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projeto orla do guaíba
2006-08-02
O que é mais lógico, fácil e provavelmente mais indicado em todos os sentidos, mudar o arcabouço legislativo municipal que rege a ocupação urbana ou alijar um mega-projeto arquitetônico que além de um impacto ambiental insuportável, provocaria a grave desvalorização de milhares de imóveis da região pretendida e, devido sua grandeza exagerada, a inevitável privatização do por-do-sol sobre o Guaíba numa grande área ? Suscito a pergunta a propósito do projeto urbanístico denominado Pontal do Estaleiro e discorro sobre o tema na primeira pessoa, em forma de artigo, primeiro porque me é mais cômodo e, por segundo, porque me sinto credenciado para tanto. É que fui aplaudido por minha intervenção na reunião expositiva do projeto, realizada na noite de quarta –feira (26/07, no Clube Jangadeiros, quando perguntei qual o motivo para construir espigões à beira do Guaíba?

Não tive maior afinidade com o Estaleiro Só, mas como velho portoalegrense me orgulhava da sua existência, porque se constituía numa ligação produtiva da cidade, entre a comunidade e o lago. Além disso, nele trabalhou o engenheiro Amaury Braga, que foi meu contemporâneo no Grupo Escolar Pedro I e nas peladas pelas calçadas da rua Santiago Dantas, na década de 50 uma das últimas do bairro Glória. Ao lembrar desta época, recordo que meu falecido pai, o enfermeiro José Becker Filho, que trabalhou 25 anos no HPS, teve que recuar um mínimo de quatro metros do muro fronteiro para construir a casa na qual me criei, em obediência ao Plano Diretor, para um provável e futuro alargamento da rua. O qual, eu, já envelhecido, não vislumbro ver ocorrer ainda em vida. Aliás, a quadra da rua ganhou asfalto sobre os paralelepípedos, para a passagem de uma linha de ônibus e caminhões com alimentos, mas não ganhou até hoje uma placa sequer de sinalização de trânsito.

Mas, o estaleiro faliu, em mais um exemplo trágico desta política ecologicamente suicida implantada no país de prioridade e monopólio do rodoviarismo, em detrimento do transporte ferroviário e náutico. E o terreno que ocupava, de 6,2 hectares, por várias vezes foi oferecido em leilão judicial ao longo dos últimos anos. Até que recentemente, uma empresa paranaense arrematou a área para, de acordo com o Plano Diretor, construir ali equipamentos de lazer.

Para surpresa dos amantes da paisagem da orla, surge uma proposta de projeto arquitetônico com destinação de pequena faixa para lazer e ciclovia e uma dezena de enormes edifícios para shopping, hotel, restaurantes, apartamentos, enfim:

- Um elefante branco, definiu meu filho, Márcio, sócio do Jangadeiros e que me convidou para a reunião de quinta-feira.

- Um elefante só, não, uma manada, pretendi corrigí-lo...

Acontece que o autor do mega-projeto, arq. Jorge Debiagi reconheceu que ele fatalmente provocará a desvalorização de milhares de moradias da região, basicamente bairro Cristal, por criar uma enorme muralha entre toda aquela área residencial e o Guaíba. Ele também reconheceu que a concepção do projeto assim como está, exigirá modificações na atual legislação de ocupação urbana, tanto na questão da altura elevada dos prédios como, principalmente, na questão das centenas de apartamentos previstos, pois o Plano Diretor não permite a construção de moradia junto à orla. Ele alegou que a introdução de moradias se justificaria para dar segurança à área total. O que não se sustenta, até pelo exemplo do Centro de Porto Alegre, onde moram pelo menos 30 mil famílias que não têm outra alternativa e se constitui, segundo todos os levantamentos da Polícia, em área de alto risco. Sobretudo à noite, quando não há policiamento e só um dos serviços públicos municipais funciona, o do recolhimento de lixo.

O único ganho aparente que a execução do projeto provocaria seria no âmbito econômico-social, diante dos empregos que geraria para sua construção e, posteriormente, pelas atividades de prestação de serviço que porventura viessem a ser oferecidos. O arquiteto chegou a usar o exemplo da uma padaria, que proporcionaria a oferta de pão quentinho para os freqüentadores do lugar. Como se a Zona Sul carecesse deste serviço. Também foi citada a marina integrante do projeto como fator propulsor do Turismo Náutico. Ora, eu lembraria que a administração municipal anterior, ao invés de incentivar os três clube náuticos existentes na Zona Sul – todos com exemplar infra-estrutura e que não escondem as dificuldades de manutenção, devido o enxugamento do quadro social ativo e pagante – optou por construir uma nova marina na extremidade sul do porto de cunho social, para fomentar o esporte náutico entre jovens carentes. Como não criou uma alternativa financeira para uma atividade de custos elevadíssimos, temos hoje uma marina nova e abandonada, sem contar na frustração daqueles que poderiam ter sido beneficiados com bolsas de cursos de navegação nas escolas dos clubes existentes, conforme lembrou meu filho, Márcio, que já atuou na Escola Barra Limpa, do Clube Jangadeiros.

Aliás, em nenhum momento a gente teve qualquer informação sobre uma pesquisa de mercado quanto à necessidade dos serviços previstos e sobre uma garantia do resultado do empreendimento. Como ele vincula a moradia aos serviços, quem garante que só sejam construídos e vendidos os apartamentos ?

Mas, a questão fundamental diz respeito ao meio ambiente. Questionado sobre os dejetos que o empreendimento acrescentaria ao já problemático saneamento na área, o arquiteto garantiu que um empreendimento desta ordem tem resposta para todos os problemas. Mas, não respondeu satisfatoriamente a uma questão levantada pela respresentante da Agapan na reunião expositiva. Se o mega-projeto não abriria um precedente para tornar a Orla do Guaíba uma nova Camboriú ? Talvez não respondesse, também, a uma provocação que meu filho me sugeriu: "quantos abaixo-assinados serão necessários para a desistência da construção deste elefante-branco ?" Provocação que me levou à reflexão de que, enquanto os empreendedores e seus tecnocratas vão buscar mudanças na legislação para erguer uma torre dentro de uma caixinha, os moradores da Zona Sul, os preservacionistas, os amantes da cidade e admiradores do por-do-sol portoalegrense precisam agir, se unir e se mobilizar. Sonhei até com um nome para a campanha, o qual submeto e ofereço aos companheiros de luta pela qualidade de vida na cidade: Movimento Guaíba Livre.
(Por Sérgio Becker, Ecoagência, 29/07/2006)

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