O cardápio dos brasileiros está mudando. Primeiro, veio a onda dos produtos diet e light, com poucas calorias, voltados para quem quer emagrecer ou proteger a saúde. Agora, estão entrando na moda os produtos funcionais, alimentos que prometem benefícios específicos para o organismo. São sucos com vitaminas, iogurtes com fibras ou margarinas que combatem o colesterol. A indústria percebeu - e incentivou - a mudança de comportamento dos consumidores e está investindo pesado em lançamentos.

Só no ano passado, as vendas de produtos funcionais cresceram 36%. Eles já movimentam R$ 650 milhões por ano, mas o negócio está só começando. A expectativa de empresas como a Nestlé é que as vendas cresçam 30% ao ano - sete vezes mais que o resto da economia. Se forem somados ainda os produtos diet e light, a indústria da comida saudável gira mais de R$ 8 bilhões por ano, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Alimentos (ABIA).

"Apesar de os alimentos funcionais e saudáveis serem um conceito antigo - já existem desde a década de 60 -, foi de 2000 para cá que eles tiveram um impulso maior", diz o coordenador de economia da Abia, Dênis Ribeiro. "Há muita informação na mídia sobre nutrição e saúde. As pessoas estão mais preocupadas com esses assuntos, especialmente os jovens. Além da saúde, eles se preocupam muito com a aparência."

Em todo o mundo, as empresas estão de olho neste filão. Há menos de um mês, o grupo suíço Nestlé comprou a Jenny Craig, empresa americana de dietas. Anteriormente, havia adquirido a Uncle Tobys, de nutrição esportiva. No Brasil, a Nestlé está lançando a linha Nesvita, formada por iogurtes que, segundo a empresa, ajudam a regular o intestino. "Há uma orientação mundial para que a empresa se volte para a alimentação saudável", diz o diretor da divisão de lácteos (Dairy Partners), Ivan Galinovic.

"No exterior já temos mais de 1,1 mil itens funcionais. Esse mercado veio para ficar", diz o diretor de assuntos corporativos da Nestlé, Carlos Faccina. "Depois que você oferece algo a mais para o consumidor, ele não vai querer menos." A Nesvita vai concorrer com a linha Activia, da Danone. O mercado de iogurtes funcionais cresceu 27% em 2005.

Outras grandes empresas apostam em alimentos funcionais. O mercado de sucos à base de soja, que diminuiriam sintomas da menopausa, atraiu empresas como a Unilever, com a linha Ades, e a Bunge, com a Cyclus. A Coca-Cola comprou a Sucos Mais e pretende lançar sucos enriquecidos com cálcio e vitaminas. Também estuda lançar sucos à base de soja.

Segundo o presidente da Coca-Cola no Brasil, Brian Smith, a estratégia da empresa em todo o mundo é diversificar o portfólio de produtos, cada vez mais em direção às bebidas "saudáveis" - como sucos, isotônicos e águas especiais, com cheiro e sabor.

As indústrias estão atentas a consumidores como a empresária Juliana Reis. Seu café da manhã é farto em frutas, cereais e iogurtes. A escolha dos alimentos não é apenas questão de gosto. "Passei a dar mais atenção à minha saúde", diz ela. "Escolho os produtos com atenção, leio os rótulos e procuro os menos gordurosos e calóricos e com mais nutrientes."
(Por Ana Paula Lacerda e Andrea Vialli, O Estado de S. Paulo, 24/07/2006)
http://txt.estado.com.br/editorias/2006/07/24/eco-1.93.4.20060724.31.1.xml