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2006-07-25
Administradores públicos e empresários de Osório reúnem-se hoje (25/07), no auditório da Câmara Municipal, para relatar à comunidade suas impressões sobre as usinas eólicas espanholas que visitaram no período de 11 a 17 de julho, a convite do grupo Enerfin, controlador da primeira usina eólica em construção no Rio Grande do Sul. “Queremos iniciar a troca de idéias sobre como aproveitar melhor a oportunidade histórica que nossa cidade está vivendo”, explica Gilmar Luz, presidente da Câmara de Vereadores de Osório, um dos três agentes públicos que acompanharam a caravana de 18 empreendedores privados ao sul da Europa.

A um semestre da conclusão do curso de Educação Física, o vereador Gilmar Luz, de 38 anos, voltou impressionado com a integração de diversos ramos da economia com os parques eólicos espanhóis. Em Navarra, por exemplo, chamou sua atenção a ampla estrutura de informações sobre meio ambiente, clima e energia. No mesmo espaço dentro do Parque Sotavento, os visitantes podem comprar souvenirs e fazer refeições.

Algo semelhante está delineado para acontecer em Osório, mas dividido em dois espaços. No maior deles, dentro do parque eólico, a Ventos do Sul vai construir um centro de informações técnico-científicas que deverá atrair estudiosos de todo o mundo. No Morro Borússia, perto da cidade, a prefeitura está construindo um centro de informações para turistas. Anexo a ele vai funcionar um restaurante, configurando o primeiro investimento motivado pela construção do parque eólico.

Na expectativa de que a usina eólica desencadeie uma nova onda de turismo, os administradores e empresários de Osório esperam que o mirante da Borússia seja o ponto de partida da exploração de outros aspectos da diversidade geográfica da região. O projeto do mirante está em fase final de elaboração pelo arquiteto Enaldo Marques, osoriense que voltou à terra natal depois de trabalhar em outras cidades brasileiras.

O sonho emergente do empresariado local é que Osório deixe de ser um simples local de passagem, convertendo-se num ponto de atração dos visitantes que chegarem à cidade motivados pelos cataventos gigantes. O receio é que os turistas eólicos corram a hospedar-se em cidades praianas, que possuem maior e melhor oferta de hotelaria e gastronomia. Nesse sentido, uma das pretensões é investir em melhoramentos da infra-estrutura pública e privada.

Ainda não transformada em plano, começa a circular a idéia de articular os setores mais característicos da cultura local ao turismo eólico emergente, de forma que os visitantes possam desfrutar também da rede do agroturismo, do ecoturismo e do turismo de aventura. Como isso vai acontecer ainda não se sabe, mas o primeiro passo foi dado: todos parecem unidos em torno do prefeito Romildo Bolzan Jr., que governa praticamente sem oposição, sob a proteção de Eolo, o deus dos ventos.

Em grande sintonia com os dirigentes do parque eólico, os cabeças de Osório tentam acolherar idéias para transformar a cidade numa referência ecológica. Para tanto, o prefeito Romildo Bolzan Jr. aposta no dinamismo de seu irmão caçula, Marcos Bolzan, recentemente nomeado secretário do Desenvolvimento Econômico, Agricultura e Turismo. Também espera muito da capacidade de articulação da bióloga Leda Famer, secretária do Meio Ambiente.

Investimentos

Enquanto os santos da casa lutam para fazer as obras que deles se esperam, a cúpula administrativa de Osório apela também para os santos de fora. “Contamos com a ajuda de Pedro Parente”, revela Gilmar Luz, referindo-se ao ex-ministro do governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002). Embora não seja parente da família Sirotsky, Pedro exerce há três anos o cargo de vice-presidente do grupo RBS. Como nos fins-de-semana ele frequenta o Condomínio Interlagos, o bairro mais chique de Osório, no qual moram cerca de 80 famílias, espera-se que contribua para colocar a cidade nos planos de marketing do maior grupo de comunicação do Sul.

Fora arroz, carne e energia eólica, o que é que a cidade produz? O inventário inicial das atrações de Osório indica que, além de morros e lagoas, o município possui uma zona rural diversificada onde se produzem artigos coloniais como rapadura, pinga, pé-de-moleque, vinho, salsichão, macarrão, queijo, mel, pães e roscas. Outra característica marcante da cidade é a produção musical de raízes negras e motivos rurais.

Além dos esportes hípicos de fundo gauchesco, há também uma tradição na prática de esportes tocados pelo vento (cursos de planador, vôo livre e navegação a vela). O resto depende de novos investimentos ou de um esforço de recuperação. Um resgate histórico pode reabilitar uma fábrica caseira de hidromel, bebida feita de água e mel, que antigamente mobilizava moradores de outras cidades. Também pode voltar à tona a fabricação de artesanatos baseados em matérias-primas regionais como a taboa e o junco.

Desde que a situação financeira do município melhorou com os tributos gerados pelas obras da usina eólica e da duplicação da BR-101, voltou a circular com intensidade a idéia de construir um teleférico ligando o Morro Borússia à Lagoa do Marcelino, o corpo d água mais próximo do centro da cidade.

Teleférico e turismo

Consta que há dois empresários interessados em tocar o projeto, orçado em US$ 4 milhões em 1993, durante o primeiro mandato do prefeito Romildo Bolzan Jr. Outros temas correntes nas conversas seriam desenvolver o paisagismo, construir ciclovias, recuperar prédios como a antiga estação da ferrovia Palmares-Osório e preparar a população da cidade para o turismo receptivo. A única agência de turismo da cidade, pertencente ao ex-prefeito Eduardo Renda, concessionário da estação rodoviária, é mais voltada para a venda de passagens para as praias ou as capitais vizinhas.

Entre as idéias trazidas da visita, destaca-se a de conscientizar a comunidade para a evidência de que a exploração do potencial turístico da região depende fundamentalmente do cuidado com o meio ambiente. O esforço começa então num processo educativo elementar e vai até a implantação de medidas para melhorar a qualidade de vida da população residente e dos visitantes.

Plano Diretor

A discussão sobre como explorar o momento histórico coincide com os debates sobre o Plano Diretor, cujo projeto foi recentemente encaminhado à Câmara pela Prefeitura. Em breve haverá uma dezena de audiências públicas para discutir as regras de expansão da cidade. Uma das preocupações centrais é com a qualidade das águas para beber, limpeza, irrigação e lazer. Por tabela também se discute o destino dos esgotos, porque a atual fonte de água potável (Lagoa do Peixoto) intercomunica-se com o antigo despejo do esgoto (Lagoa do Marcelino).

O saneamento de Osório gera constrangimentos desde que o promotor do Meio Ambiente cobrou responsabilidades da prefeitura, no ano passado. Enquanto os debates não fluem, já se fala que para sanear a cidade será necessário investir uma montanha de dinheiro. No final de 2005, o prefeito de Osório falava de R$ 18 milhões. Recentemente a cifra foi ampliada para R$ 21 milhões, recursos que virão, se vierem, do Ministério das Cidades, depois das eleições.

Evento

Como a usina eólica de 150 MW deverá ficar pronta no final do ano, justo quando começam os festejos dos 150 anos do município de Osório, os cabeças da cidade voltaram da Espanha com a idéia de casar os eventos (150 + 150) para multiplicar os dividendos. Para tornar esse casamento inesquecível, a Enerfin estaria disposta a patrocinar um show de arromba com um grande artista brasileiro, como Chico Buarque ou Milton Nascimento, que se apresentaria em baixo dos cataventos, ao lado de um tenor espanhol.

Entre os convidados da grande festa, além de autoridades brasileiras e empresários espanhóis, estará sem dúvida o alcaide de Chantada, a recém-descoberta cidade-irmã de Osório, a cerca de 400 quilômetros de Madrid. Também dependente da agricultura e igualmente equipada com uma usina eólica, Chantada vai iniciar um intercâmbio com Osório.

Com populações equivalentes, cerca de 35 mil habitantes, as duas cidades podem fazer uma boa troca de experiências quanto ao sistema de administração, já que o funcionalismo municipal é incomparavelmente mais enxuto na Espanha. Segundo Gilmar Luz, Chantada tem apenas sete funcionários fixos; Osório, mais de 700.

Integrantes da comitiva de Osório à Espanha:
Romildo Bolzan Junior, prefeito
Gilmar Luz, vereador, presidente da Câmara
Marcos Bolzan, secretário do Desenvolvimento Econômico
Adelar Hengemuhle, administrador educacional
Dr. Davi, advogado das Faculdades de Osório
Carlos Augusto Fuão, comerciante de bebidas
Sergio Boeira Madalena, corretor de imóveis
Carlos Roberto Dalpiaz Vieira, atacadista de bebidas
Loreno Buffon, comerciante de combustíveis
Evandro de Oliveira, industrial de arroz
Gilberto Dalpiaz, supermercadista
Hugo Dalpiaz, supermercadista
Vilnei Pacheco, veterinário
Pedro Farias, radialista
Rodrigo Pires, empresário gastronômico
Jaime Dalpiaz, construtor
J. J. Martins, comerciante de madeiras
Roberto Santa Catarina, comerciante de combustíveis
Francisco Moro, advogado
Marco Morales, diretor da Ventos do Sul Energia
José Fagundes, engenheiro da Ventos do Sul Energia
(Por Geraldo Hasse, Jornal Já e Ambiente Já, 24/07/2006)

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