Calor que mata: México enfrenta temperaturas que chegam à 49,2 graus à sombra
2006-07-31
Como ocorre em alguns países europeus e nos Estados Unidos, o norte do México sofre uma onda de calor, com temperaturas de até 49,2 graus à sombra, que já causou a morte de 25 pessoas desde junho. O fenômeno climático poderia se prolongar por mais quatro a seis semanas, alertou Jaime Albarrán, do Serviço Meteorológico Nacional. Na cidade de Mexicali foi registrado o maior número de mortes. A onda de calor também afeta os Estados de Sonora e Chihuahua, no norte, cujas fronteiras são permanentemente cruzadas por latino-americanos que tentam ir para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor.
Homens e mulheres, que pretendem entrar no vizinho do norte sem a documentação necessária devem atravessar uma extensa zona desértica sob o inclemente sol. Esta semana, o consulado mexicano em Calexico, a cidade mais ao sul do Estado norte-americano da Califórnia, informou a morte de seis imigrantes. A falta de uma política pública preventiva faz com que fenômenos naturais cíclicos, e de alguma forma previsíveis, causem a morte de pessoas, disse à IPS Arturo Moreno, responsável pelo programa Energia e Mudança Climática da organização ambientalista Greepenace.
Segundo o informe de 2004 da independente Federação Internacional de Sociedades da Cruz Vermelha, este fenômeno climático pode ser previsto com três dias de antecedência, permitindo, assim, avisar a população. “O México é um país vulnerável diante dos fenômenos meteorológicos e climáticos”, acrescenta Moreno. “Apesar de existirem estudos, com base nos quais é possível antecipar catástrofes, não são levados em conta para prevenir a população. Uma onda de calor ou chuvas torrenciais não causam os mesmos estragos em Calexico como em Mexicali. Nos falta preparação”, assegurou.
No entanto, o diretor do governamental Sistema Nacinoal de Proteção Civil, Arturo Vilchis, disse à IPS que foram reforçadas as medidas de cuidado com a população, bem como as recomendações sanitárias para evitar problemas gastrointestinais e respiratórios. Vichis informou que desde junho morreram 25 pessoas por causa do calor, além de outras 22 por razões ligadas à intensas chuvas no sul do território mexicano. O meteorologista Albarrán descartou que esta onda de calor seja um fenômeno anormal, “que tem algo a ver com o aquecimento global da Terra, mas não enfrentamos uma catástrofe, pois a cada ano, nesta época, o país sente o efeito de elevadas temperaturas”, explicou.
Por outro lado, o estatal Sistema de Proteção Civil na Baixa Califórnia disse que ano é o ano mais quente dos últimos cinco. A média anual de mortes, para o período entre 2001 e 2005, foi de três pessoas durante toda a temporada de calor, que compreende de junho a agosto. A Proteção Civil acrescenta que as altas temperaturas poderiam estar relacionadas com vários incêndios florestais em território norte-americano e em lixões de Mexicali, o que pode ter aumentado em até três graus a temperatura. Em sonora, onde foram registradas temperaturas de até 48 graus, com 32% de umidade, as autoridades sanitárias informaram sobre a hospitalização de 23 pessoas por desidratação e duas pelo chamado “golpe de calor”, a insolação que afeta a regulagem da temperatura corporal e que pode causar a morte se a pessoa não for atendida a tempo.
Também foi anunciada a distribuição de soro para hidratação e a população está sendo orientada através de uma campanha nos meios de comunicação sobre as medidas que deve tomar para enfrentar os efeitos do intenso calor. Paralelamente, o Ministério da Saúde do México informou que o Centro Nacional de Vigilância Epidemiológica e Controle de Enfermidades está atendendo a população através de 18 mil centros médicos, aos quais comparecem pessoas com problemas associados às altas temperaturas, como insolação, desidratação e diarréia. Espera-se que os remanescentes de chuva gerados pela tempestade tropical Emília, no oceano Pacífico, ajudem a amainar a onda de calor, disse Albarrán.
As autoridades da Proteção Civil indicaram que reforçarão as medidas preventivas nos pontos de maior movimento de emigrantes com destino aos Estados Unidos. Informações do Serviço Meteorológico Nacional disseram que o último inverno no México foi o mais seco dos últimos 65 anos, que durante a primavera as chuvas foram escassas e, ainda, que este verão está sendo extremamente quente no norte. Segundo o Greenpeace, para os próximos anos as zonas urbanas sentirão com mais força os efeitos da onde de calor, devido à retenção da temperatura pelos muros de concreto, ao desmatamento nessas zonas e pela mudança climática.
(Por Adrián Reyes, Envolverde, 28/07/2006)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=20317&edt=1