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2006-07-28
A polêmica envolvendo as fábricas de celulose no Estado e a destruição do horto florestal e de um laboratório da Aracruz em Barra do Ribeiro pela Via Campesina, em março deste ano, alcançou o teatro. O assunto virou tema da intervenção de rua “As Lágrimas da Aracruz”, do grupo de teatro Oi Nóis Aqui Traveiz, de Porto Alegre, que será apresentada no domingo (30/07), às 15h, no estacionamento da Usina do Gasômetro, com entrada franca.

A idéia surgiu durante a oficina de teatro livre do grupo, permanentemente aberta. “Vínhamos pensando no que fazer, e aconteceu esse episódio. Houve uma discussão e decidimos trabalhar o assunto”, conta Carla Moura que, ao lado de Sandro Marques, coordena a intervenção da oficina.

Carla explica que a motivação é “recontar” essa história, bem como mostrar a parcialidade da chamada “grande mídia”. A artista entende que a cobertura dos meios de comunicação foi injusta, mostrando apenas um dos lados e criminalizando as integrantes do movimento. “Não houve espaço para as mulheres se manifestarem. A mídia só privilegiou a Aracruz”, condena.

O episódio, acredita Carla, veio ao encontro de discussões já travadas pelo grupo em seus 28 anos, como a presença de multinacionais em solo brasileiro, concentração de terras, reforma agrária e conflitos envolvendo indígenas. “Sabemos do problema das multinacionais, que vem sanguessugar nossos recursos. Essas fábricas nem podem mais ficar na Europa por causa dos problemas ambientais, e vêm para cá por causa dos incentivos e da mão-de-obra barata, quase de graça”, dispara.

Posição assumida

O que menos preocupa o Oi Nóis Aqui Traveiz é ser tachado de ideológico. Carla revela que o grupo é parceiro do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST) desde o início, pois partilham pensamentos semelhantes. A troca de informações e de idéias entre ambos sempre foi constante. Atores ministram oficinas em assentamentos e assentados vêm à capital participar de projetos. A intervenção sobre a Aracruz já foi apresentada no assentamento Filhos de Sepé, na localidade de Águas Claras, em Viamão.

“O grupo não tem medo de colocar suas ideologias, sempre foi assim. Temos orgulho de ter o MST como parceiro e de construir muita coisa junto”, garante Carla. Ela conta que a encenação atual é a Guerra de Canudos, o que prova que a intenção deles é discutir as injustiças sociais. E que a arte é a ferramenta. “A função do teatro é colocar o social de forma poética. Tudo dentro de um mundo de cores, pernas de pau, música, bonecos.”

Monstros e manifestos

A intervenção dura cerca de 30 minutos, basicamente em cenas de coro. Participam de 25 a 45 pessoas, que interpretam personagens, monstros e até encenam reverências a um pé de eucalipto. O manifesto escrito pelas campesinas em março é lido e distribuído ao final da apresentação, o que deixa os trabalhos didáticos e esclarecedores, na opinião de Carla. “Às vezes, percebemos só pelo olhar das pessoas que a intervenção chamou a atenção delas. Depois de assistir, muita gente passa a se dar conta ou descobrir coisas que não sabia”, afirma.
(Por Patrícia Benvenuti, 28/07/2006)

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