Romeiros vão a Bom Jesus da Lapa reivindicar revitalização do Rio São Francisco
2006-07-18
Cerca de seis mil romeiros participaram, neste fim de semana, da 29ª Romaria da Terra e das Águas, em Bom Jesus da Lapa, um dos principais centros de peregrinação, localizado na Bahia. As manifestações, que começaram na sexta-feira (14/7), tiveram como tema central a indagação "São Francisco Vivo. Como evitar a total destruição de um rio agonizante! O que fazer para revitalizá-lo?".
A Romaria tem a particularidade de não se restringir à caminhada. Divididos em subgrupos temáticos (juventude, agricultores, pescadores, quilombos, trabalho escravo e políticas públicas), os participantes debateram diversos assuntos ligados ao tema central. No encerramento, houve uma caminhada em direção ao Rio São Francisco, com celebração da via sacra. Um jovem, representando o santo padroeiro da ecologia e que dá nome ao rio, pronunciou o decreto de preservação do São Francisco, que condena a transposição.
“Os movimentos sociais e a Igreja levantaram a bandeira da revitalização do São Francisco. Precisamos proporcionar um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, em vez de dar mais um uso para o Rio São Francisco, com a transposição, sobrecarregando o rio agonizante, como se ele fosse um bem inesgotável para o desenvolvimento do capitalismo”, defendeu o coordenador do Projeto São Francisco da Comissão Pastoral da Terra, Ruben Siqueira.
Embora seja favorável ao projeto de revitalização elaborado pelo Ministério da Integração Nacional, Ruben considera que ele seja “cereja do bolo da transposição”. Segundo ele, foi preciso forte pressão da sociedade para que a revitalização fosse incorporada ao projeto de transposição. ”A prova disso é que no ano passado o governo destinou R$ 500 milhões para a transposição, dos quais apenas R$ 100 milhões vão para a revitalização”, reclama. “O saneamento que hoje é o principal objetivo do projeto de revitalização ainda anda a passos de tartaruga, enquanto a transposição só não começou porque há um embargo da justiça”, diz.
Domingo (16/7), também houve a 9ª Romaria da Terra do Maranhão, no município de Zé Doca. O tema foi “os grandes projetos que desmatam e matam”. Já em Ribeirão Cascalheira, no Mato Grosso, a Romaria dos Mártires da Caminhada lembrou a morte do padre João Bosco Burnier, jesuíta assassinado há 30 anos.
Era o dia 11 de outubro de 1976 quando o padre Burnier, juntamente com o bispo da região, Dom Pedro Casaldáliga, foi à Delegacia intervir contra a duas mulheres presas. Durante a visita, um soldado atirou na cabeça do padre, que morreu no dia seguinte. Casaldáliga participou da Romaria, no Santuário dos Mártires da Caminhada, construído próximo ao local do assassinato.
(Por Edla Lula, Agência Brasil, 17/07/2006)
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2006/07/16/materia.2006-07-16.7638512966