Alstom diz que pode ser sócia na usina de energia Rio Madeira
2006-08-01
A Alstom, fabricante mundial de equipamentos de energia, está disposta a construir uma nova fábrica de componentes de geradores hidrelétricos no Brasil. A localização ainda está sendo estudada, mas o mais provável é que a nova unidade fique próxima a Porto Velho, capital do Estado de Rondônia - local que serviria de base estratégica para fornecer turbinas para os grandes aproveitamentos hidrelétricos que estão sendo concebidos no Norte do país, caso das usinas do Rio Madeira e Belo Monte.
O plano de construção da nova fábrica já foi apresentado ao governo federal, disse ao Valor o presidente mundial do negócio de energia da Alstom, Philippe Joubert. "Um grupo de trabalho foi montado e está analisando além da localização os aspectos tributários do projeto". Ainda não é possível calcular o valor do investimento total no projeto mas, segundo o executivo, serão "algumas dezenas de milhões de dólares".
Joubert acredita que o complexo hidrelétrico do Rio Madeira deverá irá a leilão ainda nesse ano, apesar dos problemas no estudo ambiental que atrasaram o processo de licenciamento. O gigantesco projeto em Rondônia, que exigirá no mínimo R$ 20 bilhões em investimentos, é a prioridade do governo federal na área de infra-estrutura.
O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), responsável pelo licenciamento, devolveu no início deste mês o estudo preliminar de impacto ambiental realizado por Furnas e Odebrecht. Mas as duas empresas se comprometeram a entregar os ajustes pedidos no estudo para os pontos questionados pelo Ibama até o fim de julho, viabilizando o leilão do Madeira em novembro.
O presidente mundial da área de energia da Alstom não descartou entrar como investidor minoritário no complexo Madeira, caso essa participação seja necessária para viabilizar o projeto. "Os riscos associados à indústria de equipamentos já são suficientes. Mas no caso do Madeira, poderemos abrir uma exceção. Temos capacidade financeira para entrar como investidores também".
Se o Madeira se tornar uma realidade, Joubert disse que será preciso um ajuste em toda a linha produtiva da Alstom no Brasil, que hoje destina quase 40% da produção para exportação, atendendo aos mercados do Equador, Venezuela e Chile, principalmente. "Na área de infra-estrutura, não é sustentável manter mais de 25% ou 30% da produção para as exportações, ainda mais diante de um câmbio desfavorável como o atual. O modelo econômico ideal é o de uma fábrica concebida para atender ao mercado local", disse o executivo.
O Brasil perdeu espaço na receita mundial da Alstom nos últimos anos. Era o principal mercado fora da Europa, e hoje está atrás da China e da India. Em 2003, a empresa vendeu seu segmento de transmissão e distribuição de energia no país para a Areva, e permaneceu apenas com a parte de geração elétrica - cujas encomendas caíram nos últimos anos devido aos entraves regulatórios e ambientais do setor elétrico brasileiro.
Nos últimos três anos, a Alstom no Brasil manteve sua receita fornecendo para os investidores em pequenas centrais hidrelétricas, além do mercado externo.
Mas, segundo Joubert, as expectativas com relação ao Brasil no médio prazo são muito boas: "Somos líderes mundiais na área de geração a carvão e esse tipo de geração vem ganhando espaço na matriz energética brasileira". Além disso, a possibilidade de fornecer equipamentos para os grandes projetos no Norte do país seria suficiente para dobrar o faturamento da atual fábrica da Alstom em Taubaté (SP), além de viabilizar a construção de uma nova unidade
O Madeira é um ambicioso projeto que prevê a construção de duas hidrelétricas do lado brasileiro, uma do lado boliviano e outra binacional. No lado nacional estão previstas as usinas de Santo Antônio, com 3.150 MW, e Jirau, com 3.300 MW.
Outros R$ 10 bilhões serão necessários para as linhas de transmissão que interligarão o projeto ao restante do sistema elétrico nacional, que serão leiloadas separadamente. Além disso, o governo pretende levar adiante o projeto de Belo Monte, no Pará, cujo projeto original previa uma gigante do tamanho de Itaipu binacional, com 11.180 megawatts (MW). Esse projeto está em revisão e a nova usina deverá ser menor para minimizar os impactos ambientais na selva Amazônica.
Segundo um especialista do setor que não quis ser identificado, as duas obras serão suficientes para ocupar todo o parque industrial nacional de fabricação de equipamentos para geração por quase dez anos. No caso do complexo Rio Madeira , serão 102 máquinas de 70 MW cada. Em Belo Monte, serão outras 20 máquinas de 550 MW cada e mais sete geradores de 25,9 MW.
Além da Alstom, a concorrente Voith Siemens também demonstrou interesse em fornecer equipamentos para os projetos.
(Por Leila Coimbra, Valor Econômico, 31/07/2006)
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