Dias claros e ausência de chuva são agradáveis quando ocorrem em uma estação fria e nublada como o inverno. Contudo,
podem antecipar um problema que costuma ocorrer somente no verão. As condições são ideais para a proliferação de
cianobactérias, microorganismos com características de algas e bactérias que liberam substâncias responsáveis pelo gosto e
cheiro ruim da água do Guaíba. Há três verões, os porto-alegrenses sofrem ao abrir as torneiras e não ver sair dali o líquido
insípido (sem sabor), inodoro (sem odor) e incolor.
Mais horas de luz por dia e a calmaria das águas, típicos dos meses de verão, também aceleram o metabolismo das
cianobactérias, por isso o problema ocorre mais nesse período. A estiagem dos últimos três anos também contribuiu, pois
com menos chuva, o nível do Guaíba cai, aumentando a concentração dos microorganismos. Por ser quase estático, o Guaíba
não tem a circulação rápida como um rio, o que dificulta a dispersão de nutrientes.
Para o diretor do Instituto de Pesquisas Hidráulicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (IPH/UFRGS), Luis
Fernando Cybis, a principal causa a ser combatida para que se resolva o problema é o mal tratamento dos esgotos.
Nutrientes, como o nitrogênio e o fósforo, comuns em esgotos domésticos, e resquícios de adubo usado nas lavouras das
regiões de afluentes do Guaíba são encontrados na água devolvida ao lago. Esses elementos servem de comida para as
cianobactérias.
- O problema não vai acabar da noite para o dia. Seria preciso tratar 100% o esgoto - diz Cybis.
Segundo o diretor do IPH/UFRGS, o gosto e o odor na água não são um problema exclusivo dos porto-alegrenses. Em São
Paulo, por exemplo, foram registrados antes de ocorrerem por aqui.
- Por todo o Brasil, verifica-se uma tendência de represar rios, principalmente para construir hidrelétricas. Isso ajuda na
proliferação das cianobactérias - explica Cybis.
A curto prazo, o que se pode fazer são ações já realizadas pelo Departamento Municipal de Água e Esgotos de Porto Alegre
(Dmae). Antes de ser despejado de volta ao Guaíba, o esgoto é tratado por uma segunda vez.
- Com isso, a porcentagem de redução de carga orgânica, que normalmente é de aproximadamente 80%, pode chegar a 90%
- garante o superintendente de Operações do Dmae, Valdir Flores.
A adição de carvão ativado também ajuda a diminuir a intensidade e o período de ocorrência do problema. Contudo, o Dmae
não garante que não vá ocorrer novamente.
- Não podemos dar certeza à população. A tendência é de as cianobactérias continuarem no Guaíba, estamos trabalhando
para diminuir os impactos de sua proliferação - declara Flores.
(
Zero Hora, 27/07/2006)