Estudo disputa ligação entre efeito estufa e furacões
2006-07-31
Cientistas que ligam a crescente força dos furacões nos últimos anos ao aquecimento global não levaram em conta a tecnologia obsoleta usada para avaliar o poder das tempestades mais antigas, diz um estudo publicado na sexta-feira (28/07) na revista Science. A pesquisa de Chris Landsea, do Centro Nacional de furacões (NHC) dos EUA, desafia as conclusões de dois trabalhos publicados por respeitados climatologistas no ano passado.
Um dos trabalhos, de Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), foi considerado a primeira grande pesquisa a desafiar a crença de que o efeito do aquecimento global nos furacões era pequeno demais para ser medido, e que a mudança climática não afetaria as tempestades tropicais ainda por décadas. Se Landsea e seus co-autores estiverem corretos, há falhas fundamentais no argumento de Emanuel.
"A metodologia é boa. Não há problema no modo como analisaram os dados", diz Landsea, que é o responsável por ciências e operações no centro de furacões. "O problema está nos próprios dados". O novo estudo alega que os dados históricos sobre furacões estão obsoletos, porque novas tecnologias permitem uma estimativa melhor da força das tempestades. Em resumo, o número cada vez maior de furacões classificados nas categorias mais violentas, 4 e 5, seria devido não a um aumento real na quantidade dessas tempestades, mas na capacidade de classificá-las corretamente.
Emanuel fez pouco caso do novo artigo, afirmando que, em seu trabalho, esforçou-se bastante para levar em conta mudanças no método de avaliação da força das tormentas. "Eles ignoram o achado mais importante do meu trabalho: que a atividade de furacões no Atlântico está correlacionada à temperatura da superfície do mar, que é comparativamente bem medida", disse ele, via e-mail. "Isso não pode ser refutado evocando argumentos qualitativos sobre os dados". Landsea diz que não questiona o aquecimento global, nem o fato de que esse aquecimento poderá afetar os furacões. Ele afirma que não foi provado que esse efeito sobre as tempestades já se materializou.
(AP, 29/07/2006)
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