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2006-08-01
É como uma janela invisível aberta para o Sol. A chamada região da Anomalia Magnética do Hemisfério Sul (AMHS) abrange o continente sul-americano e parte dos oceanos Atlântico e Pacífico. É exatamente por causa dessa ligação direta entre a atmosfera terrestre e o cosmos que estão sendo detectados nessa região processos que podem estar influenciado diretamente o clima no Brasil.

“Vários parâmetros mostram claramente uma redução na quantidade total de nuvens no Pacífico tropical”, disse o pesquisador Luis Eduardo Vieira. Ele, ao lado de Ligia da Silva, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), acaba de publicar um artigo sobre o assunto na Geophysical Research Letters.

Os pesquisadores defendem a tese de que a dinâmica da circulação atmosférica na região da AMHS é fortemente influenciada pelos processos magnéticos e ionosféricos resultantes do acoplamento energético existente entre as atmosferas da Terra e do Sol. “Os resultados indicam, por exemplo, que os fenômenos El Niño e La Niña resultam exatamente dessa interação”, afirma Vieira, que desenvolveu o trabalho durante seu pós-doutorado no Inpe, encerrado em abril. Entre maio e julho, ele trabalhou no Max Planck Institute for Solar System Research, como pesquisador visitante.

Como uma diminuição na intensidade do campo magnético terrestre ocorre bem no centro da região da anomalia, o fluxo de raios cósmicos é maior. “O aspecto mais importante detectado agora é justamente o aumento da correlação entre o fluxo de radiação de ondas longas e o fluxo de raios cósmicos na região interna da anomalia”, disse o pesquisador do Inpe. Isso ajuda a explicar também a redução da temperatura na superfície do mar na mesma área.

As fortes atividades convectivas, que geram turbulências térmicas na atmosfera, estão situadas bem nas bordas da anomalia. Essas atividades, responsáveis, por exemplo, pela quantidade de chuvas em uma área territorial extensa, estão sendo afetadas também pelo aumento de fluxo cósmico desvendado agora.

Segundo Vieira, essa correlação com os raios que chegam do espaço não está sendo necessariamente influenciada de forma direta pelo aumento do fluxo. “Nessa região ocorre constantemente precipitação de partículas energéticas aprisionadas nos cinturões de radiação, que também são fortemente moduladas pela atividade solar”, explicou.

Dentro desse grande e complicado quebra-cabeça atmosférico a irradiação solar entra como peça-chave. “É difícil entender o que exatamente está ocorrendo na região, mas os resultados são interessantes e mostram como a quantidade de radiação é importante”, disse Vieira. A partir de gráficos gerados nos laboratórios do Inpe, fica claro perceber a variação sazonal que ocorre, por causa da irradiação, na chamada Zona de Convergência do Pacífico Sul.

“Essa zona se estende para o sul, seguindo as linhas do campo geomagnético, do inverno para o verão. A velocidade vertical do vento também mostra as alterações ao longo dos meses e a importância da radiação solar nesses processos”, disse o pesquisador.

Interferência no clima
Além de poder caminhar para pesquisas que, do ponto de vista prático, poderão ajudar na previsão climatológica para o Brasil, os resultados do trabalho feito no Inpe apontam para uma segunda direção em que, mais uma vez, o ozônio entra no jogo.

“Um dos mecanismos que precisam ser investigados é o da redução do ozônio na baixa mesosfera e na alta estratosfera, devido à interação das partículas altamente energéticas com os constituintes atmosféricos. A redução na abundância do ozônio, mesmo pequena, pode alterar os padrões climáticos”, aponta Vieira.

Segundo o cientista, alterações na quantidade do ozônio devido a variações nas emissões de raios ultravioletas, caso sejam confirmadas, podem se tornar uma prova concreta do acoplamento da atividade solar e do clima da terra.

Simulações iniciais, feita no Inpe, mostraram que as ondas geradas também pela modulação geomagnética, na borda da zona da anomalia magnética, propagam-se com a mesma orientação das frentes frias. E ambas vão interferir intensamente sobre o clima sul-americano.

“Outra região onde ocorre uma forte interferência do mesmo tipo de ondas é o Caribe, área com alta intensidade de furacões”, disse Vieira.
(Agência Estado, 31/07/2006)
http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2006/jul/31/164.htm

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