Os interesses econômicos envolvidos nas indústrias de veículos representam a maior resistência para o desenvolvimento mais rápido dos veículos elétricos. De acordo com o presidente da Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Rogério Belda, boa parte da industria internacionalrealizou grandes investimentos na base tecnológica atual e não pretende mudá-la. Na opinião dele, mesmo com a redução da oferta de petróleo, as alternativas de combustíveis líquidos, inclusive combinadas, para o abastecimento dos veículos permitem a adequação a novas situações, sem a necessidade de mudar a base tecnológica.
“Essa resistência da indústria automobilística é preocupante porque, hoje, a problemática ambiental ampliou-se muito. A preocupação do passado com o monóxido de carbono agora abrange as sérias conseqüências para a camada de ozônio. Nos grandes centros, se a culpa pela poluição recaía para as indústrias. Sabemos agora que, nas grandes cidades, 80% dos problemas ambientais estão ligados aos transportes”, lembra.
Belda coordenará o workshop VE nos Transportes Públicos que acontecerá durante o VE 2006 - 4° Seminário e Exposição de Veículos Elétricos, organizado pelo Instituto Nacional de Eficiência Energética (INEE). O evento será realizado nos dias 15 e 16 de agosto, na Escola Senai Mário Amato – Faculdade Senai de Tecnologia Ambiental (Avenida José Odorizzi, 1555), em São Bernardo do Campo, São Paulo.
“O debate que está sendo organizado pelo INEE lança uma esperança desse caminho que já se mostra possível. Mas as industrias e grande parte das pesquisas ainda continuam voltadas para outros propósitos de não utilização dos derivados de petróleos ou da combinação de mais de um combustível líquido, como os bimodos (álcool, gasolina e bioenergéticos). Se, por um lado, essas pesquisas buscam alternativas para o consumo dos derivados de petróleo, de outro não resolvem o problema da poluição”, diz.
O presidente da ANTP ressalta que, apesar do veículo elétrico ser o único não poluente, seu preço tem sido um obstáculo, assim como o seu desempenho. “Pessoalmente, acredito que esses veículos terão uma evolução muita rápida, como tem acontecido em todos os novos campos da tecnologia. O setor de transporte público, que é minha especialidade, embora tenha dificuldades na questão tecnológica, certamente acabará sendo beneficiado pelo desenvolvimento feito por seu principal concorrente, que é o transporte individual”, acredita.
Poluição é o problema
Por ser uma associação que agrupa diversas entidades, órgãos governamentais e universidades, a ANTP tem grande interesse nas novas tecnologias, considerando que o desenvolvimento dos equipamentos de sistemas e controle influenciam no transporte das cidades, desenvolvimento urbano e na defesa ambiental.
“O desenvolvimento dos veículos elétricos (VEs) tem dois aspectos de interesse para a ANTP. O principal, é o da prestação de serviços para a população. O outro, é a repercussão ambiental do transporte das cidades. Desta forma, é preciso, rapidamente, adotar duas linhas de atuação: priorizar a utilização de tecnologias menos poluentes e trabalhar para a redução das emissões dos atuais veículos“, explica.
Redução das emissões
Belda lembra que existe um programa governamental federal para a redução dae emissões que está mais voltado para a fabricação dos veículos e com o compromisso dos fabricantes em adotar motores menos poluentes. No entanto, grande parte da frota existente necessita de manutenção constante, o que não é feito de maneira rigorosa. “É possível controlar as grandes empresas, mas não os autônomos e o transporte individual, pois não existe fiscalização e nem punição”, lembra.
Quanto ao transporte público, a utilização filtros e catalisadores na frota atual exigem um combustível de melhor qualidade, como a melhoria do próprio diesel, por exemplo, que vem sendo desenvolvida pela Petrobrás. “Mas o mais eficiente é a possibilidade da utilização de veículos que consumam energia menos poluente – ou não poluentes – que éa eletricidade.”, diz.
O presidente da ANTP argumenta que o gás é apresentado como grande vantagem por não emitir material particulado, mas não elimina a produção de monóxido de carbono (CO) e dióxido de carbono (CO2); o biodiesel representa muito mais uma questão de disponibilidade de combustível do que a redução da poluição, porque tem o mesmo efeito do diesel comum quanto às emissões, e o álcool reduz parte de fuligem, mas tem a poluição dos aldeídos.
“Não existe uma solução perfeita. Por isso chamamos a atenção para a possibilidade do uso de eletricidade por meio da grande família de VEs. Em seminários internacionais tenho visto veículos elétricos interessantes para o transporte público, com design arrojado, mas são apenas protótipos. O desenvolvimento tecnológico é mais fácil nos paises ricos, porém temos que lembrar que o Brasil, em campos diversos, tem obtido muito sucesso com a adaptação de tecnologia para as suas necessidades. Dentro da atividade de transportes, esse aperfeiçoamento incremental tem feito com que o Brasil consiga soluções bastante interessantes”, diz.
Seminário
O VE 2006 - 4° Seminário e Exposição de VeículosElétricos, organizado pelo INEE - Instituto Nacional de Eficiência Energética, debaterá todos os aspectos relacionados aos veículoselétricos, sejam a bateria, híbridos e de célula a combustível: os tipos, a eficiência, o mercado, as pesquisas, a divulgação e a matriz energética. Além do seminário, haverá exposição com as novidades dos mercados que envolvem os veículos elétricos, aberta ao público em geral.
O programa conta com palestras, painéis, mesa redonda e workshops dos quais participarão convidados nacionais e internacionais de grande expressão, que informarão e discutirão sobre este novo paradigma que revoluciona os setores automotivo, de transporte, energético e ambiental.
Os temas escolhidos são: Tipos de veículos elétricos e evolução esperada; Os veículos elétricos e a matriz energética brasileira; Ensino e pesquisa em veículos elétricos: preparando a geração de técnicos; A economia do hidrogênio, células a combustível e os veículos elétricos; Perspectivas para os acumuladores de energia nos veículos elétricos; Soluções para transporte de carga e logística; Veículos elétricos e transporte público; Ações para promoção dos veículos elétricos no Brasil e na América Latina; Regulamentação para veículos Elétricos; Veículos elétricos: eficiência e meio ambiente e Empresas de energia elétrica e os veículos elétricos.
O patrocínio é da UTE Norte Fluminense (UTE), da CPFL Energia, da Fundação Hewlett (Hewlett), da AES Eletropaulo (AES), do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e da Eletra Industrial (Eletra) e o apoio das seguintes entidades: Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Associação Nacional de Transportes Públicos (ANTP), Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE), Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Centro Universitário da FEI (Faculdade de Engenharia), Centro Nacional de Referência em Energia do Hidrogênio (CENEH).
(Por João Lino,
VE 2006, 31/07/2006)