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2006-07-18
Os alertas sobre uma crise mundial por influência da falta de água em algumas regiões do planeta vêm acontecendo desde o final do século passado. Mas é em um momento de escassez de água, como o que vive a Metade Sul de nosso estado que isso fica mais evidente. Refletindo sobre o fato, faço algumas indagações e reflexões que contribuem para entender melhor o porquê desse problema que nos assombra. A água não seria a mesma desde a origem do planeta, sendo o seu volume total inalterável? Por que somente agora sentimos que essa quantidade não é suficiente para abastecer toda a população mundial? Mas quais os motivos que levariam esse recurso natural, até bem pouco tempo considerado infinito, a provocar uma crise mundial por sua falta? Para responder essas perguntas pretendo levantar alguns tópicos que venham a contribuir para melhor entender esse iminente problema.

O fato de apresentar um volume invariável deveria ter sido um alerta, pois a população humana vem crescendo de forma geométrica a cada década, o que representa uma demanda por água hoje muito maior do que há 50 anos, por exemplo. Associados a esse aumento da população temos todos os processos industriais, essenciais para dar origem aos bens de consumo tão indispensáveis à vida moderna, que necessitam de água para ocorrer. Grande parte da água usada nestas atividades não é reaproveitada, forçando ainda mais a exploração desse recurso natural indispensável à manutenção da vida.

Essa pressão cada vez maior em algumas regiões com alta concentração demográfica mostra que o bem natural, até bem pouco tempo considerado inesgotável, encontra-se em potencial escassez.

Numa visão ambiental, a cobertura vegetal - principalmente as florestas - responsável pela maior parte da liberação do vapor de água na atmosfera, vem sendo suprimida por atividades que visam à exploração da madeira, à abertura de novas áreas para utilização pelas atividades agropecuárias, para expansão das cidades etc. Perdendo as formações florestais naturais, os processos de retenção de água no solo e sua gradual liberação para a atmosfera e para os sistemas hídricos, são prejudicados. Temos com isso, um rápido escoamento das águas para rios e sistemas de drenagem, levando-as para regiões oceânicas de forma acelerada e diminuindo assim concentração de umidade sobre as superfícies continentais.

Temos ainda as influências do efeito estufa, que de alguma maneira vem interferindo no ritmo das chuvas e do clima em uma escala global. Gerando períodos de prolongada estiagem em alguns locais e grandes precipitações em outros. São observadas temperaturas extremas nos verões de alguns lugares, invernos mais amenos em outros e vice-versa. O aquecimento global pode atuar como um potencializador dos fenômenos climáticos. As mudanças climáticas são respostas às interferências negativas que o ambiente vem sofrendo e podem vir a dificultar a manutenção da vida na Terra.

A soma destes fatores provoca grande interferência no ciclo da água de algumas regiões e até mesmo do planeta, contribuindo com o quadro de desequilíbrio hídrico que a Terra vem passando. Somos, portanto, grandes, senão os maiores responsáveis pela alteração na distribuição da água no globo e suas conseqüências. Devemos mudar alguns hábitos, rever paradigmas e compreender, que no ritmo em que estamos explorando o nosso planeta, deixaremos uma herança negativa para as gerações futuras.
(Por Luciano Rodrigues Soares é bBiólogo, estudante de pós-graduação Manejo e Conservação da Biodiversidade - UCPel.
(Diário Popular, 18/07/2006)
http://www.diariopopular.com.br/

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