Acordo nuclear entre EUA e Índia não é uma boa idéia – editorial do NYT
2006-07-31
No ano passado, muitos no Capitólio reclamaram que o governo Bush levou desvantagem quando negociou um acordo de cooperação nuclear com a Índia. Mas com tanto dinheiro de lobbys pro-Índia sendo espirrado ali, as esperanças de que o Congresso fará algo para consertar parecem cada vez menores. O acordo permitirá que os Estados Unidos vendam tecnologia nuclear civil e combustível para Índia pela primeira vez desde o meio dos anos 70, quando a Índia desviou tecnologia civil para um programa de armas secreto.
Trazer a democracia mais populosa do mundo - e a 12ª maior economia - de volta ao programa nuclear não é necessariamente uma má idéia. O problema é que os Estados Unidos receberam muito pouco para tal. Nenhuma promessa indiana para parar de produzir material de bombas. Nenhuma promessa de não-expansão de seu arsenal. E nenhuma promessa pendente de não voltar aos testes nucleares (a Casa Branca também não prometerá isso).
Essa página já listou todos os custos de tornar o Tratado de Não-Proliferação Nuclear - do qual a Índia nunca participou - em queijo suíço, e isso inclui dificultar a restrição do Irã e da Coréia do Norte. Porém, se isso continua muito teórico, considere isso: um grupo de especialistas americanos revelou nesta semana que o Paquistão, vizinho e rival nuclear da Índia, está construindo um novo reator com capacidade de produzir plutônio o suficiente para 40 a 50 armas por ano. A Casa Branca, a qual insiste que o acordo indiano não estimulará uma corrida sul-asiática por armas, admitiu que sabia do reator paquistanês "há algum tempo".
Um exército de lobistas recebeu sua parte nesta semana, quando a Casa Branca aprovou o acordo indiano com restrições mínimas. Legisladores insistiram que deverão votar novamente após a administração receber um acordo formal. Mas isso tem muito mais a ver com prerrogativas políticas do que não-proliferação. E o resultado será o mesmo.
A versão atual do Senado, a qual provavelmente não sairá até setembro, é só um pouco melhor. Ela proíbe os EUA de venderem tecnologia a Índia que possa produzir combustível para reatores ou armas nucleares. Isso não impedirá a Índia de produzir mais material para bombas, porém os americanos poderão ficar mais sossegados, pois o equipamento não virá deles. É claro que, quanto mais urânio americano a Índia compre para seus reatores de energia, mais urânio terá para seu programa nuclear.
Enquanto isso, o primeiro ministro da Índia, Manmohan Singh, está sendo criticado em seu país pela menor possibilidade de que o Congresso americano restrinja qualquer parte do programa nuclear indiano. Isso sugere que Washington e Nova Delhi deveriam ter construído essa parceria com algo melhor do que um péssimo acordo nuclear.
(The New York Times, 28/07/2006)
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