Farelo de arroz é usado para produzir biodiesel
2006-07-28
Há pouco mais de 30 anos da criação do Projeto Proalcool, o déficit de petróleo e a conseqüente alta dos preços da gasolina impulsionam mais uma vez a utilização de novas fontes de energia. Aliado a isso, a crescente preocupação com o meio ambiente e com o fim cada vez mais próximo das fontes não-renováveis têm feito com que biocombustíveis sejam desenvolvidos em todo o mundo. Baseada na realidade socioeconômica brasileira, a Faculdade de Química da PUCRS está produzindo um combustível de forma diferenciada, por meio do projeto "Obtenção de biodiesel a partir do óleo do farelo de arroz".
Uma das características peculiares é o óleo do qual se origina. Enquanto na maior parte do País são utilizados vegetais como girassol, mamona, dendê (palma), babaçu, soja, amendoim e pinhão manso, por exemplo, o projeto da Universidade aproveita o arroz, cereal bastante cultivado no Rio Grande do Sul. A proposta surgiu quando a Associação dos Arrozeiros de Uruguaiana enviou representantes à Universidade em busca de alternativas para o uso do arroz. A diretora da Faculdade, Sandra Einloft, conta que após o período de elaboração do projeto, viajou até a cidade e apresentou-o aos agricultores. A partir de então foi aprovado e financiado pela associação e vem sendo desenvolvido nos laboratórios da Instituição desde agosto de 2005.
Outro grande diferencial é o método utilizado para obtenção do biocombustível. A maioria dos fabricantes de biodiesel usa o metanol, derivado do petróleo, no processo de transesterificação. O projeto da Química utiliza o etanol, mais conhecido como álcool etílico, que é proveniente da cana-de-açúcar. "Assim, conseguimos um combustível 100% renovável", salienta a professora Jeane Dullius, que acompanha a pesquisa desenvolvida pelas alunas Tatiana Magalhães da Silva e Cleidi Perciuncula.
O biodiesel produzido deve passar por um teste de motor para avaliar o desempenho do produto em níveis B2 e B5, correspondentes às porcentagens estabelecidas pelo Programa Nacional do Biodiesel. Lançado em 2005, o programa autoriza o uso comercial do biodiesel em todo o território nacional e estabelece os percentuais de mistura ao diesel de petróleo de 2% a partir de 2008, podendo chegar a 5% até 2013.
Se for comprovada sua eficácia, o biodiesel desenvolvido poderá entrar no mercado assim que houver estrutura para ser fabricado em grande escala. "A fase em que estamos assemelha-se à do Proalcool e, assim como naquela época, o Brasil tem todas as condições para tornar-se destaque na produção de biodiesel, considerando a fertilidade e a vastidão do seu solo", acrescenta Sandra, revelando-se otimista em relação ao futuro do biocombustível.
O trabalho "Obtenção de biodiesel a partir do óleo do farelo de arroz", da mestranda em Engenharia e Tecnologia dos Materiais da PUCRS Tatiana Magalhães da Silva e da aluna de graduação em Química Cleidi Perciuncula, recebeu o 1º lugar na categoria Química Industrial do Prêmio Associação Brasileira de Química, Seção RS. A distinção foi entregue em junho, durante o 10º Fórum de Química do Rio Grande do Sul, realizado no Salão de Atos da PUCRS.
(Envolverde/PUC-RS)
http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=20295