A idéia sempre foi considerada boa. Mas a lentidão do retorno econômico do investimento
afastou os interessados em mais uma tentativa de implantar a tão sonhada ligação por uma
hidrovia entre Porto Alegre e Guaíba. Mesmo assim, uma nova consulta popular deve ser
feita sobre o projeto.
Apenas uma empresa participou da licitação lançada em maio e foi desclassificada por
apresentar problemas na documentação. Com isso, o processo volta à estaca zero. Está sendo
planejada, por exemplo, para os próximos dois meses uma audiência pública entre
autoridades de Guaíba (prefeito e vereadores), a comunidade, empresas interessadas e
técnicos da Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) para
que seja organizada uma nova consulta popular sobre o futuro projeto da hidrovia.
- Acreditamos que os grandes grupos econômicos não tenham participado da licitação porque
desconhecem o potencial do investimento. Estão mais interessados em retorno imediato -
comentou Duarte de Souza Rosa Filho, 50 anos, engenheiro civil e técnico responsável pelo
Projeto da Hidrovia Porto Alegre a Guaíba, da Metroplan.
Pesquisa apontou problema com o fluxo de passageiros
O motivo da lentidão do retorno do investimento pode ser encontrado em uma pesquisa feita
ao longo de 1997 a 1998. A pedido de uma empresa interessada em investir na hidrovia, o
engenheiro civil Cylon Rosa Neto, 46 anos, fez um estudo de viabilidade econômica da
travessia e concluiu que o projeto apresentava tendência de inviabilidade porque o fluxo
de passageiros (calculado em 4,6 mil diários) se concentraria apenas em dois horários do
dia. Conforme o levantamento, no restante do tempo a estrutura ficaria ociosa.
- Nessa realidade é impossível competir com o transporte de passageiros por ônibus - diz
Neto.
Na pesquisa foram entrevistadas 1,2 mil pessoas e foi levada em consideração a possível
instalação de uma montadora da Ford em Guaíba, empreendimento que acabou não se
concretizando. O prefeito de Guaíba, Manoel Stringhini (PMDB), discorda do diagnóstico:
- Todos concordam que a travessia de barco entre Porto Alegre e Guaíba é uma solução
limpa, econômica e segura. Vai ser uma questão de tempo para viabilizarmos a idéia.
Por que é difícil
Os motivos que atrapalham a implantação da travessia de barco entre Guaíba e Porto
Alegre
1 - O risco de não haver retorno do capital investido é alto
2 - A navegação no Guaíba - pouca profundidade e freqüentes condições climáticas
desfavoráveis como ondas e nevoeiro - exige o uso de embarcações com tecnologia
sofisticada a bordo
3 - Como não há o hábito entre os usuários de utilizar transporte fluvial, é necessário
investimento alto na divulgação do serviço
Fonte: professor doutor Luis Antonio Lindau, coordenador do Laboratório de Sistemas de
Transportes (Lastran) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
O fluxo de passageiro seria de 4,6 mil pessoas por dia
(Por Carlos Wagner,
Zero Hora, 29/07/2006)