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2006-07-18
Debates sobre a geração de energia primária de forma sustentável e o risco de um novo "apagão" tiveram ontem lugar na 58ª reunião anual da SBPC, em Florianópolis.

O uso excessivo de fontes não-renováveis como petróleo, gás natural e carvão, resulta no aumento da temperatura média global, contribuindo para mudança de clima com efeitos potencialmente danosos para natureza. O Brasil figura na geografia mundial como um país que exibe grande oferta energética natural renovável, sobretudo para as modalidades de energia hidráulica, solar, eólica e biomassa. É o primeiro do mundo com recursos hídricos e o quarto em capacidade instalada, ficando atrás dos Estados Unidos, Canadá e China.

Porém, a hidroeletricidade também emite gases que contribuem para o efeito estufa, segundo dados apresentados pelo físico Luis Pinguelli Rosa, coordenador da Pós-graduação de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe), durante o simpósio Políticas Estratégicas para aproveitamento e geração de energia no Brasil, realizado no evento da SBPC. Outro problema das hidrelétricas é o alto custo de implantação das usinas e o forte impacto ambiental resultado da construção das mesmas.

Pinguelli alerta que o governo precisa pensar em alternativas para geração energia elétrica. "Não há problema quanto à energia combustível, em grande parte por causa da Petrobrás. Porém, podemos ter em breve uma nova crise na produção de energia elétrica."

Para ele, caso o Brasil cresça mais de 4% neste ano, corre o risco da oferta não suprir a demanda, e novamente vivermos um "apagão", como aconteceu em 2001 quando a país passou pela pior crise energética de sua história. "A política energética é falha por causa das más políticas governamentais. Não há política energética séria no Brasil, o dinheiro é mal administrado e o governo segue a lógica do mercado, sem qualquer estratégia".

Também participou do evento Sérgio Colle, do Laboratório de Engenharia de Processos e Tecnologia de Energia (Lepten) da Universidade Federal de Santa Catarina. Ele, assim como Pinguelli, argumentou que o Brasil precisa investir em tecnologias de fontes alternativas de geração de energia, como energia solar e eólica, e aumentar o uso de biomassa – álcool, bagaço de cana e biodiesel.

O custo da implantação tecnológica de fontes alternativas é alto, argumenta Colle, mas o desafio do Brasil é tornar esta tecnologia competitiva no mercado global. Para ele, isso ainda não acontece por não haver planejamento sério no setor por parte do governo. "Nos últimos 12 anos, nenhuma iniciativa do Governo Federal foi tomada para promover o desenvolvimento de tecnologia solar para aplicações em domicílios, por exemplo. Aqui financiamos circunstancias, não há planejamento."

Um problema apontado no atual uso das tecnologias renováveis no país é o da falta de tecnologia própria que se adapte às condições climáticas locais. "Na China, Israel e Austrália há tecnologia de ponta para geração de energia solar. Mas não podemos importar essa tecnologia, já que cada país apresenta suas próprias necessidades", relata Colle.

As fontes renováveis de energia, além de caras, dependem de fatores climáticos e por isso sua eficiência é incerta. Conforme argumentam os pesquisadores, o governo deve investir em pesquisas para que o país esteja na vanguarda tecnológica desse setor e crie alternativas para os problemas apresentados.

“O uso de fontes alternativas corresponde a apenas 11% do total no mundo, segundo dados da International Energy Agency (IEA). Com as crises geopolíticas em torno do petróleo (Oriente Médio, Venezuela) e do gás natural (Ucrânia e Bolívia), o crescimento de demanda de energia da China, e questões ambientais como o efeito estufa, este número tende a crescer", argumenta Luiz Pinguelli Rosa. "Se houver planejamento, o Brasil pode alcançar estabilidade neste setor devido ao vasto potencial natural".
(Por Heitor Cardoso, especial para o Ambiente Já, 18/07/2006)

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