento improvisado para o lixo nuclear e a falta de acesso público à informação.
"A energia nuclear é cara, suja, perigosa e ultrapassada, e no aniversário das tragédias de Hiroshima e Nagasaki o Governo Federal deve parar de desperdiçar dinheiro público no Programa Nuclear e interromper as operações de Angra 1 e 2", afirmou Guilherme Leonardi, coordenador da campanha do Greenpeace contra energia nuclear. "O Brasil deve seguir a tendência mundial de países como Espanha, Alemanha, Suécia, Bélgica e Cuba, abandonando a energia atômica e utilizando seu imenso potencial para energias limpas e seguras como eólica e solar, capazes de suprir toda a demanda nacional de energia", acrescentou.
(Por Guilherme Leonardi,Iberoamérica, agosto de 2006)
http://www.lainsignia.org/2006/agosto/ibe_015.htm