"O Estado brasileiro já perdeu a Amazônia", diz secretária de C&T do Amazonas
2006-07-24
A Secretária de Ciência e Tecnologia do Amazonas, Marilene Corrêa da Silva Freitas, disse que "o Estado brasileiro já perdeu a Amazônia. Acredito que o Brasil já fez essa concessão para o mundo". A denúncia é acompanhada de críticas ao fato de que vê a Região excluída de participação em decisões estratégicas envolvendo a gestão dos recursos naturais, que seriam tomadas "de fora para dentro".
Depois de 10 horas de espera nos aeroportos de Brasília e São Paulo, que a fizeram perder a conexão que a traria para participar da mesa redonda "Amazônia, Desafio Nacional", realizada quarta-feira, ela participou na quinta (20/7) de reunião com os secretários de C&T e de outros eventos na Reunião Anual.
Como exemplo da desnacionalização, ela acrescenta que o total da agenda de meio ambiente do país e da agenda científica do Ministério do Meio Ambiente são ditadas de fora, de outros países, ao quais são ligadas ONGs com atuação na Região. As ONGs, segundo ela, são Organizações Não Governamentais para o governo brasileiro, mas freqüentemente são ligadas a governos dos países centrais
Para a secretária, os únicos programas de C&T que o Ministério do Meio Ambiente tem para a Amazônia giram em torno dessa agenda ambiental, com o LBA, PPG-7 e o Proder. "Não é uma agenda de dentro para fora. As agendas de dentro para fora a gente tem, a gente pode apresentar para quem quiser", afirmou.
Marilene Corrêa da Silva Freitas declarou que endossa a queixa que vem das entidades científicas para os órgãos ambientais.
A secretária disse que estas entidades querem que o governo do Amazonas interfira, e não permita que o Ministério do Meio Ambiente contrate as ONGs para fazer o inventário das áreas que são chamadas de recursos naturais ou de fronteira. "Elas querem que o inventário seja feita pelo INPE, pelo Museu Goeldi, pelo INPA, pela UFAM, UFPA", informa.
"Eu acho que é legítima a reivindicação das entidades científicas, porque elas conhecem mais do que as externas. As externas são boas para contratarem expertises generalistas, mas eles não conhecem as formas de adaptabilidade da Amazônia", disse Marilene Corrêa.
A secretária critica ainda o projeto da Organização do Tratado de Cooperação dos Estados Amazônicos (OTCA), que tem um grande plano de fazer uma reconfiguração das fronteiras da Amazônia. Para isso, a OTCA já fez um contrato com o IBGE, que vai fazer uma apresentação dessa proposta, informou.
"Essa proposta também se relaciona com a problemática da gestão social da água. Os países da nossa fronteira não têm a nossa malha hídrica, mas têm as nascentes dos rios. Eles querem negociar politicamente as nascentes", disse Marilene Corrêa. A secretária manifestou preocupação porque a OTCA contratou um instituto suíço para fazer esse levantamento científico, passando por cima das instituições científicas brasileiras, dos poderes estaduais e das sociedades científicas e das academias.
No Estado democrático, segundo a secretária amazonense, a OTCA, que foi um tratado da época da ditadura, deveria ser controlada pelo Ministério das Relações Exteriores. A secretária critica também a malha de pós-graduação na área de meio ambiente, com dois programas que, segundo ela, seguem uma agenda que vem sendo feita de fora para dentro. "Acho que a gente forma alguns iludidos. Acham piamente que estão fazendo ciência", afirma.
(Por Flamínio Araripe, Jornal da Ciência, 21/07/2006)
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