A mudança do modelo de coleta de lixo em Porto Alegre deverá demorar
mais do que o esperado pela prefeitura. Isso porque está nas mãos de
promotores, policiais e auditores do Tribunal de Contas do Estado
(TCE) o destino da licitação que aplicará R$ 305 milhões em cinco anos
na limpeza urbana.
A megalicitação que o Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU)
abre nesta segunda-feira (24/07) substituirá 38 contratos emergenciais
em vigor por apenas dois: um para coleta e destino do lixo, outro
para limpeza e manutenção de espaços públicos.
Ao todo, 17 empresas realizaram visitas técnicas no DMLU,
indispensáveis para participar da gincana em busca dos R$ 305 milhões.
Não podem se associar mais de três firmas em cada contrato.
Os vencedores terão intenso trabalho. O DMLU realiza hoje 15 tipos de
serviços, que passarão a ser 25 após a licitação. Entre as novidades,
estão a limpeza sistemática de monumentos, córregos e riachos, a
varrição mecânica das ruas e a lavagem de locais onde ocorrem feiras.
Estes procedimentos são feitos atualmente apenas de forma esporádica.
Tribunal manteve recebimento de propostas na segunda-feira
A proposta do DMLU para a mudança no sistema de limpeza despertou
dúvidas que são investigadas em três frentes. O Ministério Público
abriu inquérito para apurar queixas relativas ao contrato, feitas por
Enio Raffin, ex-diretor do DMLU. A Delegacia Fazendária da Polícia
Civil abriu outro inquérito, presidido pela delegada Patrícia
Sanchotene Pacheco, para investigar os mesmos fatos. E o TCE realiza
uma inspeção especial, comandada pelo procurador-adjunto Geraldo Da
Camino, para verificar supostas discrepâncias entre os valores pagos
pela coleta de lixo e os propostos pela prefeitura (que aumentaram) -
assim como na contratação da consultoria que propôs a mudança do
modelo.
Na quinta-feira (20/07), a polícia realizou busca e apreensão determinada pela
1ª Vara Criminal em uma empresa de consultoria contratada para
organizar a licitação. O material está sob análise. O
procurador-adjunto do TCE determinou uma inspeção e requisitou
explicações ao DMLU. Na sexta-feira, o tribunal manteve a licitação,
mas ordenou a suspensão da abertura das propostas financeiras dos
interessados. Isso retardará a assinatura de novos contratos, até que
todas as dúvidas sejam esclarecidas.
DMLU explica como serão os contratos
O DMLU receberá na segunda-feira as propostas para o novo serviço de
limpeza porque considera esclarecidas as dúvidas levantadas pelo
Ministério Público e pelo Tribunal de Contas. A abertura deverá ocorrer
na sede da Fundação de Recursos Humanos, na Avenida Praia de Belas.
A assessoria do DMLU diz que o salto de R$ 3 milhões mensais para R$
6,6 milhões (em média) se justifica porque as empresas que assumirão a
tarefa em 2007 terão de arcar com combustível (hoje em grande parte
bancado pelo próprio departamento).
O valor total da licitação foi baixado de R$ 405 milhões para R$ 305
milhões. No novo contrato, até a gasolina será terceirizada, com
pagamento feito pela autarquia. Outro motivo para o aumento dos custos
é que as empresas oferecerão 10 novos serviços, além dos 15
existentes. A majoração nos gastos inclui também uma previsão de
reajuste dos preços.
Com relação à presença do consultor Fábio Pierdomenico numa reunião do
DMLU que deveria ser fechada, o órgão afirma que "ele foi contratado
para realizar a concorrência dentro da mais absoluta legalidade". Ele
atuou como representante da Profill Engenharia Ambiental na elaboração
do Plano de Negócios e respectivo Termo de Referência para compor o
Edital de Licitação dos Serviços de Limpeza Urbana de Porto Alegre.
Sobre as doações feitas pelas empresas Vega e Cavo à campanha do
prefeito José Fogaça, a prefeitura afirma que é mera coincidência o
fato de as capitais citadas positivamente no diagnóstico terem o
serviço de limpeza prestado por empresas que contribuíram com recursos
para a campanha do prefeito José Fogaça. Conforme a assessoria, isso
não constitui irregularidade.
Contrapontos
O que diz a Vega Engenharia Ambiental
Zero Hora contatou a empresa, com sede em Novo Hamburgo, solicitando
entrevista com o diretor Carlos Júnior. Ele não deu retorno.
O que diz a Cavo Serviços e Meio Ambiente
A direção da Cavo (ligada ao grupo Camargo Correa) em Curitiba, no
Paraná, onde a empresa presta serviços de limpeza, disse que não se
pronuncia quando o assunto se refere a licitações em andamento ou a
doações.
O que diz o consultor Fábio Pierdomenico
A secretária da empresa de Pierdomenico em Santos (SP) informou que ele
está em férias e recebeu o recado. Pierdomenico não deu retorno ao
pedido de entrevista.
(Por Humberto Trezzi,
Zero Hora, 23/07/2006)