Artigo - Mudando paradigmas em educação ambiental
2006-07-31
Por Roosevelt S. Fernandes *
A formatação da maioria dos programas de Educação Ambiental está sustentada na experiência da equipe de educadores ambientais que os estrutura. Portanto, quanto maior for tal experiência, maior será a adequação entre o que se está oferecendo e as efetivas necessidades/demandas da sociedade. Outro fato que merece destaque é que a maioria dos programas de Educação Ambiental não apresenta, associados a eles, sistemas de avaliação dos resultados alcançados, ou seja, a avaliação da eficácia dos mesmos. Obviamente não queremos dizer que eles não geram resultados em termos da mudança de comportamento ambiental dos envolvidos, mas sim enfatizar a necessidade de tais resultados serem avaliados, servindo de base para a sustentação de novos programas, onde disfunções do conhecimento ambiental remanescentes possam ser incluídas/reforçadas.
O volume de recursos alocados neste tipo de atividade quer pelo Poder Público como pelo setor empresarial privado é muito expressivo, fato que fundamenta a necessidade de reavaliar tal situação e, sobretudo, alterar paradigmas, propondo e implementando outras propostas que possam assegurar uma forma de abordagem voltada à estruturação mais eficaz de programas de Educação Ambiental.
Com este objetivo o Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA, desde 2003, quando de sua criação, vem se concentrando no estudo da percepção ambiental de segmentos formadores de opinião, centrando foco nas áreas educacional, social e ambiental, contando com uma significativa produção cientifica divulgada em publicações de âmbito nacional, bem como apresentações em eventos científicos em diferentes pontos do país, sendo quatro delas em eventos de âmbito internacional. Inclusive, através da rede "Working Together", que reúne professores de vários países, já mantém um ativo programa de cooperação com Portugal, bem como perspectivas de interação com outros países, caso da Bélgica, Itália e Japão.
O núcleo desenvolveu metodologia própria para o diagnóstico do perfil da cidadania ambiental de estudantes dos segmentos de ensino fundamental, médio, médio-técnico e superior que, por convênio de cooperação técnica, vem disponibilizando para outras instituições de ensino e da sociedade civil organizada, no Espírito Santo e de outros estados.
Como exemplos, com o CEFET-RJ, foi concluída uma pesquisa sobre o perfil da cidadania ambiental de estudantes do ensino médio-técnico. Em apoio à Comissão Estadual de Organização da Conferência Estadual Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente foi desenvolvido o perfil de estudantes do ensino fundamental que participaram da Conferência, envolvendo mais de 50 municípios do estado. No âmbito do ensino superior, em fase final de tabulação de dados, convênio com a Faculdade novo Milênio, que deverá gerar o perfil do estudante do ensino superior, envolvendo mais de 20 cursos.
Mais recentemente, através de Termo de Compromisso firmado entre a Coordenação-Geral de Educação Ambiental, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação, a mesma metodologia foi aplicada aos mais de 600 delegados de todos os estados (estudantes do ensino fundamental de escolas públicas e privadas) participantes da II Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente, realizada em Brasília nos dias 23 a 28 de abril.
Deste modo, progressivamente, estão sendo formados bancos de dados sobre a cidadania ambiental de jovens de diferentes níveis de ensino, que irão servir de base (quantitativa) para o complemento das experiências pessoais dos diferentes grupos de educadores ambientais (âmbito dos estados e federal) quando da estruturação de programas de Educação Ambiental (pré-diagnóstico das efetivas necessidades deste segmento), bem como servir de apoio para a própria avaliação da eficácia dos programas implantados, dado que, com a periódica avaliação dos perfis de cidadania ambiental, poderão ser identificadas disfunções de conhecimento ambiental que ainda persistem e necessitam de ações complementares.
Em síntese, uma mudança de paradigma na área da Educação Ambiental que desponta como uma ação complementar às iniciativas já conhecidas, baseada no uso da percepção ambiental como instrumento de gestão, estando o núcleo aberto a efetivação de parcerias que visem ampliar os bancos de dados já consolidados, bem como aprimorá-los.
* Roosevelt S. Fernandes é Coordenador do Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA-UNIVIX
(Adital, 28/07/2006)
http://www.adital.org.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=23716