Desde que as empresas de celulose se instalaram no município de Teixeira de Freitas, no extremo sul da Bahia, a tradição
deu lugar a um novo cenário. A voz do peão chamando o gado quase já não é mais ouvida pela vizinhança das fazendas. Nos
últimos 14 anos, as pastagens estão sendo ocupadas por bosques de eucaliptos que já se espalham por 390 mil hectares em
toda a região.
Essa transformação em curso no território baiano é uma amostra do que poderá ocorrer em breve nos campos gaúchos, onde
o eucalipto começa a tomar conta do espaço dedicado à pecuária. No Sul da Bahia, o impacto do novo negócio tem um
motivo prático: a alta lucratividade.
De acordo com os cálculos de produtores rurais da região, a rentabilidade do eucalipto por hectare é oito vezes superior à do
boi. Só o que ainda segura a expansão das áreas florestais é a paixão de algumas famílias pela pecuária. A solução foi
investir na produção integrada, o consórcio entre pecuária e eucalipto.
O produtor Leodônio Ferreira, o primeiro da região a apostar no eucalipto, começou há 13 anos plantando 300 hectares. Hoje,
as árvores ocupam 1,5 mil hectares. Ele revela que foi com o dinheiro do eucalipto que conseguiu sustentar a família e garantir
a educação dos quatro filhos. Além de ser pioneiro na cultura do eucalipto, Ferreira criou um novo sistema de plantio em
faixas que permite a entrada de luz na floresta, favorecendo as pastagens.
Advento da celulose valorizou hectare de terra no município
E não foi apenas a paisagem que mudou. A terra está mais valorizada. Segundo os produtores, há seis anos um hectare era
vendido a R$ 700. Hoje, vale R$ 5 mil. Para Luiz Cornacchioni, gerente da unidade de negócio florestal da Suzano Papel e
Celulose - uma das indústrias instaladas na região - a justificativa é a lei da oferta e da procura.
O prefeito de Teixeira de Freitas, padre Apparecido Staut (PSDC), alerta, porém, para os efeitos colaterais da expansão
industrial. Os pequenos agricultores que, empolgados com o preço do hectare, vendem a terra e vão morar nas cidades.
Quando o dinheiro acaba, eles ficam sem renda nem emprego. Na sua opinião, as indústrias deveriam investir em projetos
sociais.
Os benefícios
>De acordo com os técnicos, a produtividade é de 220 metros cúbicos de madeira por hectare. Depois de entregar a madeira
à empresa para cobrir os empréstimos e os custos de produção, sobram 92 metros cúbicos para o produtor. A empresa paga,
hoje, R$ 52,84 por metro cúbico. O lucro após a colheita será de R$ 4,8 mil por hectare.
> Os agricultores afirmam que, depois de seis anos, o lucro de uma floresta de 25 hectares é de R$ 150 mil. Se eles
utilizasses essa mesma área para pecuária, com uma média de dois animais por hectare, a renda do produtor seria de R$
24,3 mil .
> Segundo a Associação das Empresas Prestadoras de Serviços do Sul da Bahia, a silvicultura gera na região 5.516
empregos diretos por ano. O gasto com salários é de R$ 45 milhões/ano e o Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza
recolhido é de R$ 7,5 milhões em nove cidades.
O lucro da floresta
Uma produção que não pára. Em Teixeira de Freitas, a colheita de eucalipto é feita durante o dia e a noite. A adesão a esse
ritmo foi a solução encontrada pelo ex-técnico administrativo Edson Silva. Ele mudou de profissão. Antes recebia R$ 750 por
mês. Após um treinamento de nove meses proporcionado pela empresa de reflorestamento, hoje atua como operador de
máquinas com um salário mensal de R$ 1.485.
Além da qualificação da mão-de-obra local, as empresas de celulose seduzem os pecuaristas com incentivos à migração para
a silvicultura. Eles têm um contrato de fomento, pelo qual o agricultor entra com a terra e a empresa financia cerca de R$ 2 mil
por hectare. Insumos, mudas e assistência técnica ficam por conta das indústrias. O prazo de pagamento é de seis anos
após a primeira colheita e o débito é revertido em metros cúbicos de madeira. Para o coordenador de fomento da Aracruz
Celulose na Bahia, Rildo de Paula, a vantagem para os produtores é que eles ficam livres dos juros.
- O produtor tem garantia de mercado e a dívida dele não vai aumentar - destaca Rildo.
Foi o que atraiu o produtor Darilo de Souza, hoje presidente do Núcleo de Eucalipto.
- Economicamente é mais viável nós temos mercado garantido e incentivo - afirma Darilo.
(Por Ana Assumpcao,
Zero Hora, 31/07/2006)