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2006-07-18
Foi uma cerimônia incomum. Às 8h55 de domingo (16/7) em Manaus (9h55 em Brasília), o patriarca Bartolomeu 1º desceu de uma lancha do navio Iberostar Grand Amazon para a balsa Lady Irene, ancorada no encontro das águas dos rios Solimões e Negro, que formam o Amazonas. Com ele, religiosos de quatro confissões cristãs (ortodoxos gregos, católicos, luteranos e anglicanos) e líderes de três etnias indígenas (baniua, tucano e dessana). Todos estavam ali para abençoar as águas amazônicas, em celebração ecumênica pela natureza.

A platéia era formada por uma dúzia de iates alugados para acomodar participantes do Simpósio "Amazonas, Fonte de Vida", organizado pela Igreja Ortodoxa Grega e pela ONG Religião, Ciência e Ambiente.

Ao redor do barco "Zona Franca Verde", do governo estadual do Amazonas, embarcações militares, jet skis do corpo de bombeiros e lanchas de turistas. Um helicóptero de TV rodeava a cena, e atrapalhava a transmissão da cerimônia pelos alto-falantes.

Chamado a falar em primeiro lugar, Bartolomeu disse apenas que nada havia a explicar, porque a celebração se desenrolaria perante os olhos de todos.

A palavra foi dada então ao pajé Raimundo, da etnia dessana, que se desculpou por "não pronunciar direito o português". Durante cerca de meia hora, ele e outros índios cantaram e falaram, além de queimar ervas numa cuia ritual, para purificar as águas, sob a atenção reverente dos líderes religiosos, entre eles dom Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil. "Nossa vida indígena é muito principal", explicou Raimundo. "Nossos antepassados eram encantados."

O papel de protagonistas oferecido aos índios na cerimônia decorre de uma das idéias que norteia o simpósio, a de que eles guardam uma relação de respeito com a natureza que a tradição judaico-cristã teria perdido. Na quinta-feira, primeiro dia do evento, a noção havia recebido formulação teológica pelo metropolita ortodoxo João de Pérgamo.

Ele havia sugerido a necessidade de reunir esse respeito (sem o temor da natureza característico do "paganismo") com a ciência ocidental (que teria abandonado o medo, mas perdendo também o respeito).

Para ele, essa é a fonte da crise ecológica global de hoje.

Ao abençoar as águas amazônicas, o patriarca disse (usando o inglês): "A destruição ecológica é um pecado contra Deus e a criação". Afirmou ainda que ela representava um problema social e econômico: "Conservação e compaixão estão profundamente conectadas". Dom Geraldo Majella Agnelo leu em seguida o salmo de número 136: "Dai graças ao Senhor dos senhores, porque a sua benignidade dura para sempre; ao único que faz grandes maravilhas (...); àquele que com entendimento fez os céus (...); àquele que estendeu a terra sobre as águas, porque a sua benignidade dura para sempre".

Bartolomeu 1º ofertou então um ícone ortodoxo - com Nossa Senhora e o Menino Jesus junto a uma fonte, representando a santidade da água - ao arcebispo de Manaus, dom Luiz Soares Vieira. Sugeriu que fosse exibido na catedral. Momentos antes, o representante do governo do Amazonas havia repetido palavras do governador Eduardo Braga: a partir de agora, Bartolomeu 1º, já apelidado de "patriarca verde", ficaria conhecido também como o "patriarca da Amazônia".
(Por Marcelo Leite, Folha de S.Paulo, 17/07/2006)
http://www1.folha.uol.com.br/folha/ciencia/ult306u14858.shtml

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