Estudo revela que consumo consciente aplicado à alimentação pode minimizar o aquecimento global
2006-08-03
Os constituintes do meio ambiente compreendem clima, iluminação, pressão, teor de oxigênio, condições de alimentação, modo de vida em sociedade e para o homem, ensina a enciclopédia virtual Wikipédia. O consumo consciente, cada vez mais recomendado como basilar na preservação dos recursos naturais, também passou a preconizar a adoção de hábitos alimentares mais ligados à terra dos que às indústrias. Recentemente, o Instituto Akatu, referência neste tema, divulgou reportagem sobre um estudo acadêmico, feito nos Estados Unidos, a partir do qual se comprovou que os hábitos alimentares têm relação direta com a "saúde" do planeta.
De acordo com a pesquisa, adotar uma dieta vegetariana é uma forma simples de consumir sem agredir o meio ambiente, enquanto que hábitos alimentares com predominância de comida industrializada e rica em proteína animal contribuem diretamente para um dos problemas ambientais que mais ameaçam o mundo: o aquecimento global.
Ainda segundo a reportagem, a pesquisa mostra que a produção, a estocagem e a conservação de alimentos enlatados, embutidos e fast-food - todos com processamento industrial - é responsável por cerca de 20% da queima de combustíveis fósseis (derivados do petróleo) nos EUA. Assim, a dieta típica dos norte-americanos emite gases de efeito estufa em quantidade equivalente a um terço da emissão de todos os carros, motos e caminhões do país. Os transportes são apontados como os principais causadores do superaquecimento do planeta.
Gidon Eshel e Pamela Martin, os autores do estudo, comparam as diferenças entre uma dieta vegetariana e outra composta por produtos industrializados - em relação à poluição gerada na sua produção - às mesmas existentes entre um carro de passeio e um jipe utilitário. Eles alertam que a capacidade de destruição do meio ambiente de uma dieta como a dos norte-americanos é tão grande quanto à do setor dos transportes.
Mas ressaltam que pequenas mudanças nos hábitos alimentares das pessoas podem ter um impacto positivo muito grande. "Se cada um que come dois hambúrgueres por semana cortasse essa quantidade pela metade, a diferença já seria substancial", disse Eshel, professor-assistente em ciências geofísicas, ao jornal da universidade.
As conclusões do estudo incluem a classificação de alguns tipos de dieta conforme a quantidade de gases de efeito estufa emitidos em todas as etapas da produção. Os resultados são algumas vezes surpreendentes: em primeiro lugar, como a que menos impactos traz para o equilíbrio climático da Terra, ficou a alimentação vegetariana (inclui ovos e derivados de leite), especialmente a composta de alimentos orgânicos. Em seguida, vem a dieta com base em carne de aves. Em terceiro lugar, vem a alimentação industrializada típica dos norte-americanos. Empatados na última colocação, ficaram a carne de peixe e a carne vermelha. A colocação dos peixes em último na lista é explicada pelo fato de que, em geral, a pesca e o congelamento de algumas espécies envolvem muita utilização de combustíveis derivados de petróleo.
Consumidor melhor informado
O consumidor precisa ter assegurado ao menos o direito de fazer as próprias escolhas. Uma boa notícia nesse sentido é que terminou na terça-feira 1º o prazo para que os fabricantes de alimentos ajustem os rótulos das embalagens de acordo com a nova legislação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre rotulagem nutricional (resolução 360, de 2003).
Uma das exigências para os novos rótulos é a obrigatoriedade de informar a quantidade de gordura trans, além do valor energético, carboidratos, proteínas, gorduras totais, gorduras saturadas, fibra alimentar e sódio.Até o dia 31 de dezembro, as empresas que fabricarem produtos em desacordo com a resolução da Anvisa serão notificadas. A partir de 1º de janeiro, porém, os fabricantes que não cumprirem as regras ficarão sujeitos às multas que vão de R$ 2.000 a R$ 1,5 milhão.
A comunidade médica encara a exigência com alegria. “Quanto mais a gente regulamentar isso, melhor se pode conscientizar a população”, avalia o cardiologista Marcos Bubina, do Hospital Costantini, em Curitiba (PR).
Segundo ele, nos últimos anos especialmente a gordura trans vem sendo alvo de diversas pesquisas, cujas conclusões merecem toda a atenção. Em primeiro lugar, trata-se de um componente que aumenta o LDL – o colesterol ruim – e diminui o HDL, o colesterol protetor, aquele que ajuda a retirar gorduras depositadas nas paredes das artérias.
Esse depósito é o responsável pelo fato de, no Brasil, as doenças cardiovasculares (enfarto e derrame) estarem entre as primeiras causadoras de mortes. Bubina explica ainda que, em muitos países, a gordura trans já foi proibida, obrigando a indústria a buscar alternativas menos prejudiciais à saúde. “A gordura trans não tem absolutamente nenhum benefício”, diz o cardiologista, alertando para a ingestão máxima diária aceitável – apenas 2 gramas, o equivalente a um biscoito recheado.
Com tudo isso, o brasileiro vai aprendendo a adquirir um hábito de todo saudável: ler os rótulos dos produtos que antes ingeria inadvertidamente e que - pior - oferecia às crianças.
(Por Mônica Pinto, AmbienteBrasil, 03/08/2006)
http://www.ambientebrasil.com.br/noticias/index.php3?action=ler&id=26051