A gigantesca Amazônia está longe de ser uma floresta homogênea. Muito pelo contrário. Um dos recentes resultados gerados pelo Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA) revelou até que árvores da região de Santarém, no Pará, desenvolveram um tipo de adaptação encontrado em plantas que vivem em zonas áridas, sem quantidade muito grande de água.
Os pesquisadores descobriram que determinadas espécies da região desenvolveram raízes pivotantes (principais) para captar água a até 10 metros de profundidade. Essa espécie de elevador hídrico funciona apenas à noite, quando o líquido é retirado do solo e armazenado nas raízes laterais, que ficam em uma profundidade bem menor. Durante o dia, a água é toda utilizada na fisiologia do vegetal.
“Isso mostra que a interação entre vegetação e clima ocorre também em fenômenos locais. Essa adaptação se desenvolveu porque naquela área em específico existe uma estação seca freqüente”, explica Carlos Nobre, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do LBA, em sessão, ontem (17/07), na 58ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Florianópolis.
Segundo Nobre, o caso das raízes gigantes de Santarém é apenas um dos milhares descobertos pelo LBA. O programa, que tenta responder, por exemplo, se a floresta é uma fonte ou um sumidouro de carbono – as duas hipóteses ainda não podem ser descartadas –, existe há quase dez anos e tem um balanço bem positivo.
“Podemos dizer que, nessa década, a comunidade de pesquisadores na Amazônia saiu da casa dos 20 e chegou a cerca de 200. Foram gerados 1.123 trabalhos científicos dos mais variados tipos. Desse total, 41% liderados por brasileiros”, disse Nobre.
Para o pesquisador do Inpe, os números não deixam dúvida de que é possível fazer experimentos internacionais e utilizar a competência que vem de fora para fazer crescer a ciência nacional. “Uma das críticas feitas no início do LBA é que ele seria um experimento apenas para os estrangeiros. Não foi isso que ocorreu, muito pelo contrário”, disse.
Apesar de os resultados serem considerados excelentes, Nobre não se omite de apontar um dos problemas vividos no dia-a-dia desse grande programa interdisciplinar. “Conseguimos gerar muito conhecimento de qualidade dentro das várias áreas das ciências naturais. Mas, sem dúvida, uma das dificuldades foi relacionar tudo isso com as ciências sociais”, disse.
Para o pesquisador brasileiro, pouco se conseguiu fazer, de forma geral, para a sustentabilidade da Amazônia. “Isso passa necessariamente por políticas públicas, por questões essencialmente sociais. A interação entre essas duas ciências é muito difícil. Os métodos são diferentes e as linguagens também”, disse.
(Por Eduardo Geraque,
Agência Fapesp, 18/07/2006)