Bancos usam poder de fogo para incentivar empresas a respeitar o meio ambiente
2006-07-18
Quando um bando de pássaros consegue interferir na liberação dos
recursos de um projeto de R$ 670 milhões, é sinal de que algo está
realmente em transformação no mundo das finanças. Foi exatamente o que
aconteceu na construção do parque eólico Ventos do Sul, inaugurado no
final de junho em Osório, no Rio Grande do Sul. Os estudos sobre o
impacto ambiental da obra indicaram que os aerogeradores seriam
instalados em plena rota de migração de aves. O Banco do Brasil só
liberou a sua parte – R$ 100 milhões – quando as hélices mudaram de
local para garantir a passagem segura das andorinhas e dos bem-te-vis.
Não se trata de um caso isolado. Outros bancos, como Bradesco e Itaú,
têm utilizado critérios socioambientais para financiar projetos de
grande impacto nas comunidades onde são instalados. Questões como
poluição, preservação da biodiversidade, segurança e saúde de
trabalhadores e habitantes em volta dos empreendimentos são essenciais
para a concessão – ou não – dos recursos. Não há dinheiro, por
exemplo, para quem polui ou contrata mão-de-obra infantil. Banco do
Brasil, Bradesco e Itaú seguiram a trilha aberta pelo Banco Real, um
dos primeiros a adotar políticas de respeito à natureza e à sociedade
em suas linhas de crédito e investimentos. No início de julho, eles
também aderiram à segunda versão dos Princípios do Equador, um conjunto
de normas elaboradas por um grupo de bancos em conjunto com a
International Finance Corporation, do Banco Mundial.
O documento que agora entra em vigor é uma evolução da primeira versão
dos Princípios do Equador, de junho de 2003. O número de signatários
subiu de dez para 40 bancos e as exigências devem atingir um número
maior de empresas: projetos com custo total a partir de US$ 10 milhões
(R$ 22,1 milhões) serão submetidos ao crivo socioambiental. Antes, as
exigências começavam a partir de US$ 50 milhões. “As empresas que não
ligavam muito para as questões ambientais vão ter de se preocupar. Caso
contrário, não conseguirão financiamento”, diz Maria Estela de Campos,
gerente de projetos do banco de investimentos Itaú-BBA, do Grupo
Itaú.
Somente o Itaú tem dez projetos, avaliados em R$ 5 bilhões, sujeitos
aos Princípios do Equador. Em 2005, o Real analisou 15 projetos que
somaram R$ 2,85 bilhões. Entre eles havia usinas hidrelétricas e
eólicas, linhas de transmissão, gasodutos e projetos imobiliários.
Dois foram reprovados: um por não cumprir os critérios ambientais e
outro porque parte da comunidade afetada não concordava com sua
construção. Recentemente, o ABN Amro negou-se a financiar novos
projetos de empresas envolvidas com a extração ilegal de madeira. No
HSBC, cuja matriz na Inglaterra aderiu ao acordo, sete pedidos de
crédito foram negados no ano passado.
Além de seguir políticas responsáveis na concessão de empréstimos, os
bancos mais engajados comprometem-se a seguir os Princípios do Equador
quando auxiliam as empresas a captar recursos no mercado de capitais
com o lançamento de ações ou debêntures. “Os novos parâmetros trazem
um cuidado maior com a transparência e a minimização dos riscos desde
o início dos projetos”, afirma Domingos Figueiredo de Abreu, diretor
executivo do Bradesco.
Para os bancos, além de cultivar uma boa imagem pública, essas
políticas reduzem os riscos de prejuízos com ações referentes a
eventuais danos ambientais provocados por seus clientes. Nos EUA, a
“onda verde” surgiu no final da década de 1990, quando o Fleet (antigo
proprietário do BankBoston) foi penalizado por ter emprestado recursos
a uma companhia que despejava poluentes num rio próximo à cidade de
Boston. Hoje, os ambientalistas querem ampliar ainda mais o alcance
das políticas preventivas. “Todos os tipos de empréstimos deveriam
obedecer a diretrizes de respeito à natureza e à comunidade”, defende
Alexandre Prado, gerente da ONG Conservação Internacional.
(Por Fernando F. Kadaoka e Julio Wiziack, IstoÉ, 19/07/2006)
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