Cresce o negócio da conversão de excrementos de suínos em créditos de carbono
emissões de co2
2006-07-31
Sustentável é um adjetivo da moda, embora muitos projetos assim chamados não o sejam. É bastante difícil aliar proteção ambiental ou algum tipo de benefício ecológico ao crescimento econômico. Mas isto seguramente não é o que acontece com os trabalhos que vêm sendo levados a cabo desde o final de 2004 pela AgCert, no Brasil, na Argentina e no México. A empresa, de origem Irlandesa, prova que a biodigestão de excrementos de suínos pode não apenas resolver o problema ambiental causado por esse tipo de matéria orgânica, mas gerar créditos de carbono dentro do esquema chamado MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – do Protocolo de Kyoto.
Na prática, funciona como um esquema de compensações: os excrementos geram dióxido de carbono, um dos gases causadores do famigerado efeito-estufa, responsável pela elevação média das temperaturas globais, o que, por sua vez, leva a catástrofes como furacões e outros fenômenos extremos. Ao invés de ficar agravando o efeito-estufa, o CO2 gerado pela matéria orgânica suína é transformado em gás metano e queimado, eliminando agravantes à ameaça planetária do aquecimento. E, melhor que isso, os criadores que aderirem ao esquema recebem uma espécie de bônus denominado Redução Certificada de Emissões, que equivale a dinheiro. Ao mesmo tempo, o governo e empresas irlandesas conseguem diminuir seu excesso de emissões de CO2, podendo cumprir as metas estabelecidas de redução de gases de efeito estufa, estipuladas pelo controverso Protocolo de Kyoto, que demorou de 1997 a 2005 para sair do papel.
Segundo o técnico Miguel Gastão de Oliveira, gerente de Avaliações de Agregações da AgCert, os Estados de Santa Catarina e do Paraná concentram a maior parte das adesões ao projeto (70%), mas também há grande demanda no interior de São Paulo, Minas Gerais e Goiás. Para viabilizar a instalação dos equipamentos, é necessário haver uma escala mínima – 4 mil suínos em estágio de engorda, com peso entre 20 e 24 quilos cada um. Neste caso, o dono dos animais não precisa entrar com capital próprio e, no final do período de dez anos, recebe os equipamentos. Mas quem tem menor número de animais também pode aderir, caso haja associação com outros criadores. “A procura na Região Sul é muito grande, conseguimos viabilizar projetos em integração com pequenas cooperativas, com o apoio das prefeituras locais, em contratos do tipo guarda-chuva”, explica Oliveira. É o caso da Coopercampos, cooperativa de Campos Novos (SC), e da Cooperio, nas proximidades de Chapecó (SC).
No caso de cooperação, os créditos vão para a cooperativa, e cada proprietário recebe de acordo com o número de animais e por volume de gás produzido.No Rio Grande do Sul, conforme o técnico, tem havido bastante procura pelo sistema, porém a maior parte dos proprietários apresenta escala muito reduzida, o que dificulta a integração.
Tecnologia
O volume de gás produzido por quantidade de excremento em cada módulo varia com a eficiência do sistema. Oliveira garante que toda a tecnologia de equipamentos, assim como os materiais, é de origem brasileira: lonas, queimadores de combustível, biodigestores. “Temos três modelos de biodigestor, um deles desenvolvido por pesquisadores da Unesp (Universidade Estadual Paulista), de Jaboticaba (SP), outro pelo pessoal da Embrapa de Concórdia (SC), e outro pela AgCert, aqui no Brasil”, informa. O gás é queimado num flaire, dispositivo que serve para concentrar a mistura gasosa e garante a segurança do sistema. Do outro lado do oceano, o governo irlandês e empresas, especialmente dos setores automobilístico e de energia, conseguem reduzir as emissões de dióxido de carbono, via MDL. Do lado de cá, os produtores lucram com o aproveitamento do que seria um passivo ambiental, caso ficasse sem tratamento. Uma vez processadas as fezes dos suínos, e convertidas pelo biodigestor, resta um efluente, que deve receber tratamento. De acordo com Oliveira, uma vez tratado, esse efluente pode ser utilizado para a irrigação da lavoura.
O valor do crédito de carbono, conforme a AgCert, começou com os preços entre €7 e €9 (sete a nove euros) por tonelada e com volume diário de 50 mil a 750 mil toneladas. Em meados de março de 2006, os preços tinham chegado a €26 (26 euros) por tonelada, e os volumes de negociação diários tinham alcançado a marca de 2,5 milhões de toneladas. Isto significa que quanto mais difundido o sistema, maiores os ganhos para os investidores.
Gás
O gás metano, hoje queimado, poderia ser reaproveitado pelos criadores. Conforme o técnico, no entanto, isso exigiria investimentos adicionais que hoje não são tão favoráveis, em razão dos elevados custos. “Do gás produzido na biocombustão, somente 60% são metano – CH4 -, sendo o restante gás sulfídrico e CO2. Para se obter eficiência na queima a ponto de reaproveitar o gás como combustível, seriam necessários sistemas de filtragem melhor desenvolvidos”, detalha.
Embora o Protocolo de Kyoto termine oficialmente em 2012 – pelo menos enquanto não houver uma nova negociação que o estenda ou modifique –, os projetos da AgCert são garantidos para dez anos, o que significa que adesões firmadas em 2006 expiram somente em 2016.
Presidente
No final do ano passado, o presidente da AgCert Internacional, Merrick G. Andlinger, apresentou um relatório com informações sobre o negócio da empresa:
“Tenho o prazer de apresentar os balanços financeiros preliminares verificados pela AgCert internacional Plc para o período compreendido entre 8 dezembro de 2004 e 31 dezembro de 2005. O primeiro ano da AgCert como uma empresa de capital aberto foi repleto de realizações, desafios e oportunidades. O mundo do carbono desenvolveu-se rapidamente durante o período, da mesma forma que a empresa.
O negócio da AgCert é a produção e venda de reduções de emissões de gases do efeito estufa (referidos como “offsets”) oriundas do agronegócio em escala industrial. O método envolve a captura e a combustão do biogás que contém gases causadores do efeito estufa, principalmente metano, emitidos por Sistemas de Manejo de Dejeto Animal (SMDAs). Para conseguir isto, a AgCert desenvolveu sistemas próprios de dados e processos que foram projetados para ser inteiramente escalonáveis e adaptáveis aos SMDAs de grandes operações de criação de animais confinados, incluindo suínos, rebanhos de leite e aves.
Desenvolvimento de mercado
O Mercado Europeu de Emissões (European Union Emissions Trading Scheme – EU ETS) foi lançado em janeiro 2005 e criou o principal mercado para o negócio da AgCert. O Protocolo de Kyoto entrou em vigor em fevereiro de 2005 estabelecendo um sistema de redução de emissão de gases causadores do efeito estufa global. Companhias que produzem mais do que seus limites de gases causadores de efeito estufa, de acordo com os termos de Kyoto, precisarão comprar “offsets” ou créditos para cobrir os excessos ou encarar pesadas multas. Nas negociações de Permissões da União Européia da União (European Union Allowances) o valor para o crédito de carbono começou com os preços entre €7 e €9 por tonelada e com volume diário de 50.000 a 750.000 toneladas. Em meados de março de 2006 os preços tinham chegado a €26 por tonelada e os volumes de negociação diários tinham alcançado a marca de 2,5 milhões de toneladas. Após muita expectativa, foram lançadas as primeiras RCEs do mundo em outubro de 2005, relativas a projetos hidrelétricos realizados em Honduras.
Desempenho operacional
Ao contrário desse cenário de mercado, a AgCert desenvolveu-se rapidamente, expandindo suas operações inicialmente no Brasil e no México, estabelecendo operações em novos lugares, tais como o Chile e a Argentina, e estendendo suas atividades a novo setores do agronegócio, tais como o da produção de laticínios e da avicultura.
De uma base inicial, em 8 de dezembro 2004, de 20 empregados e oito biodigestores concluídos, a AgCert chegou hoje a mais de 220 empregados e mais de 400 biodigestores prontos.
A AgCert é pioneira no mercado de carbono e conseguiu crescimento rápido. Nessa nova indústria, o processo MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo) cria verificações e balanços necessários, mas se mantém comercialmente desafiador uma vez que os reguladores e os participantes desse mercado buscam ganhar experiência. Pelo crescimento rápido, a empresa garantiu uma presença significativa do mercado no Brasil e no México, mas com um custo de uma reestruturação organizacional na segunda metade de 2005 e despesas de construção mais elevadas do que o esperado, já que algumas localidades, especialmente no Brasil, estavam abaixo de nosso tamanho mínimo de atuação e outras necessitavam de trabalhos corretivos para atingir os padrões de construção da empresa. Isso resultou num atraso na execução dos planos de negócio da empresa, entretanto, acreditamos que esta é uma simples questão de tempo e, examinando o ambiente positivo do mercado de créditos de carbono, nós continuamos otimistas com relação à visão de negócios a longo prazo.
A AgCert garantiu seus primeiros RCEs na última semana. O Comitê Executivo das Nações Unidas para Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL) anunciou, em 31 março e 3 abril respectivamente, que autorizou a emissão de RCEs dos projetos do México e do projeto de manejo de dejetos animais da Granja Becker no Brasil.
A AgCert tem assegurados contratos de vendas antecipadas de aproximadamente €94 milhões (excluindo o pagamento prévio de AES), e vislumbra uma grande quantidade de potenciais futuros clientes. Como conseqüência do atraso de execução do plano de negócios, a empresa tem trabalhado com seus clientes com o intuito de cumprir sua agenda regulatória e de produção, revisada e atualizada, atendendo às exigências de entrega dos clientes.
Despesas principais de €41,3 milhões no período refletiram a construção de biodigestores no México e no Brasil. Custos operacionais de €16,6 milhões refletem as despesas operacionais verificadas com o suporte à execução do plano.
Requisitos principais
O IPO das ações da AgCert em junho de 2005 levantou rendimentos brutos de €91 milhões para a empresa. Desde então, progressos significativos foram feitos em relação ao plano para as instalações dos biodigestores. A AgCert pretende explorar novas fontes fornecedoras na América Latina durante 2006 e também está pesquisando fontes fornecedoras em territórios novos, com vistas a expandir-se além de sua presença geográfica já firmada. Para manter o que atingiu até o momento, a empresa está engajada em levantar, para os próximos anos, fundos adicionais despesas principais e operacionais. Desde 31 de dezembro de 2005, a AgCert:
negociou um pagamento pré-fixado de até €60 milhões da AES Corporation para a compra de RCEs, a serem entregues entre 2008 e 2012. Como parte deste acerto, a AgCert irá assegurar aos compradores em cada retirada dos fundos que representará um total máximo de 5.266.656 ações ordinárias, que serão exercidas por um período de cinco anos da data da concessão (mas não antes de 1º de junho de 2007) a um preço de exercício de 115% do preço de mercado na data da concessão.
assinou contrato para colocação de novas ações com a AES no montante de 9,9% do atual capital de ações emitidas com preço de €2,66 por ação. Esta colocação está sujeita à aprovação final da diretoria da AES e dos acionistas da Agcert International Plc. Como parte do acordo, a AgCert e a AES concordam em buscar iniciativas estratégicas adicionais.
Avançou em negociações com a Corporação Financeira Internacional (International Finance Corporation, o setor de empréstimos privados do Banco Mundial) e um grupo de bancos internacionais para a obtenção de uma linha de crédito de até €120 milhões.
Avanços do corpo diretor
Em 13 de setembro de 2005, AgCert anunciou que Bill Haskell, diretor, ocuparia interinamente a posição de CEO, em substituição ao CEO anterior. Sob a liderança de Bill, foi alcançado um significativo progresso e, para manter este momento, a Diretoria tem o prazer de anunciar que Bill aceitou o cargo permanente como CEO.
Outlook
Diferente de muitos negócios, a produção da empresa não começa do zero a cada ano, mas ao contrário, cresce sobre os períodos prévios. Para 2006 e posteriormente, a AgCert pretende concentrar-se na identificação de fontes seguras para gerar RCEs, construindo biodigestores no prazo e dentro do orçamento e operar e manter as instalações a longo prazo.
A AgCert opera sob a égide de Desenvolvimento Limpo e incorpora os ideais do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo – trazer novos capitais de investimento e tecnologia para países em desenvolvimento e desenvolvimento econômico sustentável, enquanto melhora o meio ambiente. A empresa trabalha de acordo com os padrões e políticas sociais do Banco Mundial.
Os sinais da mudança global do clima foram bastante evidentes em 2005, com incomuns temperaturas locais, tempestades extremas e degelos glaciais e nos pólos. O problema é claro, assim como é a oportunidade. Ao contrário desse cenário, o crescimento rápido do mercado de carbono e as realizações da empresa até o momento dão à Diretoria uma visão positiva do futuro."
(Por Cláudia Viegas, com apoio da ADS Assessoria de Comunicações/SP, 31/07/2006)