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2006-07-25
Guru dos principais centros de pesquisa agropecuária ao redor do mundo e especialista na análise do impacto da inovação agrícola na economia de países em desenvolvimento, o professor americano Robert Evenson afirmou em entrevista ao Valor que os avanços da genética e da biotecnologia estão cada vez mais restritos às multinacionais privadas e que as instituições públicas perderam a capacidade de liderar o desenvolvimento de tecnologias voltadas a ganhos de produtividade.

"A biotecnologia é uma revolução das multinacionais privadas", disse, no intervalo de sua palestra no workshop internacional sobre agricultura tropical realizado pela Embrapa e pelo Banco Mundial. E comparou: juntas, Syngenta, Bayer, Basf, Monsanto, Du Pont e Dow AgroSciences investiram US$ 3 bilhões ao ano em biotecnologia desde 2001. "Enquanto isso, o setor público gastou US$ 1 bilhão nessas pesquisas".

Diretor do Programa Internacional de Economia na prestigiada Universidade Yale, Evenson defende que as sementes híbridas "crioulas" devem permanecer um "bem público", e que entre os principais desafios da biotecnologia estão a parceria público-privada, a repartição dos ganhos com a manipulação genética e a recusa da União Européia em aceitar transgênicos.

Evenson avalia que a Monsanto desfruta de um "monopólio na soja transgênica", mas que as empresas européias ocuparão seu espaço neste mercado "num curto prazo" e com novas cultivares de algodão, milho, entre outras. Para ele, o presidente Lula "não tem muitas alternativas" no setor se não decidir destravar as autorizações para as pesquisas com transgênicos. Ele revelou que a taxa de retorno das pesquisas agrícolas no Brasil chegam a 44,5% no total investido. Mas, considerando a pouco influência do setor no país, pergunta: "Se os resultados são tão bons, porque não acreditam nesse potencial e ampliam o financiamento às pesquisas? Elas se pagam em dois ou três anos, no máximo".

"Vendida" como solução para a agricultura mundial pelas empresas do ramo, Evenson afirmou que a biotecnologia tem sido ainda mais restritiva que a "Revolução Verde", iniciada na década de 1950 para aumentar a oferta de alimentos no mundo e que ajudou a alavancar as vendas de sementes híbridas, adubos, agrotóxicos e maquinários. "E deixará cada vez mais para trás os países que não investirem de forma em pesquisa agrícola".

Produtor rural por nove anos em sua terra natal no Estado de Minnesota, onde também foi professor de Economia Agrícola, Evenson afirmou que as múltis "subestimaram" a necessidade de transmitir os benefícios dos transgênicos ao consumidor. "Só pensaram em mostrar os impactos de redução dos custos de produção aos agricultores. Eu mesmo não senti os efeitos dessa tecnologia". Daí, concluiu, surgiu a resistência aos transgênicos na Europa. Além disso, Evenson estima que as empresas de biotecnologia têm ficado com 30% a 50% da redução de custos propiciada pelos transgênicos. "E isso pode reduzir o entusiasmo dos produtores no longo prazo".

Ex-professor de vários economistas brasileiros na Universidade de Chicago nos anos 1960, Evenson afirmou que as economias emergentes, como Brasil, Índia e China, têm chances de superar os desafios para tirar proveito da biotecnologia. "O Brasil não está muito longe da fronteira do conhecimento tecnológico agrícola, mas os pequenos países, sobretudo da África Subsaariana, não têm dinheiro para financiar essa nova tecnologia", sentenciou. "Se não eles não aproveitaram antes, quando a tecnologia da Revolução Verde era aberta e acessível, agora não vão dar conta do recado. É cada vez mais difícil ser competitivo, e reduzir o preço dos alimentos ao consumidor interno, sem tecnologia".

Ele diz que desde a década de 1960 a receita líquida per capita diária caiu de US$ 2 para US$ 1 na África Subsaariana. E que o tamanho médio das propriedades rurais passou de 1,2 para 0,8 hectares. "Lá, se produz 1 tonelada de milho por hectare. Nos EUA, a média chega a 9,5 toneladas". No Brasil, são 4 toneladas.

Em seu diagnóstico sobre o retorno dos investimentos em pesquisa agropecuária, Robert Evenson diz que o processo de inovação tecnológica na agricultura está diretamente ligado ao avanço dos indicadores econômicos e sociais. "O PIB dos países que não conseguiram alcançar a Revolução Verde diminuiu, a produtividade decaiu e a mortalidade infantil cresceu". Segundo ele, os produtores dos países que não conseguirem produzir a custo baixo por falta de tecnologia também têm sido prejudicados pela queda das cotações internacionais dos grãos.
(Por Mauro Zanatta, Valor Econômico, 24/07/2006)

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