Plástico biodegradável é eficiente, mas não pode substituir petróleo, diz pesquisador
2006-07-24
É bom pensar que, em vez de se amontoar nos lixões, os resíduos plásticos possam se transformar em gás carbônico e água num período de decomposição de cinco anos. É para que isso aconteça que pesquisadores do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), órgão ligado à Universidade de São Paulo (USP), estudam uma forma de obter o plástico biodegradável. As pesquisas são bem sucedidas e, até agora, o polímero foi encontrado.
Mas ainda há muitos obstáculos a se transpor para que um plástico ambientalmente correto possa ser largamente comercializado e substituir os recipientes descartáveis, como se notou durante o Simpósio Plástico Biodegradável, realizado na última quarta-feira (19/07), durante o 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, em Florianópolis.
O plástico convencional é feito a partir do petróleo, que é uma matéria-prima não-renovável. Alem disso, 6% de todo o lixo produzido no Brasil é plástico. A vontade do IPT era encontrar um novo material, degradável por microorganismos, e que funcionasse como substituto desse vilão ambiental.
A pesquisa começou com a inoculação de uma bactéria que transforma sacarose em polímero biodegradável. Isso quer dizer que a bactéria transforma açúcar em plástico de fácil decomposição. O método mais ecologicamente eficiente de se obter essa sacarose, afirmam os pesquisadores, é através da cana-de-açúcar. A explicação é simples: quando se mói a cana, se obtém o caldo e o bagaço. O caldo é a sacarose, que vai ser usada na produção do plástico. O pouco resíduo deste caldo pode servir de adubo para a plantação de cana. O bagaço é celulose, que não vai ser descartado, e sim usado como combustível da indústria que obtém o plástico. Assim, não seria necessária a queima de petróleo, cujo uso ficaria reduzido ao combustível dos tratores que fazem a colheita da cana.
Essa tecnologia é comercialmente aproveitada pela empresa paulista PHB Industrial. Mas para o representante da empresa no simpósio, Roberto Nonato, “a aplicação industrial [do plástico biodegradável] é o objetivo principal, o meio ambiente é conseqüência”. A aplicação industrial seria um substituto inteligente voltado principalmente à medicina e agricultura, como próteses ósseas que podem ser absorvidas pelo corpo ou cápsulas para o armazenamento de mudas que são degradadas pelo solo em pouco tempo depois de plantadas. Esse é o nicho de mercado a ser explorado pela indústria, e não a substituição de embalagens convencionais por biodegradáveis, acredita o representante. “O plástico biodegradável pode ser até quatro vezes mais caro do que o convencional”, explica. Assim, o emprego desse novo material, segundo ele, seria feito somente por empresas interessadas em mídia. “Seria uma forma de propaganda, mais do que de interesse ambiental.”
Uma das preocupações da empresa de Nonato é produzir o plástico sem agredir o meio ambiente. “Seria inválido fazer um plástico biodegradável exaurindo a natureza em outros aspectos”, diz Nonato. Por isso a escolha da cana-de-açúcar ao invés de outros vegetais que também têm sacarose: alem de deixar menos resíduos depois da utilização, é o vegetal estudado que precisa de menos hectares plantados para produzir determinada quantidade de sacarose.
Mas o meio ambiente ainda não pode respirar aliviado. Nonato explica que são necessárias grandes áreas de cultivo de cana-de-açúcar para que se obtenha o necessário para a fabricação do polímero. Com o extenso cultivo, há grande gasto de petróleo como combustível dos tratores que fazem a colheita. Com isso, há poluição do meio ambiente, só que de outro lado da corrente produtora. Para se ter uma idéia, a produção de apenas 0,3% do plástico usado no Brasil usa 250 quilômetros quadrados de área cultivável de cana-de-açúcar.
Onde se vai plantar tanta cana? Nonato diz que não será necessário desmatar nenhuma floresta: “no território brasileiro, apenas 7% da área total é utilizada pela agricultura, enquanto 40% é pastagem e 53% de florestas. Desta forma, mesmo com toda a demanda de plástico é possível plantar cana de modo ecologicamente responsável”. O representante sugere que as áreas de pastagem, ou improdutivas, sejam usadas para o plantio do vegetal.
Esse espaço necessário para o cultivo da cana aumenta ainda mais se considerarmos a sazonalidade do vegetal. Cana não dá o ano todo. Isso também requer um parque industrial com grande capacidade de armazenamento, para que o plástico possa ser produzido continuamente.
O plástico
Segundo os pesquisadores do IPT, a decomposição do plástico biodegradável é rápida. Um dos polímeros obtidos perdeu toda sua massa em 120 dias. É esperado que o material a ser comercializado leve entre um e cinco anos para se decompor, segundo uma das pesquisadoras do instituto, Luiziana Ferreira da Silva, que participou do simpósio. “O plástico leva esse tempo para se degradar em ambiente propício, como na terra ou na água, e não em cima da prateleira”, esclarece a microbiologista.
José Gregório Gómez, que também participa das pesquisas do IPT, salienta, em sessão: “Esse polímero não vai substituir o plástico, e sim atuar como uma alternativa”. O produto é diferente do encontrado nos recipientes disponíveis no mercado, mas pode se adaptar conforme a função. Ou seja, o plástico biodegradável não substitui um tipo de plástico, e sim algumas aplicações dos diversos tipos do produto.
(Por Felipe Santana, especial para o Ambiente Já, 24/07/2006)