No Ceará, 108 cidades podem ter crise no abastecimento até 2015
2006-07-20
Até 2015, 108 municípios cearenses com mais de cinco mil habitantes poderão apresentar níveis críticos na oferta dos recursos hídricos do Estado. A observação é feita no Atlas Nordeste, um estudo organizado pela Agência Nacional de Águas (ANA) sobre a situação da oferta hídrica nos nove estados nordestinos e parte de Minas Gerais e obtido com exclusividade pelo O POVO. Segundo a agência, o foco do estudo foi o de avaliar o grau de crescimento populacional, previsto para ultrapassar os 7 milhões de habitantes em 2015, e do incremento do uso da água na indústria e agricultura, de acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fortaleza, por exemplo, apresenta "nível crítico de sistema" para o abastecimento nesse período. Isto significa que podem ocorrer problemas na capacidade do Estado em levar água para a cidade, que podem se dar na captação, adução, ou no tratamento da água. Os municípios com problemas somente no sistema são os que estão em maior número, 80 no total. O número representa mais da metade dos municípios estudados pela agência nacional.
Já em cidades como Canindé e Alto Santo, a situação fica mais complicada porque os problemas existentes são tanto na forma de abastecimento - sistema - quanto na origem da água, o manancial, que pode ser um açude, rio ou poço. Um total de 23 municípios cearenses pode se encontrar neste estado, se não forem tomadas medidas preventivas, como a construção de adutoras, sugerida pelo trabalho. Outros cinco municípios são considerados "críticos" somente pelo manancial até 2015.
Uma outra parcela, que engloba 33 cidades cearenses, estará com oferta de recursos hídricos considerada satisfatória pela ANA, ou seja, atenderá à demanda do crescimento populacional. De acordo com o superintendente de planejamento de recursos hídricos da ANA, João Gilberto Lotufo, o objetivo do Atlas Nordeste foi apresentar um diagnóstico sobre a situação das cidades nordestinas sobre a oferta de água até 2025, para identificar possíveis conflitos sobre o uso das águas. "Para o estudo, o município deveria estar em um nível de abastecimento satisfatório até 2015", destaca.
Ele ressalta que o estudo do Atlas Nordeste não levou em conta questões políticas de estados ou divisões regionais, mas a apresentação de propostas de solução aos problemas identificados. "O objeto do nosso estudo envolve 1.110 municípios, com mais de 34 milhões de pessoas morando nestas áreas, o que corresponde a 24% da população do País", ressalta. "Muitas vezes, um prefeito ou político tem uma proposta, e aparece uma construtora com uma sugestão de obra. Nosso trabalho foi fazer com que se apresentasse um quadro para servir de referência na hora da liberação do recurso", completa.
Para Lotufo, apesar do grande número de municípios que no futuro podem apresentar problemas na oferta de água à população, o Ceará é um dos estados que melhor possui condições de reverter o quadro. "Pernambuco está em uma situação mais delicada, por exemplo. Conversamos com técnicos da área e o Ceará foi um dos locais que mais avançou na oferta de água da região", avalia.
(Por Marcos Cavalcante, O Povo, 19/07/2006)
http://www.opovo.com.br/opovo/ceara/613523.html