Por um lado, o desenvolvimento econômico da zona sul do Estado com rodovias sendo
duplicadas, um pólo naval se formando e novas empresas prestes a se instalar. Por outro,
uma população de animais selvagens sendo atingida pela movimentação nas estradas. A
BR-471, entre Rio Grande e Chuí, ilustra bem este problema, pois corta a Reserva
Ecológica do Taim.
Uma pesquisa da Universidade Católica de Pelotas (UCPel) vem avaliando o impacto na fauna
local dos constantes atropelamentos na rodovia. Os resultados preocupam os especialistas.
Há espécies que correm perigo de extinção tamanha a dizimação dos animais. O projeto
Estrada Viva começou em 1998, com a análise de animais afetados junto ao Taim. De lá pra
cá, o projeto ampliou sua área de atuação e, desde 2002, com o apoio da Fundação O
Boticário de Proteção à Natureza, monitora também a BR-392, entre Pelotas e Rio Grande.
Segundo o coordenador da pesquisa, Alex Bager, em quatro anos foi possível verificar que
as rodovias afetam 17 espécies de répteis, 53 de aves e 19 de mamíferos. Os números podem
ser maiores porque há animais impossíveis de identificar.
A espécie mais afetada é uma cobra, que teve 666 exemplares atropelados.
Entre as aves, há o coleiro-do-brejo (Sporophila collaris) e, entre os mamíferos, o
gato-do-mato e a lontra em perigo.
Nova etapa da pesquisa recomeça em agosto
Apesar do elevado número de mortes de ratões-do-banhado e capivaras, essas espécies se
recompõem rapidamente, uma vez que têm reprodução elevada.
- O problema está na mortalidade de lontras e gatos-do-mato. São animais predadores, não
gostam de sobreposição de outros indivíduos na sua localidade e têm reprodução lenta,
dificultando a reposição de animais mortos nas rodovias - explica.
A nova etapa da pesquisa recomeça em agosto e vai até julho de 2008, com o apoio de
pesquisadores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Os ameaçados de extinção pela rodovia
Gato-do-mato
A elevada incidência de atropelamento parece estar condicionada à presença da agricultura
do arroz. Acredita-se que eles se alimentem de roedores que habitam no meio da plantação
e acabam morrendo atropelados ao atravessar a rodovia.
Lontra
Estes animais vivem em canais próximo às estradas, estando presentes em lugares onde
esses canais cruzam por baixo da rodovia. É uma espécie aquática, alimentando-se de
peixes, principalmente, e chegando a pesar 12 quilos.
Soluções são difíceis
Fatores de desenvolvimento, como o escoamento das safras de grãos pelo porto de Rio
Grande ou a implantação de empresas de celulose na região, trazem a expectativa de que
o número de caminhões que passa pela BR-471 aumente em até 20 vezes na região do Taim.
O Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transportes (DNIT) diz que existiam cercas
de proteção no entorno da reserva, que foram derrubadas por uma enchente. Segundo o
responsável pelo órgão no sul do Estado, Wladimir Casa, dois contratos estão sendo
assinados, um para conservação e outro para sinalização:
- Em agosto, já estaremos recolocando as placas de alerta para os motoristas, não só na
área do Taim, mas em toda a extensão da rodovia.
Ele lembra que a BR-471 foi construída antes de a legislação exigir licenciamento
ambiental.
O pesquisador Alex Bager lembra que as cercas e os túneis têm de se adequar às espécies a
serem salvas.
-As empresas e o governo devem destinar parte dos recursos existentes para buscar essas
soluções - propõe Bager.
(Por Rodrigo Santos,
Zero Hora, 30/07/2006)