Para atender exigências do mercado, algumas das maiores indústrias de
alimentos e redes varejistas que atuam no Brasil já adotaram uma
política de não utilização de transgênicos. Essa é a principal
conclusão do “Relatório Brasileiro de Mercado: a Indústria de
Alimentos e os Transgênicos”, lançado ontem (18/07), pelo
Greenpeace no auditório da Apimec (Associação dos Analistas e
Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais), em São Paulo.
O estudo comprova que essa política traz resultados lucrativos, sem
implicar em dificuldades técnicas insuperáveis.
O documento, produzido por um jornalista independente e com prefácio
do Instituto Ethos, conta a experiência de 13 grandes empresas de
alimentos que adotaram uma política de não utilizar organismos
geneticamente modificados em seus produtos. O estudo se baseia no
depoimento de dez fabricantes de alimentos (Batavo, Brejeiro, Caramuru,
Ferrero, Imcopa, Josapar, Perdigão, Sadia, Sakura e Unilever) e três
redes varejistas (Carrefour, Pão de Açúcar e Sonae). Juntas, têm um
faturamento anual de mais de R$ 54,7 bilhões (levando-se em conta
apenas as que divulgaram seus dados financeiros).
Apesar da aprovação da Lei de Biossegurança ter aberto caminho para a
expansão da soja transgênica no Brasil, muitas companhias perceberam
que a produção e a comercialização de produtos sem organismos
geneticamente modificados poderia ser uma alternativa vantajosa,
inclusive no mercado externo.
É o caso da Caramuru Alimentos, a maior processadora de grãos de
capital nacional do Brasil, que investe, desde 2000, na produção e
exportação de derivados de soja não transgênicos (óleo, farelo e
lecitina) para o mercado europeu. A empresa também produz o primeiro e
único óleo de soja comprovadamente não-transgênico do mercado
brasileiro.
"Identificamos uma crescente demanda por produtos não-transgênicos e
adequamos nossa estrutura de produção para atender esse novo e mais
exigente mercado", diz César Borges de Souza, vice-presidente da
Caramuru Alimentos.
O exemplo da indústria de derivados de soja Imcopa é emblemático de
como a opção por produtos livres de organismos geneticamente
modificados pode transformar completamente, e para melhor, um negócio.
Em 1998, a empresa optou por trabalhar apenas com o grão convencional
e, em apenas sete anos, seu volume de soja processada aumentou oito
vezes.
“O principal benefício dessa política não-transgênica para a Imcopa é
sua atuação em nichos de mercado com amplo reconhecimento por parte de
seus clientes, notadamente aqueles localizados na Europa e na Ásia”,
afirma Luiz Antonio Regi, gerente do departamento de qualidade da
empresa.
O relatório mostra também que, apesar de ser difícil mensurar o
retorno de marketing ou imagem decorrente da adoção dessa prática,
nenhuma das empresas consultadas quis ter seu nome associado aos
produtos transgênicos e todas temem a rejeição dos consumidores. “As
indústrias e redes varejistas que adotam a política de não usar
transgênicos estão atentas à vontade do brasileiro”, diz Gabriela
Vuolo, da campanha de engenharia genética do Greenpeace.
“Pode ser difícil para algumas companhias calcular esse retorno em
valor monetário, mas elas sabem que, se optassem por usar
transgênicos, correriam o risco de perder clientes”, avalia. Desde
2002, quando o Greenpeace encomendou a primeira pesquisa sobre a
opinião dos consumidores brasileiros a respeito dos produtos
geneticamente modificados, o índice de rejeição aos transgênicos é
superior a 70%, tendo variado um ou dois pontos ao longo dos anos.
(Informações da Agência Estadual de Notícias do Paraná,
disponível em
Ecoagência, 18/07/2006)