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2006-07-28
A concentração de gás carbônico na atmosfera só faz aumentar nos últimos anos - e em ritmo que pode ser parte de um processo sem precedentes. A organização de pesquisa Worldwatch Institute, em seu relatório anual Sinais Vitais 2006-2007, indica que a taxa média mundial de acumulação do gás, também chamado de dióxido de carbono (CO2), atingiu 379,6 partes por milhão (ppm) no ano passado.

Isso representa 4,5 bilhões de toneladas de carbono a mais no ar, que se somam a 780 bilhões já existentes, e um crescimento de 2,2 ppm comparado a 2004. É esta medida, mais do que a quantidade propriamente dita, que assusta. Desde 2001 o índice de crescimento da concentração fica acima de 2 ppm. A exceção foi o biênio 2003/2004, que marcou um pouco menos: 1,8 ppm. Essa taxa é esperada quando o fenômeno climático El Niño está ativo. Mas a justificativa não se encaixa desta vez.

HIPÓTESE
Uma explicação levantada pelo climatologista americano Charles Keeling, pouco antes de morrer no ano passado, é que menos CO2 seria absorvido por florestas e oceanos. Keeling foi a primeira pessoa a estudar o quanto de gás carbônico permanecia na atmosfera. É justamente a capacidade de absorção de oceanos e florestas que manteve o CO2 em níveis mais ou menos constantes na atmosfera.

Sem ela, a Terra pode sofrer o que os cientistas chamam de feedback positivo, o início de um efeito estufa sem controle e sem retorno. O efeito estufa, causado pelo acúmulo de dióxido de carbono, metano e outros gases na atmosfera, retém o calor que deveria se dissipar no espaço e faz as temperaturas globais médias subirem - em 2005, ela ficou em 14,6°C, a maior dos últimos 55 anos pelo menos. Isso provoca uma reação em cadeia de conseqüências funestas para o planeta, como elevação do nível dos oceanos e alteração em padrões globais de chuva.

Outras possibilidades para justificar tal concentração de carbono precisam ser descartadas antes. A taxa de emissão pela queima de combustíveis fósseis, como gasolina e carvão, não aumentou em 2005 na mesma proporção - então não é esta a fonte da curva ascendente. Incêndios em florestas tropicais e boreais podem se encaixar no padrão, mas ainda não há estudos fechados que o indiquem como origem de todo esse CO2 na atmosfera.

“Ainda não chegou o momento de jogarmos a toalha, assumirmos que o processo é irreversível e só trabalharmos com a adaptação à nova realidade provocada pelo efeito estufa”, diz o climatologista brasileiro Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. Esse aumento recorde da concentração coincide com o primeiro ano do Protocolo de Kyoto, acordo global que busca justamente reduzir a emissão de gases do efeito estufa.

Há dúvidas sobre sua validade, uma vez que parece inócuo e lento frente às mudanças atmosféricas. Ele também não conta com a participação do maior poluidor do mundo, os Estados Unidos. Nobre acredita que os dados pessimistas só mostram que o protocolo, assim como todas as outras iniciativas para limpar o ar, são necessárias. “O próximo Kyoto terá de ser mais rígido”, diz. “E a era da energia barata, baseada em combustíveis fósseis, está chegando ao fim”.
(Estadão, 27/07/2006)
http://www.oliberal.com.br/oliberal/interna/default.asp?modulo=247&codigo=179309

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