Empresas que queimam carvão financiam climatologista cético do efeito estufa
2006-07-28
Empresas americanas que queimam carvão para gerar eletricidade estão fazendo uma coleta de recursos para ajudar um dos poucos cientistas que ainda duvidam de que o aquecimento global causado pela queima de combustíveis fósseis vem provocando danos ao mundo.
O professor da Universidade Virgina e climatologista Pat Michaels disse a grandes empresários, no ano passado, que estava ficando sem dinheiro para suas análises do trabalho de outros cientistas sobre o aquecimento global. Na semana passada, uma empresa do Colorado organizou uma campanha de coleta de fundos para socorrê-lo, levantando pelo menos US$ 150.000 em doações e promessas.
A empresa de geração de eletricidade Intermountain Rural Electric Association of Sedalia (Irea) deu a Michaels US$ 100.000 do próprio caixa e começou a pedir doações, de acordo com o gerente-geral, Stanley Lewandowski. Em carta enviada a 50 outras geradoras de energia, Lewandowski argumenta que "não podemos deixar que o debate seja monopolizado pelos alarmistas". Ele também pediu que as empresas lancem um ataque aos cientistas "alarmistas".
Michaels and Lewandowski falam abertamente sobre o dinheiro, e não vêem problema na questão. Alguns outros cientistas e defensores do meio ambiente chamam esse relacionamento de claro conflito de interesse. Outros vêem a situação como uma operação de lobby.
"Essas pessoas estão cuspindo contra o vento", diz John Holdren, presidente da Associação Americana para o progresso da Ciência (AAAS, na sigla em inglês). "O fato é que a mensagem da ciência e a perspectiva popular é de que o clima está mudando". O editor-chefe da revista científica Science, uma das principais publicações da comunidade científica mundial, diz que gente como Michaels são mais lobistas do que cientistas. "Não é mais antiético do que a maior parte dos lobbies", disse ele.
Em 1998, Michaels fez duras críticas ao cientista da Nasa James Hansen, acusando o pai das pesquisas sobre aquecimento global de ter errado, por uma grande margem, uma previsão feita em 1988 sobre os rumos do clima. Mas Hansen e outros cientistas disseram que Michaels estava sendo desonesto, pois citava apenas o cenário mais pessimista dos três apresentados por Hansen. O cenário apontado por Hansen nos anos 80 como o mais provável previa temperaturas mais baixas que as registradas de fato.
(AP, 27/07/2006)
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