Realidade alternativa no G8 – editorial do NYT
2006-07-20
Problemas urgentes cercaram os líderes das oito nações mais importantes do mundo, quando se encontraram em São Petesburgo, Rússia, no começo da semana. Os preços de petróleo dispararam para US$70 o barril. A guerra se espalha no Oriente Médio. O Irã desviava respostas diretas sobre seu programa nuclear. E discussões comerciais quase entraram em colapso por conta de subsídios a fazendeiros ricos.
Não havia momento melhor para a reunião anual do G8 provar seu valor. Ao invés disso, mostrou o quanto essas reuniões se tornaram vergonhosas e sem sentido.
Não foi necessário um desastrado microfone aberto para mostrar o grande vácuo entre os comunicados da reunião de cúpula e a realidade política. O final de semana inteiro foi um mal-disfarçado exercício de evasão de questões importantes. O combustível desperdiçado no transporte dessas pessoas à São Petesburgo provavelmente pesou mais do que qualquer contribuição positiva para a segurança da energia global.
Na verdade, não houve nenhuma iniciativa sobre a questão, a qual deveria ser o tema central. Os líderes dos oito maiores consumidores de energia mundiais deveriam sugerir novas idéias para um mundo onde o petróleo está incrivelmente em demanda e incrivelmente caro. Deveriam ter feito mais para solucionar necessidades urgentes como tornar as linhas de fornecimento mais seguras, reduzir o consumo por meio de eficiência e en contrar alternativas aos combustíveis fósseis.
No Oriente Médio, expressaram superficialidades familiares e exibiram diferenças familiares entre Washington e Europa. O que devia empurrá-los para longe desses padrões familiares foi a alarmante habilidade de começarem conflitos internacionais, como os mostrados pelo Hezbollah e o Hamas. Será necessário mais do que um cessar-fogo para conter essa ameaça. Iremos precisar de um concerto internacional que mostre força econômica e diplomática.
Um pouco mais de consideração foi dada ao problema nuclear iraniano. A maioria dos países do G8 se uniram para elaborar uma proposta, agora considerada por Teerã, apoiada por uma ameaça de ação do Conselho de Segurança. Porém, o Irã parece não ter pressa alguma e ainda explora as diferenças internacionais. Os líderes deveriam trabalhar melhor em seus próximos passos.
AS hesitantes discussões comerciais aparentemente foram descartadas pelos líderes, já que nenhum pareceu disposto a desafiar os lobistas fazendeiros. Há muita coisa em risco se essas discussões falharem, o que significaria dar as costas para propostas feitas para a África e outras regiões pobres, cujas chances de desenvolvimento dependem do acesso justo à mercados agricultores. Sem tal desenvolvimento, lutar contra o terrorismo internacional ficará mais difícil - difícil também será ganhar concessões de mercado que os países ricos procuram para serviços da indústria e investimentos.
Foi embaraçoso para líderes ocidentais e japoneses fingirem que seu anfitrião, o Presidente Vladimir Putin, estava comprometido em tornar a Rússia uma democracia plena. Mas a vergonha valeria a pena se os líderes reunidos tivessem unido forças para desenvolver iniciativas conjuntas para solucionar problemas que dizem respeito a seus países e ao mundo. Talvez no ano que vem.
(The New York Times, 19/07/2006)
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