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2006-08-03
O intenso calor que afeta a Europa neste verão reduz a produção das centrais nucleares e deixa em evidência as limitações desta fonte de energia, advertem cientistas e ambientalistas. A onda de calor que desde junho açoita a Alemanha, Espanha, França e outros países levou as autoridades a deixarem de lado suas próprias normas sobre a temperatura máxima da água vertida nos rios pelo sistema de refrigeração das centrais. No último dia 24, o governo francês anunciou que permitiria às instalações nucleares despejar nos rios água com altas temperaturas. Com esta medida pretende “garantir o fornecimento de eletricidade ao país”, segundo comunicado oficial.

A França conta com 58 centrais de energia atômica que respondem por quase 80% da eletricidade produzida no país. Trinta e sete ficam perto de rios onde seus sistemas de refrigeração vertem suas águas. A seca que acompanha as altas temperaturas reduziu o volume de água dos rios, o que poderia obrigar algumas centrais a paralisar suas atividades. Em circunstâncias normais, as regulamentações ambientais limitam a temperatura máxima das águas despejadas pelos sistemas de refrigeração, para proteger a flora e fauna dos rios.

“As autoridades francesas defendem há muitos anos as usinas nucleares argumentando que geram energia limpa, são boas para o meio ambiente e ajudam a combater o aquecimento planetário porque não emitem gases causadores do efeito estufa”, disse à IPS Stephane Lhomme, coordenador da rede ambiental Sortir du Nucléaire. “Agora que o aquecimento eleva a temperatura no verão, testemunhamos o contrário. Esse fenômeno mostra as limitações das instalações de energia nuclear, que está destruindo nosso meio ambiente”, acrescentou. No verão de 2003, as autoridades francesas permitiram que as usinas nucleares despejassem muita água quente nos rios, o que causou consideráveis danos à flora e fauna fluviais, disse Lhomme.

Segundo as atas do Comitê Nacional de Vigilância encarregado dos despejos de água pelos reatores, entre 21 de agosto e 3 de setembro de 2003 “as altas temperaturas da água podem ter produzido uma concentração de amoníaco, potencialmente tóxica para a fauna dos rios”. Essas atas registram a concentração de amoníaco nos cursos d’água, que superou as normas européias. Ao mesmo tempo, a França importa de países vizinhos cerca de dois mil megawatts diários para compensar a redução na sua produção de eletricidade. Enquanto as autoridades francesas não respeitaram suas próprias normas ambientais, os fornecedores de energia da Alemanha reduziram a atividade em alguns reatores nucleares para limitar o despejo de água quente e, assim, proteger a flora e a fauna dos rios.

Os reatores alemães Kruemmel, Brunsbjuettle e Brokdorf, ao longo do rio Elba, que flui deste este país em direção ao norte, reduziram sua produção. O mesmo aconteceu com as centrais elétricas alimentadas com petróleo, gás e carvão localizadas no rio Reno. O reator nuclear Isar 1, instalado perto de Munique e o de Neckarwestheim, próximo a Stuttgart, foi autorizado a verter nos rios próximos água com temperatura mais elevada do que a permitida. Na Espanha, a central nuclear de Santa María de Garoña, um dos oito reatores do país, fechou na semana retrasada por causa das altas temperaturas registradas no rio Ebro, para onde vão as águas de seu sistema de refrigeração. Essa unidade, a mais antiga da Espanha, fornecia 20% da eletricidade produzida no país.

O especialista alemão Hermann Scheer, afirmou que a situação evidencia a necessidade de uma radical mudança política. “Devemos investir muito em fontes de energia renováveis e nos desfazermos o quanto antes da nuclear”, disse à IPS. Scheer é presidente a Eurosolar, a associação européia de fontes de energia renováveis, e ganhou o prêmio Nobel Alternativo por seu compromisso com o meio ambiente. Na França, o especialista em questões nucleares Hubert Reeves pediu urgência ao governo no sentido de “investir bastante” em fontes de energia renováveis.

“Estamos atrás de muitos sócios europeus, como Alemanha, Dinamarca e Espanha, e não podemos esperar até que a crise energética atinja seu ponto máximo para encontrar uma alternativa ao modelo atual”, disse à IPS. Uma crise encontra-se “na esquina”, afirmou. As fontes de energia fóssil estão se esgotando, e “a tecnologia nuclear não resolverá os problemas atuais em um prazo razoável. Devemos abandonar a energia atômica e investir em formas alternativas”, acrescentou.
(Por Julio Godoy, Envolverde, 02/08/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1758&Itemid=2

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