Redução de 5,2% até 2012 não será suficiente para reduzir aquecimento global
2006-07-25
Como consultor na Environmental Resources Management, Samy Hotimsky atua no desenvolvimento de oportunidades em mudanças
climáticas na América Latina. Há dois anos trabalha na identificação de projetos de mitigação de gases do efeito estufa
e na análise de viabilidade em diversos setores da economia incluindo gerenciamento de resíduos sólidos, siderurgia, e
papel e celulose.
Samy trabalhou como especialista para a Organização das Nações Unidas para a Indústria (UNIDO) no desenvolvimento de
capacidades do setor industrial para projetos de Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Ele é parte da iniciativa –
GHG Protocol – estabelecida pelo Conselho Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD) e
pelo World Resources Institute (WRI) e é parte também do grupo de trabalho em mudanças climáticas do CEBDS – Conselho
Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.
1 – Como o Brasil está posicionado no mercado de créditos de carbono?
O Brasil se posiciona de forma favorável no mercado de créditos de carbono pela sua grande extensão geográfica, potencial
de uso de energias alternativas e de projetos de eficiência energética na indústria. Há ainda potencial favorável no setor
de tratamento de resíduos nas áreas urbanas e rurais.
Hoje existem no mundo 860 projetos no pipeline, sendo 240 registrados. Desse total, 37,8% são da América Latina. O Brasil
possui 160 projetos (18,6%), que estão distribuídos nas áreas de Agricultura (30), Energia biomassa (62), Cimento (2),
Eficiência energética na indústria (3), Eficiência energética serviços (8), substituição de combustível (8), fugitivas (1),
hidro (21), gás de aterro (20), N2O (1) e Energia eólica (4).
2 – O Protocolo de Kyoto é a alternativa mais viável para se combater o aquecimento global?
O Protocolo de Kyoto é uma forma de impor metas quantitativas de redução das emissões e prover o comércio de créditos para
diminuir o custo de se atingir tais metas. Não é a única forma de se mitigar as emissões de gases do efeito estufa.
Há outras alternativas como, por exemplo, ações voluntárias de países e grandes geradores de emissões.
3 – Quais são os prós e contras desse tratado?
Os prós: está em acordo com o objetivo máximo da UNFCCC que é a estabilização da concentração de gases de efeito estufa na
atmosfera; envolve a transferência de tecnologias e fundos para a adaptação de países mais vulneráveis; impulsiona o
desenvolvimento sustentável; e outros. Os contras: é pouco. Uma redução de 5,2% até 2012 não será suficiente.
4 – Os países não-Anexo I, como Brasil, China e Índia, devem ter metas para o período pós-2012?
Minha opinião é de que devem ter metas de redução como os países do Anexo I e continuarem, ao mesmo tempo, tendo
oportunidades de reduzir suas emissões através de investimentos externos.
5 – Os países desenvolvidos alcançarão suas metas de redução de emissões previstas para primeira fase do Protocolo?
Há controvérsias. A UE apresentou um aumento relativo de suas emissões nos últimos anos. Outros países, como o Canadá,
me parece que estão melhores posicionados. Apesar de que a UE estabeleceu o EU ETS (mercado interno) que poderá apressar
um pouco o processo.
6 – O desenvolvimento de novas tecnologias é essencial para se combater as mudanças climáticas globais? O que mais precisa
ser feito?
Sim. O desenvolvimento tecnológico é essencial. Falta ainda uma mudança comportamental e estrutural de nossa sociedade
com relação a consumo, desenvolvimento, nutrição, etc.
7 – Na sua opinião, que rumo os Estados Unidos irão tomar em relação ao Protocolo de Kyoto? Como avalia as iniciativas
isoladas que já são tomadas dentro do país?
Acredito que não farão parte do Protocolo de Kyoto. Irão priorizar o
desenvolvimento tecnológico, metas relativas de redução, e iniciativas voluntárias. Minha avaliação é a de que
metas obrigatórias são necessárias; não há como fugir desta realidade.
8 – O mercado de créditos de carbono seria viável sem o Protocolo de Kyoto?
Sim. O Protocolo estabelece um determinado tipo de sistema de troca. Há outros.
(Por Sabrina Domingos, Carbono Brasil, 24/07/2006)
http://www.carbonobrasil.com/noticias.asp?iNoticia=14056&iTipo=18&idioma=1