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2006-07-28
Há quarenta anos, dizia-se que haveria petróleo para quarenta anos. A profecia não se cumpriu devido ao esforço dos países produtores de explorar jazidas com melhores condições tecnológicas. Neste momento, as reservas mundiais se reduzem a 1,3 trilhão de barris de petróleo e a 173 bilhões de metros cúbicos de gás. Cifras que, ao ritmo de crescimento constante do consumo, e contando com as jazidas tradicionais, se traduzem em 40 anos de petróleo e 65 de gás natural.

A tecnologia poderá estender novamente o prazo limite, mas os mais otimistas afirmam que as fontes de energia alternativa acabarão antes com a superdependência atual dos combustíveis fósseis. "É de se esperar que a idade do petróleo termine porque o desenvolvimento de outras energias permitirá substituí-lo, mais do que por razões de esgotamento", ressalta José María Marín no informe "La energia que nos viene", da Fundação de Caixas de Poupança (Funcas).

Os Estados Unidos e a Europa são regiões importadoras líquidas de energia e, portanto, altamente vulneráveis à produção de hidrocarbonetos (petróleo e gás), que cobrem 65% do consumo energético. No outro extremo, as condições no Oriente Médio são as melhores condições: a região concentra 31% da produção mundial, e conta com 58% das reservas internacionais de petróleo e 42% das de gás.

O cenário atual, com o preço do barril acima de US$ 70, aparentemente se manterá nos próximos meses por um motivo geoestratégico. Os países produtores de petróleo são precisamente os que sofrem uma situação política mais instável, e por isso condicionam os preços e o crescimento da economia mundial. "A proximidade entre a oferta e a demanda no mercado de petróleo faz com que qualquer incidente se traduza em um aumento dos preços da energia", explica o autor do estudo.

Além de uma escalada da violência no Oriente Médio -- que poderá se estender ao Irã e à Síria --, Marín cita como exemplos os conflitos étnicos na Nigéria, as atividades nucleares no Irã contra a comunidade internacional, os furacões na América do Norte e a precária situação no Sudão. Não obstante, o verdadeiro núcleo geoestratégico do qual dependem os consumidores de petróleo e gás é formado por um triângulo: Irã, Iraque e Arábia Saudita. Em um segundo plano, Rússia, Venezuela e Bolívia têm um papel relevante.

A União Européia (UE) continua sendo incapaz de elaborar uma política comum sobre energia que reduza sua vulnerabilidade ante a falta de oferta. "A UE carece da amplitude e tenacidade desejável", diz o informe da Funcas. Esta política "estimularia um comércio regional mais eficiente das importantes reservas de petróleo do Cáspio", acrescenta.

A UE, que em 2030 dependerá em 70% do fornecimento externo de energia - sendo que em 40% do gás russo -, "deveria intensificar sua capacidade de exercer sua influência sobre a Rússia para que garanta a liberdade de comércio e trânsito, a proteção dos investimentos, a eficiência na utilização da energia, o respeito pelo meio ambiente, e, sobretudo, um foro para superar os conflitos".

Mas o petróleo não dá somente desgostos à economia. O aumento dos preços fez disparar as receitas em petrodólares e petroeuros que, segundo o informe, beneficiaram amplamente o comércio internacional com o crescimento vertiginoso das importações de outros produtos nos países produtores.

Energia nuclear
Ante o aporte previsivelmente escasso das energias renováveis, a Funcas recomenda "contemplar a energia nuclear como algo imprescindível". Entretanto, em lugar de construir mais centrais, ela defende a renovação das existentes. O debate na Espanha sobre o uso da energia nuclear é cada vez mais intenso, embora os nove reatores em funcionamento estejam longe dos cem nos Estados Unidos, 59 na França, 56 no Japão ou 31 na Rússia. Ao contrário, países como a Itália e a Grécia não contam com usinas nucleares.

A tendência altista do preço do petróleo desde o começo do ano voltou a confundir as previsões de inflação. Se o barril se mantiver entre US$ 70 e US$ 75 no segundo semestre do ano, a taxa interanual do IPC poderá baixar para 3,3%, depois do verão (Hemisfério Norte), e voltar a subir até 3,7% em dezembro.

O aumento médio anual se situará em 3,8%. Com o petróleo em torno de US$ 75 durante 2007, e o euro revalorizando-se frente ao dólar, a inflação deverá diminuir até uma taxa média anual de 3,2%. "Os efeitos estão sendo mais moderados do que caberia esperar", diz o informe do Funcas.
(Por Miriam Gidrón/Expansion, Gazeta Mercantil , 28/07/2006)

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