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2006-07-18
O Departamento de Física da Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com o Departamento de Química da Universidade de Brasília (UNB) estão desenvolvendo plásticos que emitem e absorvem luz a partir de um fruto típico da região Amazônica: o buriti.

O trabalho, que na UFPA é coordenado pelo professor Sanclayton Moreira, conseguiu adicionar o óleo de buriti a dois tipos de plásticos (o poliestireno e ao polimetacrilato de metila), os mesmos materiais que compõem os copos plásticos e lentes de óculos escuros, por exemplo, conferindo a essas últimas um fator de proteção natural aos raios ultravioletas (UVA/UVB). O tema da pesquisa já rendeu duas dissertações de mestrado e uma tese de doutorado em fase de elaboração.

A idéia de usar o óleo de buriti como componente dos plásticos surgiu por suas propriedades ópticas de absorver luz visível e na faixa do ultravioleta. “Ao misturar o óleo ao plástico, algumas propriedades dele se incorporaram ao plástico. Nesse caso, o filtro solar natural. O óleo de buriti, sozinho, absorve o raio UV, e a pele fica protegida. No plástico, em microgotas, criam essa mesma barreira. Ele absorve a luz e a transforma em luz verde, um efeito conhecido na Física como fotoluminescência. Ele acaba sendo um sensor, um detector do ultravioleta”, explica.

O betacaroteno e o ácido oléico são as substâncias contidas no buriti com essas propriedades ópticas. Mas as pesquisas não se restringiram ao fruto. Outros óleos vegetais, como andiroba, copaíba, dendê e babaçu, também foram testados, mas nenhum deu resposta tão interessante no item proteção solar. O pedido de patente da pesquisa foi registrado no Instituto Nacional da Propriedade Industrial em Brasília, com o título “Preparação de compósitos fotoprotetores e fotoluminescentes a partir da modificação de poliestireno e poli (metacrilato) com óleo de buriti”, que deverá render royalties no futuro aos pesquisadores e às instituições de ensino.

Poderá ser usado em películas
Segundo Sanclayton Moreira, a maioria das películas de carros e óculos escuros não tem proteção UVA/UVB. Se produzidos com o plástico de buriti, conseguirão absorver a luz e dar um conforto maior à visão. “Estarão 100% protegidos”, garante. “Os óculos com proteção UVA/UVB, por exemplo, estão para os olhos como o filtro solar está para a nossa pele. É um item de proteção importantíssimo”, salientou o oftalmologista Orlando Melo. “Hoje o nosso apoio para a pesquisa é razoável. Temos no nosso laboratório R$ 800 mil investidos em equipamentos nos últimos três anos. Algumas empresas de cosméticos estão interessadas em conhecer as propriedades dos óleos vegetais que não é só deixar a pele macia. Durante uma semana debruçados nessa pesquisa, vimos que o óleo de buriti era transparente para luz vermelha e impedia a verde passar, isso foi o que nos estimulou a continuar a pesquisa”, justificou.

Produto pode beneficiar alta tecnologia
Um filão a ser explorado pelos pesquisadores é o uso do plásticos de buriti na composição de LEDs (diodos emissores de luz), peças comuns em computadores, celulares, semáforos etc. Eles emitem luz por transição eletrônica. Os LEDs produzidos nos Estados Unidos são inorgânicos e feitos com materiais que envolvem alta tecnologia e semicondutores. Já um LED de plástico de buriti será orgânico e de baixo custo. “Esse será um desdobramento da nossa pesquisa. Poderemos colocar o plástico num campo elétrico para acender com poucos volts. O óleo de buriti está na nossa região, porém não industrializado, mas é uma tecnologia de baixo custo”, afirmou Moreira.

O E-Paper, uma grande novidade tecnológica, também poderá se render ao novo produto. O Eletronic Paper é um dispositivo eletrônico que se parece com uma folha de papel, utilizado para ler textos carregados na memória. O plástico de buriti é um excelente candidato a ser essa “folha de papel”. “O composto dessa folha do E-Paper é material flexível e que emite luz, assim como a resultado da nossa pesquisa”, comentou.
(Por Fabiola Batista, Diário do Pará, 17/07/2006)
http://www.diariodopara.com.br/

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