Pará inicia processo de concessão de florestas
2006-07-24
A Amazônia está às vésperas de iniciar a exploração sustentável de
suas florestas através de concessões para a iniciativa privada. Ainda
pouco assimilada pelos setores ambientalistas, que desconfiam da
capacidade de fiscalização dos órgãos públicos e do temor da ingerência
política e do lucro fácil sempre perseguido pelo setor privado, o fato
é que a concessão de florestas públicas é o que virá de novo no mundo
amazônico nos próximos anos. É nela que apostam setores oficiais e
mesmo alguns ambientalistas como alternativa à crescente pressão pelos
desmatamentos na região.
E o Estado do Pará vai dar seu pontapé inicial para colocar em aluguel
a sua primeira floresta estadual destinada à exploração sustentável de
suas riquezas. Trata-se da Floresta (Flota) do Paru, que segundo a
Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam)
do Estado, poderá ter seu decreto de criação assinado na sexta-feira,
dia 21 de julho.
Tão logo a criação da floresta seja assinada, o governo do estado vai
dispor do prazo de um ano para inventariar os 3,6 milhões de hectares
que serão licitados no mercado para exploração sustentável. Segundo
informou ao jornal O Liberal, de Belém (PA), o coordenador de proteção
ambiental da Sectam, Paulo Altieri, a Flota do Paru é a maior floresta
de produção que se tem conhecimento na América do Sul, de acordo com
estudos do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).
Os estudos do Imazon estimam que tudo na região da Flota, localizada na
Calha Norte, no oeste do estado, reunindo os municípios de Almerim,
Monte Alegre, Alenquer e Óbidos, favorece a exploração sustentável. Há
diversidade de madeira (com predominância de cedro e ipê) e mais de
50% da área é de fácil acesso por rio, como o Amazonas, além dos rios
Paru e Jarí. A floresta tem ainda a possibilidade de abertura de
estradas para escoamento da produção de madeira em tora, cerrada e
manufaturada.
Depois de assinado o decreto de criação da floresta estadual, o governo
paraense terá de criar os conselhos consultivos, que devem ser
formados por representantes do poder municipal de cada cidade
envolvida e mais a sociedade civil organizada e a iniciativa privada.
A segunda etapa será a execução do zoneamento das áreas que serão
abrangidas pela floresta.
A partir daí, será realizado um inventário sócio-ambiental e definidas
as zonas destinadas ao turismo, mineração e a exploração propriamente
dita da madeira, que também será reunida em uma amostragem para que se
tenha a real noção do potencial de exploração da reserva. O coordenador
Paulo Altieri informou que, inicialmente, nem todas as áreas da
floresta serão exploradas por causa da questão da oferta e da procura
do mercado de madeira a nível mundial.
Depois do zoneamento, será definido então o processo licitatório, que
será diferente da Lei 866, que rege o processo de licitação dos
serviços públicos. “Nossa grande esperança é que se possa internalizar
os benefícios nos municípios e isso tem sido clamado nas consultas
públicas, a partir da instalação principalmente de indústrias locais.
Tecnicamente a gente apóia isso, porque é uma forma de minimizar essa
pressão dentro da floresta de forma contrária ao desmatamento. É,
portanto, um processo licitatório que privilegia, sobretudo, os grupos
locais. Será avaliado o maior benefício social, o menor impacto
ambiental e, por último, o melhor preço”, destacou Altieri.
Segundo ainda o coordenador, o tempo de validade da licitação dependerá
do tamanho da área e do tipo de exploração, mas o máximo deverá ficar
em 30 anos, tempo necessário para que uma área volte a ter seu
potencial renovado. Paralelo à criação da Flota do Paru, o governo
paraense estará trabalhando com a criação de outras 14, que estão sendo
estruturadas.
(Agência Kaxiana, 21/07/2006)
http://www.ecoagencia.com.br/index.php?option=content&task=view&id=1726&Itemid=2