Concentração de poluentes é 80% maior no inverno
2006-08-01
Se você mora em uma metrópole e tem o hábito de correr pelas ruas, o ideal é conferir a qualidade do ar antes de calçar o
tênis. Se o dia estiver muito poluído ou seco, deixe a atividade de lado ou se exercite em espaços fechados. A
recomendação é da Companhia de Tecnologia em Saneamento Ambiental (Cetesb), do Estado de São Paulo. Ela é
responsável pela Operação Inverno, que orienta a população para os perigos da poluição na temporada do frio, quando a
situação piora. A campanha deste ano tem uma novidade: a indicação no site (www.cetesb.sp.gov.br) das condições
atmosféricas segundo um padrão de cores que indica os riscos para a saúde. Esse serviço colorido, que lembra o
funcionamento de um semáforo, é um meio de evitar os efeitos da atmosfera carregada. Nos outros Estados, que não
contam com esse sistema, convém checar com os centros que medem a qualidade do ar se ela está boa, regular ou
inadequada.
Pelo padrão da Cetesb/SP, verde é sinal livre para o fitness ou um passeio em áreas externas. Amarelo indica que a
qualidade do ar está regular, mas pessoas sensíveis à poluição – crianças e portadores de males respiratórios, por
exemplo – podem sofrer de tosse seca e cansaço. Laranja mostra que a condição atmosférica é imprópria para os exercícios
em ambientes abertos. Melhor ficar em casa. “No passado, só divulgávamos a qualidade do ar, mas notamos uma demanda
por orientação mais direcionada”, afirma Carlos Komatsu, do departamento de tecnologia do ar da Cetesb.
Poluição é ruim sempre, mas no inverno há complicações como a baixa umidade e a inversão térmica, a formação de um
“tampão” de ar quente que bloqueia a camada de ar frio. Além disso, um estudo da Cetesb demonstrou que, em relação ao
verão, há um aumento de 80% na concentração de poluentes. “É importante ter noção da qualidade do ar. Correr nas avenidas
poluídas, por exemplo, não é uma boa medida. A pessoa inala mais poluentes”, diz Alfésio Braga, do Núcleo de Estudos de
Doenças Relacionadas à Poluição do Ar, da Universidade Federal de São Paulo.
As conseqüências mais conhecidas da poluição no inverno são irritação nos olhos e asma. Mas a ação dos poluentes é
mais abrangente. Um estudo da Escola de Saúde Pública de Harvard (EUA) mostrou, recentemente, que pessoas com
algumas enfermidades crônicas estão mais ameaçadas de morrer quando expostas a uma determinada partícula da poluição
atmosférica. O trabalho comparou dados da saúde de pacientes de 34 cidades e a média de presença no ar de um poluente,
o MP10. Ele é tão pequeno que representa um sétimo da largura de um fio de cabelo. Descobriu-se que aumentos da
concentração desse elemento por mais de dois anos corresponderam a um crescimento do risco de morte de 32% para
diabéticos, 28% para portadores de doença pulmonar obstrutiva crônica ou DPOC, 27% para quem tem insuficiência
cardíaca e 22% para portadores de males inflamatórios, como artrite reumatóide.
Alterações climáticas, como a onda de calor que está marcando o verão europeu e até o inverno brasileiro, também
ameaçam a saúde. No nosso caso, porque a umidade se reduz ainda mais e a poluição se intensifica. No deles, porque a
temperatura elevada para os padrões da Europa está matando gente. Na semana passada, enquanto a capital paulista
registrava seu menor índice de umidade do ar do ano (23%), a vigilância sanitária da França anunciava que mais de 20
pessoas morreram por causa do calor. A razão mais comum é a desidratação. “Muitos idosos não sentem sede e não
percebem que o organismo quer repor líquido. E os rins têm maior dificuldade em reter água”, diz o nefrologista paulista
Roberto Zatz. Uma das conseqüências disso é o aumento da concentração de minerais no corpo, especialmente de sódio, o
que pode levar a distúrbios neurológicos, como a convulsão e o coma. “Há ainda a possibilidade de intoxicações alimentares
e quedas por causa da redução na pressão arterial”, alerta o médico Marcos Boulos, do Ambulatório do Viajante da
Universidade de São Paulo. Com tudo isso, se a onda de calor excessivo persistir, tanto eles quanto nós torceremos pelo
mesmo acontecimento: chuva.
(Por Lena Castellón, IstoÉ, 02/08/2006)
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