O Projeto Pomar mostra que é possível mudar a paisagem de grandes cidades, trazendo de volta, em pouco tempo, o verde,
pássaros e até animais ameaçados de extinção, como a capivara.
Iniciado em dezembro de 1999, o trabalho já recuperou cerca de 14 quilômetros das duas margens do Rio Pinheiros, na cidade
de São Paulo, com o plantio de mais de 400 mil mudas de árvores e arbustos em áreas tomadas pelo capim, lixo e ratos.
Curiosamente, o Projeto Pomar não planta árvores frutíferas. A idéia inicial foi abandonada porque frutas atrairiam pessoas a
uma região com trânsito de alta velocidade e seria grande o risco de acidentes.
Segundo Helena Carrascosa von Glehn, diretora do Departamento de Projetos da Paisagem da Secretaria do Meio Ambiente
(SMA) de São Paulo e coordenadora do projeto, um dos pontos mais positivos da iniciativa é o apoio de cidadãos e de
empresas.
O trabalho vem sendo desenvolvido com o apoio de 18 grandes empresas, que assinam um termo de adesão voluntária, com o
compromisso de instalar o jardim e fazer sua manutenção pelo prazo de cinco anos. A maioria das empresas renova o
contrato. Elas não têm nenhum incentivo fiscal, podendo somente colocar pequenas placas de divulgação nas marginais, entre
outros out-doors.
A seleção de plantas para o projeto foi feita com apoio do Instituto de Botânica, levando em conta as condições desfavoráveis
para o plantio. As plantas escolhidas deveriam ser rústicas e ter boa adaptação a solos mal drenados, crescimento rápido e
folhas densas.
O jerivá, a árvore símbolo do projeto, é uma palmeira de porte médio e deu origem ao primeiro nome do rio Pinheiros. Índios da
tribo tupi-guarani chamavam o rio de Jeribatiba ou Jurubatuba, que significa "muitos jerivás".
A irrigação dos canteiros é feita com a água do próprio rio, tratada em duas usinas: uma fica na sede do projeto e outra, bem
maior, está situada junto à Usina de Traição. A secretaria fornece a água, mas não se responsabiliza pelo transporte.
Resíduos resultantes de podas de árvores e gramados formam compostos orgânicos que são utilizados na adubação de
canteiros. A alternância de várias espécies proporciona florações em todas as estações do ano.
Todos os resultados obtidos são registrados num banco de dados, que deverá orientar o desenvolvimento de outros projetos de
recuperação de áreas degradadas. Junto à sede operacional do Projeto Pomar, um Núcleo de Educação Ambiental recebe
cerca de 2 mil visitantes por mês, principalmente estudantes interessados na discussão de temas ligados à melhora da
qualidade de vida em ambientes urbanos.
O Projeto Pomar já recebeu duas importantes distinções: o Top de Ecologia, da ADVB; e o Prémio Ambientel von Martius,
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
(Por Valter Leite,
Gazeta Mercantil, 18/07/2006)